De quem é a culpa pela alta da inflação: do governo ou do que acontece no mundo? De acordo com economistas ouvidos pelo UOL, ocorreu mesmo uma alta mundial no preço dos alimentos e do petróleo. Entretanto, a inflação poderia ser menor se o governo não tivesse contribuído com a valorização do dólar, e adotasse as medidas para diminuir o impacto da alta de preços no mundo.
Alimentos mais caros: quem é culpado pela alta da inflação?
Segundo um grupo de economistas, entre as medidas que o governo poderia ter adotado, estão o uso de estoques reguladores de alimentos, um fundo do petróleo para o setor de combustíveis. Bem como, a maior atuação no mercado de câmbio. Já outro grupo não concorda com essas medidas, já que seriam tentativas de manipular os preços de mercado de forma artificial, com efeito pouco duradouro.
Entretanto, os dois grupos de economistas ouvidos pelo UOL afirmam que, se houvesse menos incertezas sobre as políticas do atual governo, o dólar não teria subido tanto. E por tabela, a inflação seria menor. De acordo com Paulo Guedes, ministro da economia, a inflação está mais alta em todo o mundo. Entretanto…
Inflação subiu mais no Brasil
No Brasil, a alta da inflação foi maior. O IPCA saltou de 4,31%, em 2019, para 10,25%, no acumulado em 12 meses até o mês de setembro. Abaixo, veja os fatores da inflação no Brasil:
- Dólar: A inflação é puxada pelo dólar, que subiu 25% desde o início de março de 2020. E o dólar deixa mais caro tudo que tem o seu preço definido no mercado internacional, tais como os combustíveis;
- Combustíveis: Gasolina, o diesel e o etanol mais caros prejudicam outros preços, pois os transportes entram nas contas de custos de todos os setores da economia;
- Energia: A falta de água levou o governo a acionar as usinas térmicas, que custam mais caro que as hidrelétricas;
- Alimentos: Os alimentos que já estavam subindo de preços, sofreram outro impacto provocado pelas geadas, que prejudicou a produção de culturas.
O que o governo tinha que ter feito?
Para um grupo de economistas, a inflação é mais forte e mais resistente no Brasil. Em especial, por conta das incertezas sobre a política econômica do governo, bem como pela falta de ações concretas, para segurar a alta dos preços em alguns setores.
De acordo com Roberto Padovani, economistas chefe do banco BV, “A moeda brasileira está descolada dos fundamentos da nossa economia por causa das incertezas políticas. Faltam políticas públicas capazes de ancorar a confiança dos investidores, o que reduz a oferta de moeda estrangeira e mantém o dólar valorizado”.
Ademais, o ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, “O problema da inflação seria menos sério se o presidente fosse outro. Ele tem participação nisso”. Enquanto isso, Fausto Augusto Junior, diretor técnico do Dieese, “Por que o dólar subiu tanto? Tem a ver com os sinais que o governo brasileiro enviou aos investidores. Se não vem dólar para o Brasil, o dólar sobe e contamina toda economia”.
O que o governo ainda pode fazer?
Em suma, o governo pode parar de improvisar e melhorar a comunicação para reduzir a inflação. De acordo com os economistas, os fundamentos da economia do Brasil justificariam um dólar na casa de R$ 4,70, ao invés de R$ 5,50. Entretanto, as incertezas relacionadas ao compromisso do governo em não elevar os gastos, elevam o risco-país e afastam os investidores estrangeiros.
Ademais, o governo já deveria deixar claro qual é o seu plano para os gastos públicos, e para a inflação, não apenas para 2021, mas também para 2022. Como exemplo, os economistas citam o vai e vem do anúncio no novo auxílio às famílias, que nada mais são, do que projetos improvisados em Brasília.