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Mais de 200 municípios mineiros disputam a fábrica da Heineken

Mais de 200 cidades mineiras e pelo menos três outros estados entraram na disputa para abrigar a nova fábrica da Heineken, depois de a cervejaria desistir de implantar um centro de produção em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), no fim do ano passado. A companhia se comprometeu com o governo estadual a manter o aporte em Minas Gerais e avalia minuciosamente as condições dos municípios que se candidataram. A expectativa é de que um novo local seja anunciado até o próximo mês.

Interlocutores das negociações apostam na construção da planta na própria RMBH ou no Triângulo Mineiro. A primeira, em função da localização da escolha original; a segunda, por se tratar de uma região muito competitiva, especialmente em relação à água e à topografia. Mas as opções são diversas. “Algumas (cidades) não fazem sentido, mas outras são muito qualificadas e estão em diferentes regiões (do Estado)”, disse uma fonte que pediu para não ser identificada.

“O Estado não está exercendo qualquer influência na escolha da empresa. E temos sido muito enfáticos ao deixar isso claro para as centenas de prefeitos e deputados que nos procuraram. Nosso papel é facilitar a interlocução com as prefeituras e disponibilizar para a empresa as melhores informações possíveis”, explica o diretor-presidente do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Invest Minas), João Paulo Braga.

Segundo ele, a Heineken chegou a disponibilizar um formulário aberto e on-line para que as prefeituras preenchessem e se candidatassem para receber a nova fábrica, fazendo com que as informações chegassem diretamente para a empresa.

Uma outra pessoa envolvida nas negociações destaca, porém, que nem a própria cervejaria esperava tamanho engajamento. Até o fim do ano passado, quase 230 cidades mineiras se disponibilizaram, oferecendo terreno e outros atributos. Além disso, três estados também chegaram a assediar a empresa, tentando atrair o aporte anunciado para Minas Gerais.

“Antes de decidir por Pedro Leopoldo, a Heineken também havia analisado outras localidades e a primeira medida da empresa foi retomar a análise desses municípios. Mas, além de alguns deles nem terem mais áreas disponíveis, a escolha passou a ser mais criteriosa. A equipe nacional não pode errar outra vez; a matriz está acompanhando de perto”, revela.

Agora, além dos critérios já antes estabelecidos, como uma área de 1,5 milhão de metros quadrados em topografia adequada, volume considerável de água e logística adequada, questões ambientais também serão primordiais. Sem contar a “corrida contra o tempo”. É que o grupo contava com a produção da fábrica mineira para atender à demanda crescente do mercado consumidor brasileiro já a partir do ano que vem.

“Eles precisam deste aumento de produção, pois não há capacidade produtiva para 2023. A fábrica sai do papel ainda neste ano. Por isso, também vai influenciar na escolha da localidade diferenciais como proximidade da água disponível, bem como terreno e acesso rodoviário menos demandantes de intervenções”, completa.

Até lá, o grupo vai investir na expansão da unidade de Ponta Grossa (Paraná), que será ampliada e terá capacidade de atender à demanda do mercado até 2023, quando a unidade de Pedro Leopoldo entraria em operação.

Instalação da  Heineken em Minas Gerais

A instalação da indústria em Pedro Leopoldo foi anunciada no final de 2020, com aportes girando em torno de R$ 1,8 bilhão. A informação da escolha do Estado para a implantação da  16ª unidade produtiva da marca no País foi antecipada com exclusividade pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO em fevereiro daquele ano. No entanto, poucos meses após o início da terraplanagem, em setembro do ano passado, as obras foram embargadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente –, em função de divergências com o órgão licenciador, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad). 

A justificativa apresentada pelo ICMBio para o embargo dizia que o empreendimento causaria danos a cavidades da Lapa Vermelha, área onde foi encontrado o fóssil humano mais antigo das Américas, conhecido como “Luzia”, e que há alto risco geológico no local, necessitando apresentação de Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) e anuência da Unidade de Conservação.

A companhia chegou a obter liminar para a construção da fábrica, mas alegando instabilidade de interpretação jurídica entre os órgãos estaduais e a entrada de outras pastas na discussão optou por suspender o projeto. “Pensando em como a Heineken se pauta na sua decisão sempre com valor, respeito e cuidados muito fortes, para a gente não faria sentido manter um projeto tão importante como este sem que o entendimento do entorno fosse de que aquilo geraria prosperidade para todos e não somente para a Heineken”, afirmou o diretor de Assuntos Corporativos do Grupo Heineken, Mauro Homem, na ocasião do anúncio da desistência.

“A equipe do ICMBio causou um dano irreparável para Pedro Leopoldo e talvez para Minas Gerais”, define uma fonte do governo do Estado.

Questionada sobre o elevado número de candidatas a abrigar a nova planta, a Heineken limitou-se a dizer que “reafirma seu compromisso com o estado de Minas Gerais” e que está “estudando outras áreas e, tão logo seja definido, anunciará o novo local em que será instalada sua cervejaria”.

Estado cria comitê para atração de parcerias

O Governo de Minas passou a contar, desde ontem, com o Comitê Gestor de Captação de Recursos e Parcerias (CGCRP). Instituído pelo Decreto nº 48.344/2022, publicado ontem, o comitê é coordenado pela Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) e tem como objetivo otimizar a gestão dos recursos públicos ou privados, por meio de planejamento e execução de atividades relativas à captação de recursos e atração de parcerias no âmbito do poder Executivo estadual.

Também integram o CGCRP a Secretaria-Geral e as secretarias de Estado de Fazenda (SEF/MG) e de Governo (Segov). A iniciativa busca promover o alinhamento governamental das estratégias de captação e gestão de recursos, bens, serviços e formalização de parcerias, além de atuar em ações de negociação ativa com outros setores interessados em contribuir com as políticas públicas realizadas pelo Estado, avançando no objetivo permanente de aprimorar a prestação de serviços para os cidadãos. 

“O Governo de Minas acredita que a atuação coordenada dos diversos atores proporciona a otimização dos recursos disponíveis, sejam eles de natureza pública ou privada. E acreditamos na atuação do setor privado como agente de transformação social. Neste sentido, buscamos fortalecer essas parcerias, tanto com atores nacionais quanto internacionais, de modo a atrair mais recursos para a execução de projetos e políticas públicas prioritárias”, reforça a secretária de Planejamento e Gestão, Luísa Barreto. (Agência Minas)


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