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Minas tem 2 mil leitos em hospitais inacabados

Estado possui 16 unidades médicas com obras atrasadas ou paralisadas que poderiam aliviar atendimento na pandemia do coronavírus

Recursos de R$ 1 bilhão da União e do estado de Minas Gerais poderiam ter sido revertidos em 11 hospitais, dois centros de saúde e três estruturas de suporte a unidades hospitalares capazes de reforçar os mineiros contra a pandemia da COVID-19. São unidades identificadas pela reportagem do Estado de Minas em levantamentos dos tribunais de Contas da União (TCU) e do Estado (TCE), que tiveram obras paralisadas ou atrasadas, algumas de 2010, outras deste ano, e que seriam capazes de fornecer ao menos mais 2.030 leitos a pacientes (veja a lista). Desses, 309 acomodações de terapia intensiva para os infectados pelo novo coronavírus em estado mais crítico. Só os leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e de Centros de Terapia Intensiva (CTI) previstos representariam reforço de 11% na oferta de 2.795 atuais de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas. Parte dessas instalações foi ofertada pelo governo do estado em parcerias com a iniciativa privada, podendo resgatar um investimento que desfalca pacientes mineiros.

Levando-se em conta que os demais leitos podem ser adaptados, os 2.030 contidos em obras paralisadas ou atrasadas poderiam somar mais 73% da oferta atual, desafogando o acolhimento estadual. “São leitos que seriam muito bem-vindos. Mas quanto a isso não há dúvidas. Mesmo os leitos comuns não são muito problemáticos de ser isolados para servir aos  do-entes com a COVID-19. O principal seria treinar os funcionários. Isso é mais decisivo do que a própria arquitetura da unidade de saúde”, observa o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o médico Estevão Urbano Silva.
O principal para se adaptar os leitos comuns para que recebam os pacientes infectados pelo novo coronavírus, segundo Estevão Urbano Silva, seria providenciar condições de higienização ao pessoal do atendimento e aos pacientes. “Os leitos precisam ter espaçamento mínimo de 1,5 metro a 2m entre uma cama e outra, sendo prioridade os apartamentos de um único leito. Mas o principal é prover muita  condição de higienização das mãos, com pias e álcool em gel. A ventilação dos quartos é importante, com janelas abertas que diminuem a dispersão dos vírus”, observa.
Regiões que sofrem com muitos casos, demandando exames e que ainda estão sujeitas a uma escalada exponencial de casos, poderiam ter essa retaguarda não fosse a morosidade e os desvios de verbas que culminaram na paralisação de obras de grandes hospitais.
Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, o Hospital Regional da cidade parou com 56,44% de conclusão, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Só no município, de 569 mil habitantes, há 73 casos de COVID-19 sendo investigados, sendo que oito pacientes foram diagnosticados positivamente. Mas os 226 leitos do Hospital Regional, dos quais 50 seriam de terapia intensiva, poderiam reforçar toda a área da região de saúde em que Juiz de Fora está incluída, que reúne 1,7 milhão de pessoas. As obras foram iniciadas em 20 de outubro de 2010 pela administração municipal e, depois de sucessivas paralisações, fo- ram abandonadas em fevereiro de 2017.

Outro caso, mas em que o abandono se deu pela administração estadual, é o Hospital Regional de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. O município de 280 mil habitantes, que já identificou 63 casos suspeitos da COVID-19, deveria ter recebido uma unidade que disporia de 226 leitos, sendo 40 UTIs e 10 leitos e semi-intensivos, possibilidade de expansões futuras e um heliponto para o trânsito de pacientes críticos. As obras foram iniciadas em 2013, mas pararam em 2016, deixando 69% da estrutura concluída. A região de saúde onde a unidade poderia funcionar beneficiaria uma população de 1,5 milhão de habitantes de 86 municípios.

Outros casos

Os atrasos nas entregas de obras de estruturas hospitalares em Brasilândia de Minas, Nova Resende, Salinas, São Roque de Minas e Tapira são acompanhados pelos tribunais de Contas, que pressionam para que sejam realizadas e entregues à população. Já a conclusão dos 11 hospitais regionais em Além Paraíba, Conselheiro Lafaiete, Divinópolis, Governador Valadares, Juiz de Fora, Montes Claros, Nanuque, Novo Cruzeiro, Sete Lagoas e Teófilo Otoni necessitaria, segundo estimativa da SES-MG, de mais R$ 750.084.233,63.
Um grupo de trabalho foi instituído e em maio do ano passado foi lançada uma Tomada Pública de Subsídios (TPS), “para obter estudos e levantamentos que subsidiem a elaboração de modelos de negócios para a conclusão das obras e colocação em operação dos hospitais regionais do estado. Participaram do processo as secretarias de Planejamento e Gestão (Seplag) e de Transportes e Obras Públicas (Setop)”, segundo informações do governo estadual. (EM)

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