16 de julho de 2024 11:25

Erosão em pilha de rejeitos da AngloGold assusta moradores de distrito

A erosão em uma pilha de rejeitos da mineradora AngloGold Ashanti tem deixado moradores de Santa Bárbara, na região Central de Minas Gerais, em pânico. Eles temem o rompimento da estrutura. No entanto, a empresa e o governo do Estado asseguram a estabilidade e descartam a hipótese de que o pior aconteça. Mesmo diante dos posicionamentos, o medo ainda persiste. Especialista esclarece que isso ocorre pela “falta de credibilidade” dos órgãos junto à população.

O pânico se alastrou, principalmente no distrito de Brumal, após funcionários da mineradora terem sido retirados da área próxima da pilha Sapê, na mina Córrego do Sítio I. Na estrutura, conforme informado pela AngloGold, vem ocorrendo erosões decorrentes das fortes chuvas de dezembro de 2021 e do princípio de janeiro.

“A erosão permaneceu totalmente na área da empresa sem impactos aos cursos hídricos da região e às comunidades próximas. A estrutura contém material classificado como não-perigoso, de acordo com a norma técnica brasileira”, esclareceu em nota.

Uma vistoria aconteceu no local na última terça-feira (1º) por analistas do Núcleo de Emergência Ambiental (NEA) após denúncia de possibilidade do deslizamento do talude da pilha de rejeito. “Os técnicos da mineradora afirmaram ao NEA que não há riscos de rompimento da estrutura e que toda área atingida pelos rejeitos desprendidos das erosões se encontra na parte interna do empreendimento, o que foi confirmado pelos analistas que fizeram a vistoria”, afirmou a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). 

Quem mora em Brumal está tendo que lidar com o medo. A população do distrito mais antigo de Santa Bárbara teme que a estrutura não resista. “A situação é realmente perigosa e estou muito preocupado. O que me deixa estarrecido é que a AngloGold tomou providência em relação aos empregados dela, mas, com nós moradores não fez nada. Se não tivesse perigo, por que iriam retirar todos [os funcionários]?”, indaga um morador em anonimato.

A mineradora disse que “obras de reparo” estão sendo realizadas desde 10 de janeiro por técnicos e engenheiros da companhia. “De forma preventiva, para que as obras sejam feitas com o máximo de segurança e agilidade, neste período, algumas estruturas e empregados foram deslocados temporariamente já há mais de 10 dias”.

Na pilha de rejeito estão depositados materiais extraídos das rochas. “Choveu de outubro até agora e tudo que foi colocado lá ficou empapado. O material fino e instável começou a se desfazer e está indo para o rio. Se o deslizamento acontecer será uma avalanche. Tem que cuidar enquanto não acontece o pior. Vidas ninguém consegue devolver”, desabafa outra moradora de Brumal.

O governo de Minas determinou que a AngloGold encaminhe um relatório “contendo as informações preliminares dos trabalhos que estão sendo desenvolvidos e cronograma do projeto final e implantação” em um prazo de 15 dias.

Consequências

A estabilidade assegurada pelas autoridades não convence os moradores. Eles já olham no horizonte nada agradável as consequência que terão, caso a estrutura rompa. “O rejeito da pilha vai todo para o rio Conceição e ele pode transbordar. Se isso acontecer, cai no ribeirão Caraça onde é captada água que abastece Brumal e Santa Bárbara”, contam os moradores.

Além do abastecimento interrompido, a população ribeirinha também seria duramente afetada. “Tudo indica que o espalhamento da pilha alcança minha casa, pois ela está localizada nas proximidades do ribeirão Caraça. Depois dos acontecimentos recentes em Minas sobre barragens, nós que moramos perto de uma ficamos apreensivos. A situação é de apreensão”.

A AngloGold mantém um canal de comunicação com a comunidade pelo 0800 72 71 500. “Em caso de dúvidas, a empresa permanece sempre à disposição da comunidade pelo canal de relacionamento”, ressaltou a mineradora. 

A comunidade acionou o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que acionou a Feam e a Agência Nacional de Mineração (ANM). O último órgão informou que uma equipe de servidores da Divisão de Segurança da Gerência Regional da ANM em Minas Gerais foi deslocada imediatamente para o local com o objetivo de “apurar os fatos”.

“Trabalhos emergenciais de recuperação e reconformação dos taludes de pilha foram iniciados, afim de retornar a estrutura à sua geometria original, assim como a limpeza da drenagem da respectiva pilha que se encontrava assoreada. Cabe destacar que a pilha está devidamente licenciada para a capacidade de estocagem de 3,2 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério”, destacou a Feam.

Credibilidade perdida

A falta de confiança da população diante da estabilidade garantida pela AngloGold e pelo governo de Minas é explicada pelo professor do Departamento de Engenharia Hidráulica da Universidade Federal de Itajubá, Carlos Martinez. “Se a empresa retira os funcionários, os moradores ficam assustados e com razão. É por isso que o pessoal está amedrontado”, diz o especialista em barragens.

Martinez destaca outro ponto importante na relação entre moradores, mineradoras e órgãos. “Uma coisa séria que precisamos destacar é que as empresas estão perdendo credibilidade e as pessoas não acreditam no Estado. É um conjunto de fatos que vêm se somando. A população está vendo o material sendo carreado para o rio e fica com medo”.

Para a confiança ser recuperada, só existe uma forma, segundo Martinez. “Tem que fazer as coisas a tempo e a hora. Só que a população não confia, pois o Estado dá provas seguidas de não se preocupar com o povo”. O especialista tende a acreditar na análise feita pelo órgão estadual. “Acredito no que eles falam, mas se eu fosse morador sairia de casa”.

As obras, que segundo a empresa, estão sendo realizadas, de fato, precisam acontecer, segundo o especialista. “Terão que refazer o sistema de drenagem e recompor a pilha. As imagens mostram o processo erosivo sofrido pela pilha e o material carreado até o rio”, opina.

O especialista finaliza destacando que o período chuvoso foi determinante para tudo isso estar acontecendo. “Se fosse época de seca nada disso aconteceria. Houve uma falha no projeto de drenagem”. ( O Tempo)

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