O pai do menino de 8 anos que morreu após cair em um toboágua em Caldas Novas (GO) acredita que o parque não colocou sinalização eficaz para mostrar que o brinquedo estava em manutenção, e que as entradas estavam acessíveis para as crianças. Segundo Luciano Márcio Miranda, 43, o filho, Davi De Lucas Miranda, conhecia todas as instalações do diRoma Acqua Park, e a família frequentava o local há anos. Em entrevista ao UOL, Luciano explica que a família, que é de Conselheiro Lafaiete (MG), tinha acabado de chegar no hotel do grupo diRoma, que possui acesso ao parque aquático, quando ocorreu o acidente.
“O Davi conhecia o parque na palma da mão. Ele começou a ir para lá com oito meses. Foi a primeira viagem em família e desde então a gente ia todo ano. Dava sempre para ver onde ele estava e ele tinha noção de todo o parque”.
O acidente ocorreu logo após eles almoçarem e realizarem o check-in no hotel. “Eu falei para o Davi para irmos [ao parque] no dia seguinte, mas ele queria muito ir. Eu avisei que teríamos que ficar pouco tempo ele me disse: ‘Eu estou doido para ir no parque!’. Então fomos. Eu desci com o carrinho com o meu filho de 1 ano e ele. A minha mulher desceria logo em seguida”, relembra Miranda.
Miranda diz que, ao descer, o filho pediu para ir ao banheiro. “Eu disse para ele ir e voltar rápido, porque a mãe dele estava chegando”. No entanto, a criança não voltou. O pai decidiu sair para procurá-lo e, em determinado momento, uma funcionária começou a anunciá-lo no microfone. Só virei o carrinho e fui. Quando cheguei lá, estava uma multidão de pessoas, ambulância do SAMU. Comecei a me tremer todo”, disse o pai.
Ele diz que foi apenas nesse momento que ele descobriu que Davi tinha caído do toboágua. “Acho que ele pensou que a descida do vulcão iria estar próximo de onde eu estava esperando. Ele já era acostumado a descer o ‘vulcão’ [toboágua]. É uma atração típica. Tudo aconteceu muito rápido.” Miranda conta que o toboágua fica logo na entrada do parque e que ele não viu nenhuma sinalização avisando que o brinquedo estava interditado.
“Ninguém comunicou nada. Várias pessoas chegaram perto de mim e informaram que só estava com fitas, e não um bloqueio total. As entradas do toboágua não estavam bloqueadas. Não tinham nada: nem chapa, nem tábua. O lugar é muito movimentado e nenhuma pessoa para não entrar!.
O brinquedo possui quatro toboáguas que saem de uma mesma plataforma que fica no interior de uma estrutura que se assemelha a um vulcão. Ainda, de acordo com o pai, logo após o acidente, um funcionário do parque pediu para que ele assinasse uma folha em branco. “Eles disseram que iriam fazer um relatório depois sobre o acidente, mas eu estava em pânico e falei: ‘Peraí, tenham um pouco mais de respeito'”, diz ele.
Os familiares foram até o Hospital Municipal de Caldas Novas, onde Davi não resistiu aos ferimentos e acabou morrendo. “Eles tiraram a gente do local o mais rapidamente, arrumaram a funerária, o motorista. A intenção era tirar a gente. É tudo muito difícil. Eu não fui lá de graça, eu paguei pelo serviço prestado e não me deram a segurança.”
Miranda espera que o parque repense as medidas adotadas em relação à prevenção de acidentes. “Davi era muito comunicativo, educado. Gostava de conversar e ouvia as pessoas. Toda vez que eu chegava do trabalho vinha me dar um beijo”, diz ele.
“A dor que eu to sentindo agora não tem preço. Quero que eles repensem. Eles colocaram brinquedos radicais novos, acho que deveriam chamar especialistas para ver se está seguro. É inaceitável que um brinquedo em manutenção não tivesse um bloqueio total. O público-alvo do parque é criança e adolescente. Um clube tem que dar totalmente a segurança. Como deixaram uma criança entrar em um toboágua fechado, mas com as bocas abertas?”.
Laudo pericial
O UOL entrou em contato com o Grupo diRoma para um posicionamento a respeito da sinalização, e foi informado que a empresa só se manifestará após a conclusão do laudo pericial. Segundo o delegado Rodrigo Pereira, que investiga o caso, o laudo pericial deve ficar pronto nos próximos dias. O exame pericial de local de morte violenta e o exame cadavérico já foram realizados pela Polícia Técnico-Científica. A polícia deverá ouvir mais quatro pessoas ainda hoje e imagens do circuito de câmeras de monitoramento do local também já foram requisitadas e serão analisadas.
De acordo com Pereira, durante uma das oitivas, um representante do estabelecimento informou que, no local, havia tapumes de madeira e fita zebrada, além de placas para informar a manutenção do brinquedo. No entanto, não havia placas de advertência. Ontem, uma equipe especializada realizou perícia no toboágua e revelou que o garoto bateu em dois lugares antes de chegar ao chão. Segundo as informações divulgadas ao UOL, ele não se afogou e teve acesso a uma área mal isolada da atração. A causa da morte foi politraumatismo, e ele não tinha qualquer sinal de afogamento externo ou interno.
“Ele não sofreu uma queda livre, ele bateu em uma ripa de madeira e depois bateu em uma estrutura metálica antes [de chegar ao chão], de uma altura de 13,8 metros”, afirmou em conversa com o UOL a chefe da Polícia Científica de Caldas Novas, Kathia Mendes Magalhães. “Apesar de estar em reforma, o brinquedo estava mal isolado. Ele tinha o acesso facilitado, principalmente para uma criança. Mesmo com uma lateral isolada, nada impedia uma pessoa de entrar.” Em nota, a Polícia Civil informou que “dentro do prazo legal de 30 dias, envidará todos os esforços para aprofundar a investigação, com o objetivo de elucidar os fatos e comprovar a responsabilidade daqueles que tenham concorrido.