28 de março de 2024 20:35

Não acabou: entenda 11 desafios da pandemia em 2022

Testes rápidos e caseiros deveriam ser mais comuns, dizem especialistas

Shows, festas e estádios de futebol lotados de pessoas sem máscara no segundo semestre de 2021 podem ter dado a impressão contrária, mas a verdade é que a pandemia não acabou e nem tem data para acabar. Desafios como ampliação da testagem, surgimento de novas variantes, cansaço da população e falhas na comunicação pública, na perspectiva de pesquisadores, podem prolongar a crise sanitária, com mais internações e mortes nos próximos meses. 

Neste mês, o mundo registrou recordes de novos casos e, em Belo Horizonte, os índices epidemiológicos voltaram a ultrapassar os níveis de alerta dia após dia. Com a variante ômicron já instalada no Brasil e em Minas Gerais e o rescaldo de festas de final de ano, especialistas ainda não sabem até quando a alta pode durar.  

Por ora, as atividades da capital mineira continuam funcionando e o governo do Estado também não fez alterações no programa Minas Consciente. “Com o avanço da vacinação, tivemos queda dos índices durante três meses consecutivos e isso deu uma sensação de que estávamos caminhando para o final da pandemia. As pessoas estão muito estafadas e estressadas, e isso tudo levou a um relaxamento total no ano passado, em dezembro, principalmente”, avalia o infectologista Unaí Tupinambás, membro do comitê de enfrentamento à pandemia da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).

Ele diz que, mesmo no cenário de 81,1% da população da cidade vacinados, ainda é possível que haja restrições de atividades caso internações e óbitos aumentem. “Temos que mudar o nosso parâmetro para tomar medidas mais drásticas, entendendo que essa medidas também têm efeito colateral. Se só os casos de Covid leve e moderada aumentarem, acredito que, talvez, não precisemos de medidas restritivas. Temos ferramentas para combater essa crise. Temos vacina, máscara, distanciamento físico”, completa.  

Na perspectiva do professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro do Observatório Covid-19 BR Roberto Kraenkel, a liberação de atividades nas cidades brasileiras deveria vir aliada a uma comunicação pública mais eficiente, que fosse além de somente “use máscara” e “evite aglomeração”. 

“Não se aglomerar não vale só para estádio, mas para uma casa com 20 pessoas na sala fechada, por exemplo. É importante falar de ventilação, de reuniões com menos pessoas, e isso não é feito, há um vazio de comunicação. As máscaras PFF2 deveriam ser distribuídas, deveríamos ter autoteste caseiro gratuito, tudo isso o governo já deveria ter feito”, conclui. 

Por ora, há motivos para esperança, enquanto a vacinação avança no país, mas é precoce mencionar o “fim da pandemia”, pondera o infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Renato Kfouri. “Ninguém nunca falou em fim da pandemia, estamos longe dele. Temos 200 mortes por dia, 4.000 mortes por mês. Nenhuma doença prevenível mata tanto assim e estamos entrando no pior momento da pandemia em termos do número de casos. Ela pode durar seis meses, um ano, dois”, diz. 

Sem fim à vista: desafios da pandemia em 2022

Testagem incompleta

Autotestes rápidos de Covid-19, que podem ser feitos em casa, são cada dia mais comuns nos EUA e na Europa, mas não são permitidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil. Grupos de pesquisadores como o Observatório Covid-19 BR militam para que a modalidade seja implementada no país. 

Encontro de epidemias

 “As epidemias de gripe não costumam durar mais do que quatro, seis semanas, mas doenças infecciosas não faltam no Brasil e pode, sim, haver sobrecarga do sistema de saúde”, pontua infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Renato Kfouri. Com a alta dos casos de gripe que varre o Brasil, enfermarias de Minas Gerais, por exemplo, ficaram lotadas. Para o final de fevereiro e março, espera-se alta de casos de arboviroses — dengue, zika e chikungunya. 

Cansaço da população

Cansada de restrições e ávida pelos encontros sociais — para os quais restam poucas restrições oficiais, atualmente —  falta entendimento à população sobre a gradação de riscos, analisa o professor Roberto Kraenkel. “É preciso haver comunicação sobre o que é mais e o que é menos arriscado fazer e sobre quais máscaras têm a melhor qualidade”, diz. Locais abertos e ventilados, como a área externa de um restaurante com mesas afastadas, por exemplo, são muito mais seguros que a área interna do bar.

Vacinação de crianças

No Brasil, 20,5 milhões com 5 a 11 anos acabam se ser incluídas no Plano Nacional de Imunizações (PNI), após aprovação da Anvisa ao uso da vacina da Pfizer. Ainda não há aprovação para os menores de 5 anos, embora, nesta semana, o Instituto Butantan tenha divulgado que a Coronavac é segura a partir dos seis meses. Em Minas, 81 crianças de menos de 12 anos morreram por Covid. 

Surgimento de novas variantes

Quanto mais pessoas se infectam, mais chances o vírus tem de desenvolver novas variantes – todas as vezes em que ele se replica no corpo de um paciente, é passível de sofrer mutações, que podem ou não torná-lo mais perigoso. Menos de dois meses após o descobrimento da variante ômicron, ela já dá mostras de que se tornará predominante. 

Distribuição global igualitária de vacinas

Sob a ameaça de novas variantes surgindo em locais com baixa cobertura vacinal, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já conclamou os países ricos a doarem imunizantes às nações mais pobres. Alguns esforços foram iniciados, como doações da Pfizer pelos Estados Unidos e o anúncio de 10 milhões de vacinas a ser doadas pelo Brasil, porém os empreendimentos ainda não atendem à toda a demanda. 

Tratamento da Covid longa

O Brasil tem 22 milhões de pessoas consideradas recuperadas da Covid-19. Por trás do número, porém, não há levantamento do Ministério da Saúde sobre a quantidade de pessoas com a chamada Covid longa, quando alguns sintomas persistem por semanas ou até meses após a doença. 

Fake news

Em 2022, o problema promete continuar. A vacinação de crianças de 5 a 11 anos, por exemplo, é atacada por grupos que afirmam que os pequenos são usados como “cobaias” para as vacinas, que já receberam aval da Anvisa e de órgãos internacionais de saúde. “Precisamos da maior porcentagem possível de vacinados. Quanto maior o número de elegíveis para a vacinação, menor o risco doe novas ondas e novas variantes”, diz o pediatra infectologista Renato Kfouri. 

Vigilância genômica

O acompanhamento da disseminação de novas variantes e o surgimento de outras cepas do coronavírus só é possível graças à vigilância genômica, o processo de sequenciamento genético de amostras do vírus para entender detalhes de sua estrutura. Em Minas Gerais, amostras são sequenciadas toda semana epidemiológica, segundo a SES-MG. Para especialistas, O ritmo precisa avançar em todo o país. 

Acesso a medicamentos

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, até agora, seis medicamentos específicos contra a Covid-19. A maior parte deles são anticorpos monologais, anticorpos produzidos em laboratório que têm alto custo por tratamento, e não foram incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS). O mais novo medicamento contra a Covid-19, o Paxlovid, desenvolvido pela Pfizer, ainda não foi aprovado pela Anvisa também não chegou ao sistema público de saúde. A esperança de especialistas é o surgimento de um medicamento barato e de fácil manuseio — um comprimido que possa ser tomado em casa, por exemplo.

Apagão de dados

Os dados atualizados do Ministério da Saúde sobre a pandemia estão fora do ar desde o início de dezembro, após um ataque cibernético, segundo o governo federal. Sem informações precisas sobre o desenrolar da crise, pesquisadores e governos se veem às cegas para interpretar e enfrentar o atual momento da crise sanitária. 

Fontes: pesquisadores Renato Kfouri, Roberto Kraenkel e Unaí Tupinambás. 

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