Belo Vale, conhecida como Terra da Mexerica, se destaca por ser o município com maior produção de tangerina ponkan do estado. Os pomares ocupam cerca de 10% da área do município, com aproximadamente 2 milhões de plantas. A atividade gera trabalho e renda para a grande maioria das famílias que estão de alguma forma envolvidas com a cultura.
Nesta ano a vultuosa safra de mexerica /tangerina ponkan 2020 está sendo colhida em meio a duas pandemias. A pandemia mundial do Coronavírus, com todas as suas consequências danosas, tem, no entanto, ajudado a fortalecer a importância da agricultura que continua suprindo a sociedade com alimentos na quantidade demandada. A citricultura – cultura das plantas do gênero Citrus, do qual fazem parte as mexericas, foi ainda mais valorizada devido as características nutricionais dos frutos que ajudam a aumentar a imunidade e fortalecer o organismo.
Já a quarentena e as restrições à movimentação social, com as consequências econômicas, tem gerado preocupação principalmente pelas incertezas de mercado no decorrer da safra. A produção de Belo Vale é historicamente mais valorizada no final do período de safra, a partir de meados de julho quando diminui a oferta em outras regiões do estado e a caixa de 20 kilos de tangerina ponka, é vendida preços maiores, em torno de R$ 20,00. Com a incerteza deste ano, os citricultores tem optado por garantir a venda e o lucro o mais rápido possível. Acontece que em muitos casos, com preço de venda menor, o lucro/retorno financeiro acaba não sendo o esperado e o planejado.
A atividade da colheita, que é realizada toda manualmente, fruta por fruta, (cerca de 300 milhões de frutas) envolve grande contingente de trabalhadores que se deslocam diariamente pelos diversos pomares do município. Alguns desses trabalhadores, como ‘panhadores’ e motoristas de caminhões, vem de outros estados e regiões do país. Para prevenir a contaminação com o coronavirus, as pessoas envolvidas devem tomar as medidas necessárias de distanciamento, higienização e uso de máscara. Mais uma vez os produtores e trabalhadores rurais fazem papel importantíssimo para a sociedade, se arriscando para que os frutos produzidos sejam disponibilizados nas bancas do mercado, para serem consumidos nas mais diversas regiões do Brasil onde são comercializados.
Outra epidemia sanitária que ocorre de forma preocupante é a doença Greening que ataca as plantas de citrus. Por ser restrita às plantas, esta doença fitossanitária não causa contaminação, problemas ou danos diretos aos humanos.
A doença greening é causada pelas bactérias Candidatus Liberibacter spp que se desenvolvem nos vasos condutores do floema (similar às nossas veias) causando diminuição da produção de frutos até à morte da planta que ocorre entre 3 a 5 anos após a contaminação. A doença não tem cura e as plantas doentes devem ser eliminadas para evitar que contaminem outras plantas. A contaminação ocorre através do inseto vetor psilídeo Diaphorina citri, uma pequena cigarrinha que mede de 2 a 3 mm de comprimento (tamanho de uma pulga).
A doença chegou em Belo Vale possivelmente através de mudas contaminadas que vieram de outra região do estado e atualmente se espalhou por todo o território. Atinge praticamente todos os cerca de mil pomares do município, desde os mais rudimentares até os mais tecnificados e àté plantas de ponkan da arborização urbana.
A tendência, que já vem sendo anunciada nesta safra, é a de queda abrupta na quantidade de plantas produtivas na maioria dos pomares. Aqueles mais tecnificados e com melhor controle da doença tendem a se manter produtivos por mais tempo, aproveitando o mercado que deve valorizar mais os frutos com a diminuição da oferta. Entretanto os custos de produção tendem a aumentar, diminuindo a margem de lucros.
Com ampla e crescente disseminação, a doença do greening pode ser considerada como uma pandemia Fitossanitária para Belo Vale, comprometendo a cultura da tangerina ponkan. Atividade que vem, há décadas, contribuindo fortemente para a economia do município. Nunca ouve na história de Belo Vale uma atividade econômica que gerasse tanta riqueza e que fosse tão bem distribuída.
A doença poderia ter sido melhor controlada ainda no seu início, de forma conjunta, principalmente com o controle rigoroso do inseto transmissor, a eliminação das plantas doentes e utilização de mudas sem a doença. Por fatores diversos, este controle para convivência com a doença, como acontece no estado de São Paulo, não foi possível em Belo Vale. O futuro da tangerina ponkan é incerto e vem causando preocupações aos envolvidos direta e indiretamente na atividade econômica.
É dentro desta (dura) realidade que reiteramos o reconhecimento e o respeito ao trabalho dos citricultores e também a importância da tangerina ponkan para a história de Belo Vale.
- Marcos Virgílio Ferreira de Rezende
- Engenheiro Agrônomo CREA-MG: 64.493/D
- Produção Integrada de Citros – MAPA
- Certificação Frutas – SEAPA
- Rastreabilidade e recall – FRUTAG
FOTOS de Querlei Ferreira