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18 Vendas, Botecos e Armazéns antigos em Minas

(Por Arnaldo Silva) A geração atual convive com grandes hipermercados, lojas de conveniências, bares sofisticados e shoppings. A geração anterior, vivia nos tempos dos antigos armazéns de Secos e Molhados, botequins e vendas de esquina. Embora antigos, são tradicionais e alguns resistem ao tempo e modernidade, estando presentes, mesmo que em menor número, em todas as cidades mineiras, inclusive na capital. 

As mercearias e armazéns tem praticamente o mesmo significado e funcionavam no mesmo lugar. Os armazém surgiram em Minas Gerais, nos tempos do Brasil Colônia. É um espaço amplo, onde eram armazenados produtos secos e molhados, para serem vendidos nas mercearias. Eram os armazéns que abasteciam as mercearias e em sua maioria, os armazéns também eram mercearias.(na foto acima de Pedro Beraldo/@ecotrilhasnacanastra, tradiconal boteco em São José do Barreiro, distrito de São Roque de Minas. Ao fundo, a Serra da Canastra)

No significado geral, mercearia era uma loja para venda das especiarias, bebidas, gêneros alimentícios e miudezas de uso doméstico, que ficavam armazenadas nos armazéns, garantindo assim estoque. As construções eram divididas. A frente era a mercearia e os fundos, o armazém, onde os estoques eram guardados. (na foto acima de Elpídio Justino de Andrade, um desses tradicionais armazéns, que também eram mercearias. É o Armazém 2 Irmãos, datado de 1854, em Faria Lemos MG, Zona da Mata)          

Eram lojas formais, presentes nos grandes distritos e cidades, que vendiam seus produtos em suas mercearias, bem como, para outras mercearias. Os armazéns eram comércios atacadistas e varejistas.         

Compravam e vendiam produtos oriundos das fazendas como feijão, arroz, manteiga, banha, fumo, palha para cigarro, linguiça, carnes, leite, doces, queijos, etc., e principalmente, de necessidades básicas que não eram fabricados nas cidades onde estavam estabelecidos, como sal, querosene, tecidos, linhas, agulhas, lamparinas, panelas, penicos, baldes, ferramentas, roupas, sapatos, chapéus, etc. Esses produtos chegavam às cidades pelos tropeiros ou mesmo, em carros de bois. Eram viagens longas, que levavam meses.         

Existiam também nas pequenas vilas e cidades, os botecos ou botequins, sendo estes muitos populares. A origem do boteco vem de botica, que literalmente, era uma caixa de madeira, tradicional em Portugal e introduzida no Brasil, nos tempos do Brasil Colônia. Nessa caixa de madeira eram colocados remédios e levados às cidades e vilas.         

Não existia na época remédios em cápsulas ou comprimidos. Eram medicamentos líquidos e colocados em vidros. No Brasil Colônia, as boticas eram levadas pelos mascates e tropeiros em carroças e carros de bois, cortando as estradas do nosso sertão.         

Com o crescimento dos povoados e cidades, foram surgindo lugares próprios para a venda desses remédios nas cidades, que passou a se chamar boticas. Sãos as antigas boticas, as precursoras das farmácias, de hoje.         

As boticas foram inspiração para surgir lugares para a venda de bebidas, não para curar as mazelas do povo, mas para vender as bebidas típicas das localidades em garrafas, como cachaça, vinhos, licores. Tempos depois, começaram a servir petiscos, como chouriço, linguiça, mandioca, torresmos, etc.         

Boteco ou Botequim são, literalmente, diminutivos de botica. Botecos em Minas são populares, hoje chamados de bares. Antigamente os botequins serviam de encontros entre boêmios, hoje, os bares são lugares de encontro, entre amigos e amigas.

Alguns botecos são tão populares, pitorescos e tradicionais que passaram a ser ponto de encontro de amigos, para conversar, beber um pouco, comer algo juntos, como por exemplo o Boteco do Arame, em Conceição do Ibitipoca, distrito de Lima Duarte na Zona da Mata, à esquerda da foto acima da Giseli Jorge. Se prestar atenção, a data de fundação do boteco está assim na placa: Desde 19 e 00 (bolinhas). Outro boteco famoso e charmoso em Conceição do Gisele, é este, na foto abaixo do Lucas Vieira, o Pão, Linguiça & Cia. Pela imagem, dá para perceber que é um lugar gostoso demais, bem no meio da charmosa Vila Colonial, porta de entrada para o Parque do Ibitipoca.

Já as vendas, mais populares e mais comuns que os botecos e armazéns, são um pouco dos dois. Surgiam aos montes nas esquinas das vilas e cidades e geralmente, faziam parte da casa dos donos. Os nomes das vendas eram geralmente associados aos nomes ou apelidos dos seus donos. Vendiam tudo o que era vendido nos armazéns, bem como, tudo que era vendidos nos botecos, por isso eram chamadas de vendas.

Embora cada dono de venda, organizava seu estabelecimento conforme o espaço que tinha, as vendas era bem parecidas. Eram de esquina, com 2, 3 ou 4 portas na frente, sem janelas, com estantes em madeira nas paredes, onde ficavam as bebidas e várias produtos e miudezas, um balcão de madeira com vidro, onde ficavam as guloseimas, caixotes, onde eram colocados os produtos a granel, como feijão e arroz, balança com pesos comparativos, sobre o balcão. Tinham algumas vendas com balanças mais modernas, como a Filizola.(na foto acima e abaixo de Arnaldo Silva, a Venda da Emília, no Arraial do Conto em Cordisburgo MG, região Central)

Sobre o balcão das vendas, nunca faltava baleiros, além de um monte de miudezas penduradas no teto e um rádio de pilha, sintonizado na rádio AM da cidade. Em algumas vendas tinha até radiolas e gravadores rodando fitas k-7, para os fregueses. Tinha também uns tamboretes e mesas rústicas, onde os amigos sentavam para prosear e tomar umas pingas e comer uns tira gostos caseiros. (na foto abaixo, de Arnaldo Silva, a Venda da Emília)

Mesmo com o espaço pequeno das vendas, nelas, cabia de tudo e dificilmente não se encontrava o que se procurava. Desde linha, agulha, carne de sol, discos de vinil, réstia de alho, xarope de groselha, colcha de chenile, fitas k-7, salame, bucha, fumo de rolo, manivela para pipa, vara de pescar, anzol, bacalhau, prego, bolinhas de gude, ratoeira, enxada, açúcar, ki-suco, picolé, pilhas para rádio, lâmpadas, arroz e feijão vendidos em granel, brinquedos, pratos, canecas, carrinho de mão, bules, raticidas, naftalina, gaiolas, doces, balas, sapatos, shampoo, banha de porco, lápis, borracha, linguiça, sal, querosene, lamparina, marmelada, baldes, trempe para fogão a lenha, esmalte, tachos de cobre, maria-chiquinha, sabão, pasta de dente, leite, queijo, farinha, fubá, panelas, penico, bacias, pão de sal, Folha Mariana, tabuada, café moído na cara do freguês e em algumas vendas, o café era também coado na cara do freguês, se ele preferisse. Era tudo bem embrulhado. (foto abaixo de Arnaldo Silva)

Poucas pessoas pagavam na hora. Tudo anotado numa caderneta, item por item. No início do mês, o freguês ia lá, sem falta, e pagava. A confiança e honestidade eram valiosos e todos faziam questão de honrar seus compromissos, com os donos das vendas. Ninguém se preocupava em vender fiado, sabiam que todos pagavam.

As vendas eram lugares para todos da família. Tinha de tudo para todos até para as crianças. Os baleiros eram o encanto da infância, tinha todas as balas que a criançada adorava. Dentro do balcão tinha tantas guloseimas, que os meninos, ao olharem, ficavam com os olhos brilhando. (a venda da foto acima fica na Chapada, distrito de Moema MG, Centro Oeste de Minas)         

As mulheres encontravam nas vendas utilidades para seu dia a dia, bem como para os cuidados da casa. Já os homens, eram os grandes frequentadores das vendas, isso porque, além de ter tudo o que precisavam para seu dia a dia, tinha também as pingas e os amigos, frequentadores da venda. Além da pinga, em algumas vendas, serviam tira gostos de torresmo com mandioca e os populares pão com salame e pão com linguiça frita. O que não faltava nas vendas era o xarope de groselha. Adoravam misturar pinga com groselha. (na foto abaixo do Deocleciano Mundim, o Bar do Baiano, local que serviu por muito tempo como rodoviária da cidade de Lagoa Formosa MG, Alto Paranaíba)

As fotos acima retratam bem como eram bem organizadas, pitorescas, nostálgicas e aconchegante as vendas antigas. Dá vontade de chegar e ficar. 

Diferente de hoje, com os mercados e grandes mercados, você entra, coloca tudo num carrinho, paga e vai embora. As vendas, eram lugares de amigos. Mesmo para comprar um ou dois itens, a ida às vendas, demora. Isso porque o bom de estar numa venda, é conversar com o dono e sua família e com os amigos, compadres e comadres, que lá estavam. O ambiente era totalmente familiar e os frequentadores, eram chamados de fregueses.         

No século XVIII, os pequenos povoados que surgiam, antes de serem elevados a distrito ou cidades, eram elevados a Freguesias. Quem morava numa freguesia, era chamado de freguês. Nessas freguesias, existiam, apenas um armazém de Secos e Molhados, que garantia o abastecimento da freguesia. Existiam várias vilas e distritos, mas eram bem distantes umas das outras, o que dificultava a ida a outras freguesias. Assim, os fregueses, só compravam nos armazéns de sua freguesia. Com o tempo, a palavra freguês se popularizou, como aquela pessoa que só comprava num determinado lugar, se mantendo sempre fiel, bem como uma tradição de comprar no mesmo lugar, que passava para gerações.       

Nas vendas, nem precisavam de dinheiro, bastava uma simples caderneta onde eram anotadas as compras dos fregueses. Quem era freguês de uma determinada venda, dificilmente comprava em outra. Isso porque, além de serem fregueses, mantinham laços de amizades, afinidades e respeito ao dono da venda, sendo esse o segredo da boa freguesia. Os fregueses não andavam de venda em venda. Iam direto nas vendas de sua freguesia. (na foto acima da Elvira Nascimento, a tradicional Venda do Chico em Ouro Preto, que funciona num casarão colonial, no Largo do Cinema).         

Hoje, com a modernidade dos grandes comércios, a palavra freguês passou a desuso, substituída pela palavra, cliente, que literalmente significa, comprador. É aquela pessoa que compra, independente do mercado, loja ou estabelecimento, sem ser fiel ou comprar exclusivamente, em determinado estabelecimento. E assim são vistos pela empresa, não como amigos, como nas antigas vendas, apenas como compradores.         

Apesar das facilidades e conforto da modernidade, em pleno século XXI, em muitas cidades mineiras, muitas das tradicionais vendas e antigos armazéns, ainda resistem ao tempo, da mesma forma que antes, sem nada mudar e ainda, vendendo fiado, com tudo anotado nas cadernetas. São lugares que nos faz voltar ao tempo e mesmo a geração atual, se emociona com a beleza rústica e poética das antigas vendas, botecos, mercearias e armazéns.           

Além das 8 vendas, armazéns e botecos citados acima, grifados em negrito, listamos mais 10 dessas preciosidades nostálgicas de nossa história, para vocês conhecerem, somando 18. Não estão numeradas, para não parecer estar em ordem de importância e sim, em ordem alfabética.

– Armazém São João em Bom Despacho         

Bom Despacho, no Centro Oeste de Minas, distante 150 km de Belo Horizonte, é uma cidade moderna, nos seus quase 300 anos de existência. Do passado antigo, restaram a tradição das antigas vendas, presentes nos povoados e vilas rurais, como no Engenho do Ribeiro, Garça e Passagem. São pequenas vendas e armazéns, que ainda resistem à modernidade e ao tempo.

O Armazém São João, popularmente chamada de Venda da Passagem, foi fundado, como dá para ver na foto que fiz, Arnaldo Silva, de uma foto pendurada na parede do armazém, em 1 de junho de 1935, por João Cardoso. Como todas as vendas, ficava na esquina e fazia parte da casa do proprietário. De 1935 para cá, parece que o armazém parou no tempo. Pouca coisa mudou. De diferente, a energia elétrica e uma geladeira, para guardar as bebidas, além do arroz, óleo, sal, açúcar, feijão e café, que não são mais vendidos a granel. Mas o estilo e charme das vendas interioranas, continua o mesmo. E ainda, na mesma casa, com a mesma fachada, tudo igual. Casa simples, com telhado, sem forro, balcão para os fregueses tomarem uma pinga, feita na região ou uma geladinha e claro, balas, doces, queijos, utilidades domésticas, miudezas e tudo mais.

Sem contar a simpatia do “Seu” Zé, como eu o chamava, esse senhor da foto acima, que infelizmente não está mais entre nós. Estive no povoado da Passagem em 2016 e tirei várias fotos. Era um senhor alegre, de fala mansa, gentil, atleticano, feliz com a vida, muito simples e se orgulhava de ter herdado a venda de seu pai, que hoje, está com seus filhos. Uma tradição maravilhosa e linda. Um lugar bem pitoresco e acolhedor em Bom Despacho.

– Armazém do Zé Totó em Belo Horizonte         

Fundado em 1943, no bairro Aparecida, em Belo Horizonte, bem no coração da capital mineira, está uma das mais tradicionais vendas de Minas. O Armazém do Zé Totó. A modernidade e o colossal crescimento de Belo Horizonte, não mudou em nada a vida da família do Zé Totó. Sua venda continua do mesmo jeito e no mesmo lugar, como antigamente. (foto acima de Arnaldo Silva)

Foi fundada por José Alves dos Santos, o Zé Totó, falecido em 1950. Como todas as vendas tinha o nome do dono, a venda era conhecida como Venda ou Armazém do Zé Totó. Seu filho mais velho, mesmo ainda menino na época, cuidou da venda do pai, após seu falecimento. Por isso é carinhosamente chamado por todos de Zé Totó. Está hoje com mais de 90 anos. (na foto acima e a abaixo de Arnaldo Silva, Zé Totó, exibindo as cadernetas dos fregueses)

É um senhor alegre, cordial, simpático e fica feliz em ver os filhos e genros cuidarem de seu armazém, um ponto de encontro dos amigos que se debruçam no balcão para tomar uma tradicional pinga, com tira gostos ou mesmo, aquela geladinha no capricho.

Zé Totó garante que o freguês encontra de tudo em sua venda, desde miudezas, brinquedos, doces, produtos de limpeza, utensílios domésticos, ferramentas, etc. Se não encontrar na hora, encomenda. Assim cativa a freguesia e ainda, faz questão de dizer que mesmo na capital mineira, preserva o hábito das vendas no fiado, com tudo anotado na caderneta, que se orgulha de mostrar. Como podem ver na foto acima. (foto acima de Arnaldo Silva)         

Se orgulha em dizer que é feliz pelo respeito e amizades que conquistou ao longo de décadas, sobre o balcão de sua pitoresca vendinha, numa tradicional construção da década de 1940. Abre todos os dias, das 8h até as 21 horas, mas faz questão de dizer que só não abre na Sexta-feira da Paixão.

– Mercearia Israel em São João Batista do Glória          

Em São João Batista do Glória, no Sudoeste de Minas, distante 374 km distante de Belo Horizonte, uma charmosa mercearia, é um dos mais pitorescos e visitados lugares da cidade. (foto acima e abaixo de Amauri Lima)

É a Mercearia Israel, fundada em 1961, localizada próximo a Praça do Cruzeira.  A Mercearia faz parte da história e desenvolvimento da cidade, embora se mantenha da mesma forma como antigamente, preservando suas característica, bem como sendo um dos mais charmosos pontos comerciais da cidade. (foto abaixo de Amauri Lima)

No pequeno espaço da mercearia, encontra-se de tudo e mais um pouco, desde miudezas, a utensílios para casa, ferramentas, enlatados, bebidas, secos e molhados, frutas, balas, corda, bolsas, canecas, panelas, chapéus, arame, doces, pimenta, produtos agropecuários, tudo junto e misturado. Sem contar, claro, muita prosa, histórias e antigos fregueses e novos, que estão sempre presentes na mercearia.  

– Mercearia Paraopeba em Itabirito         

As vendas, mercearias e armazéns antigos, tinham como hábitos, anotar e em seus cadernos, os fiados feitos aos fregueses. Guardavam com carinho esses cadernos, que são hoje, relíquias históricas. Em um desses cadernos, registros nos levam ao ano de 1884 e estão bem conservados, mesmo após 137 anos. Esse caderno está na Mercearia Paraopeba, em Itabirito, a 50 km de Belo Horizonte. (foto abaixo de Judson Nani)

Típica venda mineira, é uma das mais antigas e famosas vendas do Brasil. Já foi tema de reportagens de jornais como O Tempo, O Estado de Minas, O Estado de São Paulo, dentre outros tantos jornais impressos de Minas Gerais e do Brasil. O Armazém Paraopeba foi tema ainda de reportagens do Jornal Nacional e Globo Rural, da Rede Globo, além de reportagens feitas pela Rádio CBN, Jornal da Alterosa (SBT), Jornal Minas (Rede Minas), além de uma emissora de TV da Austrália, com reportagem exibida para mais de 30 países.         

A tradicional Mercearia fica num antigo casarão, desde o século XIX, do mesmo jeito, passando de pai para filho, bem como a freguesia, que são fiéis há gerações. É uma típica venda mineira, com duas portas na entrada, abarrotadas de produtos pendurados e colocados onde tiver lugar, até mesmo no chão, como podem ver na foto abaixo do Judson Nani. 

Por dentro do armazém é assim também, tudo abarrotado de coisas penduradas, colocadas em prateleiras ou mesmo no chão, sem qualquer ordem. Mas com certeza, o dono encontra tudo, rapidinho. O dono é Roney de Almeida, mais conhecido como Roninho, que herdou o armazém do pai, que herdou do seu avô.         

A herança não foi apenas material, mas no carisma, simpatia, simplicidade e amor ao ofício, herdado de gerações. Os fregueses sabem que ao entrar na venda, não estarão comprando apenas alguns itens para sua casa, mas voltando no passado, revivendo emoções de seus pais e avós. Se perdem em meio a tantas emoções, que leva todos a uma poética viagem no tempo da mais pura mineiridade.

No Armazém Paraopeba você encontra de tudo mesmo, desde sabão feito de torresmo e cinzas, panelas, brinquedos, doces, queijos, banha de porco na garrafa, ferramentas, alho, batata, esmaltados, ovos e por aí vai. A lista é enorme. (foto acima de Judson Nani)         

Além da caderneta, outra tradição antiga preservada até os dias de hoje na Mercearia Paraopeba é a prática do escambo. Na época de origem da venda, o dinheiro era uma moeda de pouca circulação, restrita a poucas pessoas. A forma das pessoas comprarem o que necessitavam, era fazer trocas por produtos de valor similar, por exemplo, queijo por doce, carne por querosene, queijo por sal, requeijão por açúcar, etc.         

E em pleno século XXI, essa prática resiste e é uma das bases do Armazém Paraopeba, desde sua origem. A maioria dos alimentos vendidos no Armazém vem de pequenos produtores, que levam outros produtos como pagamento, à sua escolha e de valor similar.

É tão pitoresco e gostoso o lugar, que ao entrar dentro, não dá vontade de sair mais. Ficar na venda, ouvindo as histórias dos fregueses, que entram e que saem, proseando e ouvindo as prosas, vendo as pessoas comprarem café moído na hora e cerais no quilo, embrulhado em papel e levarem para casa miudezas. Isso nos dá um sentimento de nostalgia, de estarmos voltando no tempo. (na foto acima do Judson Nani, um criativo aviso, onde ficam os doces e abaixo, um souvenir com lembrança da Mercearia Paraopeba)

O Armazém Paraopeba fica no Centro Histórico de Itabirito, cidade distante apenas 50 km de Belo Horizonte e 50 km de Ouro Preto, pela Rodovia dos Inconfidentes. Está bem em frente à Igreja de São Sebastião. É um dos lugares mais visitados por turistas que vem à Itabirito, não só de Minas Gerais, mas do Brasil e de vários países do mundo.

– Venda Alto Minchillo

Fundada em 1908, na cidade de Guaranésia, Sul de Minas, pelo casal Luiz Minchillo e Josefina Minchillo, a venda é uma das maiores preciosidades do Sul de Minas e um clássico exemplo de como eram os antigos comércios no interior de Minas Gerais, no início do século XX. (foto acima do Luís Fernando) Vendia de tudo o quanto você pode imaginar como, miudezas, brinquedos, doces, pólvora, farinha, queijo, querosene, fubá, ratoeiras, naftalina, açúcar, sal, roupas, botas, sapatos, cereais a granel, café, ferramentas, carnes, banha, toucinho, aguardente, etc. Encontrava-se de tudo.

A venda foi construída num sítio de 5 hectares e ocupa uma área construída de 120 metros, com pasto, roça de milho, pomar e estacionamento. De 1908 para cá, pouca coisa mudou. É uma das poucas vendas existentes atualmente, que preserva suas características originais. (foto acima e abaixo de Luís Fernando)

Desde a fachada, o teto, o balcão, o estilo de colocar os produtos, está tudo do mesmo jeito, como há 112 anos. Até mesmo, a marca de um tiro de fuzil, disparado durante os confrontos entre Minas e São Paulo, durante a chamada “Revolução Constitucionalista de 1932”, está preservada na venda.

De diferente mesmo foram construído dois banheiros e uma cozinha, já que a venda passou a servir bebidas e tira gostos, além de organizar eventos culturais e preservar uma antiga tradição, que vem desde a origem da venda. É a reza do terço de São Pedro e a tradicional festa junina, em 29 junho, dia do santo (foto acima de Isis Minchillo). A festa é uma das maias antigas e mais populares da região. Atualmente, a Venda Alto Minchillo está abrindo somente às quintas-feiras. (foto acima do Luís Fernando)          

Segundo Cauê Minchillo, a venda “foi passada de pai para filho. Começou com Luiz Minchillo e Josefina Minchillo, depois para meu bisavô, Adalberto Minchillo e depois para meu avô, Adalberto Minchillo Filho e mais dois irmãos, Domingos e José Roberto. E agora eu, Cauê, da 5ª geração, estou no comando”, finaliza.

– Venda da Dona Inês em Chapada do Norte         

Chapada do Norte é uma cidade histórica, do Vale do Jequitinhonha. É uma das poucas cidades mineiras onde podemos encontrar, não algumas, mas várias vendas, pelas esquinas das ruas da cidade. Uma dessas vendas é a da Dona Inês, como podem ver a fachada, na foto acima da Viih Soares e abaixo, de Thelmo Lins, o interior da venda.

São casarões coloniais e outros, na arquitetura eclética, do século XX, mas com a beleza, charme e nostalgia das vendas antigas, de Minas Gerais. É uma das poucas cidades do Brasil, onde pode-se conhecer de fato, como era o comércio no século XIX.

– Venda do Seu Lidirico em Araçuaí         

Em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, está uma das mais pitorescas e famosas vendas de Minas Gerais. É a Venda que leva o nome de seu dono, Lidirico José Almeida, nascido em 7 de agosto de 1927, em Novo Cruzeiro, no Vale do Jequitinhonha. Conhecido como Seu Lidirico, mudou-se de sua cidade para Araçuaí, na década de 1940, montando seu próprio negócio nesta cidade, em 1948, com o nome de “Casa Almeida”. Como era comum na maioria das vendas antigas, o nome do estabelecimento passou a ser associado ao nome do dono. Assim, popularizou-se como Venda do Seu Lidirico.  Até hoje, preserva suas características arquitetônicas originais, bem como a tradição das antigas vendas do interior mineiro.

Seu Lidirico abre a venda todos os dias, com a mesma alegria, simplicidade, gentileza e simpatia de antigamente, tendo sempre a companhia de sua esposa, dona Iaiá, de 88 anos, com quem é casado há mais de 70 anos. Dessa união, resultou em uma prole grande. São 15 filhos, criados com o trabalho duro e diário em sua venda. Completa a família, dezenas de netos e bisnetos e um tataraneto. A família já está na quarta geração. (foto acima e abaixo de Ernani Calazans, da parte externa da venda. Devido a situação atual, Seu Lidirico e esposa não estão abrindo a venda, mas assim que tudo passar, iremos novamente lá e fotografaremos)

Sua venda, é uma das mais tradicionais de Minas Gerais, onde os fregueses encontram de tudo um pouco, principalmente, acolhida e gentileza. Além disso, na venda podem ser encontradas relíquias bem conservadas do século passado. O casal é muito simpático e carismático. São pessoas simples, muito gentis e acolhedores. Sempre atendem bem seus fregueses e estes o retribuem com muita amizade. É uma das mais originais, pitorescas, charmosas e famosas vendas, não só da cidade, mas de Minas Gerais. A venda do “Seu” Lidirico, faz parte da história da cidade.         

É hoje uma das referências em Minas Gerais para quem quer conhecer profundamente, como eram os pequenos comércios nas cidades mineiras. O sucesso da Venda do “Seu” Lidirico é tanto que é constantemente visitada por veículos de comunicação, como rádios, jornais e TVs. Já foi inclusive tema de música, composta por Miltino Edilberto e Xangai, apresentada pela primeira vez no programa Sr. Brasil, de Rolando Boldrim. O título da música: é “La na Venda do “Seu” Lidirico”.

– Venda do Gordo em Franceses

Franceses é distrito da cidade de Carvalhos, no Sul de Minas. Cidade famosa por suas trilhas e cachoeiras, é tradicional na produção de cachaças e morangos. Carvalhos tem origem no nome de uma família judaica, estabelecida na região no final do século XVIII, bem como o distrito de Franceses, que teve em suas origens, famílias de franceses, que viviam no Rio de Janeiro, no século XVIII e se mudaram para a região, dando origem ao distrito. (foto acima e abaixo de Mônica Rodrigues)

Em Franceses, está a venda do Gildo Landim, conhecido por todo como Gordo. Sua venda foi fundada em 1958 e além de vender gêneros alimentícios e miudezas, serve as típicas bebidas produzidas na cidade, bem como deliciosos tira gostos. É ponto de encontro dos moradores da pacata e charmosa vila colonial, sul-mineira.

– Venda do Zeca e Restaurante da Cristina          

Ficam em Jaboticatubas, uma histórica e acolhedora cidade tipicamente mineira, distante 60 km de Belo Horizonte, na Serra do Cipó.

Fundada por Felicíssimo dos Santos Ferreira, já falecido, a venda está presente na história da cidade e de Minas Gerais, desde os primeiros anos do século XX, hoje administrada por seus netos, Carlos e Marcos, a terceira geração do seu fundador. É uma das mais tradicionais e charmosas vendas de Minas. Ir à Serra do Cipó e não conhecer a Venda do Zeca, é um sacrilégio. (foto acima de Edson Borges)

Funciona num acolhedor e charmoso casarão colonial, com uma ampla área externa, cercado pela exuberante beleza da Serra do Cipó, à sombra de flamboyants (na foto acima da Alexa Silva). Tem de tudo e mais um pouco que os fregueses procuram e claro, a nostálgica tradição do encontro entre amigos, nos balcões e mesas das vendas.         

A Venda do Zeca é uma das nossas mineiridades e um dos lugares mais visitados na Serra do Cipó. Além dos utensílios para uso do dia a dia, na venda tem os petiscos, tira gostos, porções e bebidas.

Na estufa do balcão da venda, ficam salgadinhos, torresmo e outras delícias, mas as porções são feitas neste belo casarão da foto acima, da Alexa Silva. Fica em frente, alguns passos da venda.

 É movimentadíssima a venda, sempre tem gente que vai lá comprar miudezas ou mesmo, conhecer, já que a região é muito visitada por turistas, que vem à Jaboticatubas, aproveitar as cachoeiras, trilhas e belezas impactantes da Serra do Cipó. E se encantam com a simplicidade do lugar, com a acolhida e simpatia dos proprietários e funcionários.         

Funciona todos os dias, das 8h às 20 horas e ainda, tem estacionamento. Dá gosto estar na Venda do Zeca, entrar na mercearia ou mesmo, sentado numa mesa no lado de fora, degustando os deliciosos petiscos e tira gostos, bem tradicionais. (foto acima da Alexa Silva)         

O acesso à Venda do Zeca é pela Rodovia MG-10, no km 95. Fica na Rua do Campinho, número 45.

Estando na venda do Zeca, vale a pena conhecer a Vila Colonial de São José da Serra, uma das mais atraentes vilas mineiras. Em frente à igreja da Vila, tem o restaurante da Cristina, na foto acima e abaixo da Alexa Silva.

Um lugar tranquilo, aconchegante, num casarão em estilo colonial, com traços sóbrios, rústicos e poéticos, além, claro, da genuína cozinha mineira, feita fogão a lenha e panelas em pedra sabão. Com certeza, um lugar para passar horas super agradáveis.

– Venda do Zé Alvino em Alfenas

Em Alfenas, no Sul de Minas, distante 335 km de Belo Horizonte, no bairro Gaspar Lopes, está uma das mais antigas vendas em funcionamento no Brasil. Fundada no século XIX, a venda está presente na cidade há mais de 150 anos. (foto acima e abaixo do Luis Leite)         

Além de sua história e de fazer parte da história de Alfenas, foi nesses anos todos, pontos de encontros de amigos, fregueses e personagens ilustres como Milton Nascimento. Sempre que o cantor e compositor vem à Três Pontas MG, onde tem casa, visita a venda do Zé do Alvino.          

Inclusive, sua presença no local está registrada em fotos. Na venda, se encontra de tudo que você imaginar, além de tradição, histórias seculares e nostalgia. 

Estamos falando da charmosa venda do Senhor José Aureliano de Mesquita, o popular, Zé do Alvino. Geralmente, as vendas são passadas de pai para filho, mas nesse caso, foi diferente. José Aureliano de Mesquita, herdou a venda de seu sogro, o Zé do Alvino. Como a venda era associada ao nome de seu sogro, herdou também, o apelido. (foto abaixo do Luís Leite)

Um senhor simpático, de boa prosa, que cativa com seu carisma, toda a freguesia, que fazem questão de estar na venda, não só para comprar, mas escutar os causos e as histórias do Zé do Alvino e dar boas risadas. São histórias contadas e ouvidas na venda, que sobrevivem ao tempo e cativam a todos, bem como a própria venda, em si. Ninguém entra na venda e não encontra o que procura.

Um detalhe diferente na Venda do Zé do Alvino chama a atenção. No forro da venda pode ser ver notas de vários valores presas em tampinhas de garrafas, fixadas no forro por tachinhas. Esse dinheiro é doado pelos fregueses, que doam a quantia que puderem. Depois de um tempo, o dinheiro é retirado e encaminhado à Associação Vida Nova, que assiste pacientes com câncer. (foto abaixo do Luis Leite)

Uma atitude nobre, enaltecida por todos, mas esperada, já que Zé do Alvino, é uma pessoa muito querida e respeitada por todos do bairro. A venda fica aberta todos os dias, tradicionalmente das 6h30 às 19 horas.

– Venda do Jorginho em Guaranésia

Guaranésia fica no Sul de Minas e está distante, 457 km. Conta com pouco mais de 20 mil habitantes. Muito tradicional, a cidade guarda relíquias de seu passado. Entre essas relíquias, está a Venda do Jorginho. (fotografia acima e abaixo de Luís Fernando)

A história da tradicional Venda é contada pelos próprios proprietários: “Miguel Gibrim, imigrante árabe vindo da Síria, abriu as portas da venda em Guaranésia pela primeira vez em 1918. Desde então, já se vão mais de 100 anos em que a família honra o compromisso de repetir o gesto e abrir as portas de madeira da venda todos os dias para atender fregueses amigos.         

Nessa jornada centenária, a esposa de Miguel Gibrim veio da Síria com a pequena filha Anice, depois nasceram Gibrim Miguel e Jorge Miguel. Jorginho, o caçula, assumiu a venda por volta de 1950. Dessa década até os anos 80, a venda foi ponto de intenso movimento dos trabalhadores das roças de café e cana, da vizinhança do alto da cidade que começava a se expandir. Tempos áureos da velha e boa caderneta de fiado.         

Com a padronização dos mercados e supermercados, a venda se reinventou e nas mãos da esposa do Jorginho, Dona Floripes, manteve firme e altiva a simplicidade e o acolhimento. Em 2018, a venda ganhou a direção da terceira geração. Agora, os filhos do Jorginho e da Floripes mantêm a essência e a identidade, mas inovam: a Venda do Jorginho é uma venda mineira de secos e molhados em geral, que tem o orgulho de ter nas prateleiras, uma seleção dos melhores produtos que Guaranésia e o Sul de Minas produzem.         

Reconhecidamente tradicional, a Venda do Jorginho é empresa Parceiro Guardião dos Produtos da Região do Queijo da Canastra. E tem tudo mais, a tempo e a hora. Ah, sim, aceita cartões que convivem muito bem com a velha e boa caderneta de fiado.         

Venda do Jorginho, Honestidade e Cortesia desde 1918.”

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