4 de maio de 2024 22:21

Lafaiete se despede de Trindade, a guerreira protagonista de filme de Rodrigo Meirelles

Está sendo velada neste momento em Lafaiete, Maria Trindade da Costa Vitória Rodrigues, conhecida como Trindade, morta aos 75 anos. O sepultamento ocorre ainda no final desta tarde (10), no Cemitério Nossa Senhora da Conceição, vítima de câncer raro.

Ela falece um em sua casa no Bairro Siderúrgico, em Lafaiete. Mais que um exemplo de vida, ela foi protagonista do filme “Trindade”, do cineasta lafaietense, Rodrigo Meireles, lançado em 2019.

Nesta semana, o curta-metragem foi selecionados pelo Cine-Baru – Mostra Sagarana de Cinema, o único selecionado da região Centro-Sul de Minas Gerais para participar da mostra.

Trindade e o cineasta Rodrigues Meireles em lançamento de curta/ARQUIVO

A história de vida

Logo cedo, Trindade entrou no mundo alcoolismo, influenciada pelo pai. Única mulher de uma família de 6 irmãos, ela ingressou, por força das circunstâncias, na prostituição.

Assim que perdeu a mãe, deixou a família e foi trabalhar em São Paulo como doméstica. Dos 9 filhos, hoje apenas dois estão vivos. O restante ela perdeu em função do alcoolismo e do abandono.

Trindade foi a primeira mulher lafaietense a ingressar no AA (Alcoólicos Anônimos) e lá desenvolve seu trabalho de tirar do vício tantas pessoas afundadas em paraísos artificiais em que a bebida provoca.

Em sua casa humilde, se passaram os mais de 30 minutos do curta. Os depoimentos nus e crus contam a vida da negra guerreira que viveu na pele o racismo e sentiu as chagas do preconceitos. Com as marcas da superação dos vales e tormentos pelos quais viveu ao longo dos seus 75 anos, Trindade é síntese de uma sociedade que marginaliza os negro, e ainda hoje insiste em excluí-los.

Netos, filhos, familiares de Trindade durante pré estreia juntos com colaboradores do curta/ARQUIVO

Trindade foi reflexiva e provocativa, quando expôs a sociedade machista, segregadora, patriarcal e esvocrata e hipócrita nas suas relações sociais.  Bem a seu estilo, de retratar figuras fora do padrão convencional e à “margem” da sociedade, os chamados outsider, desta vez o cineasta acertou em cheio em sua protagonista, principalmente neste contexto histórico político da atualidade brasileira.

Trindade deixou este mundo se eufemismos e sem mágoas. Por diversas vezes presa por desacato e brigas, sendo levada a cadeia. “Não gosto do anonimato”, assumiu em 2019, durante o lançamento do curta em Lafaiete, em outubro de 2019.

Viva Trindade!

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https://correiodeminas.com.br/filme-trindade-desnuda-a-vida-de-uma-mulher-negra-lafaietense-que-viveu-na-pele-o-racismo-e-superou-a-marginalizacao-e-foi-a-1a-mulher-do-aa/

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