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Do Alto Maranhão a Fazenda do Paraopeba: um passeio pela história da região

O 4º Passeio Cultural promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas (IHGC) em parceira com a Academia de Ciências, Letras e Artes de Congonhas (ACLAC), realizado neste sábado, 3 de setembro, foi memorável. Uma verdadeira confraternização entre os confrades. E ainda recebemos a companhia ilustre da Presidente da Fumcult (Fundação Municipal de Cultura, Lazer e Turismo de Congonhas) Lana Mércia Brasil e da Diretora do Museu Congonhas Lourdes Maria, que prestigiaram nosso passeio cultural. O Distrito do Alto Maranhão é encantador. Berço histórico de nossa região (e por assim dizer, de Congonhas), a localidade abriga diversos acervos importantíssimos de nossa história. Recepcionados pela confreira e historiadora Maria da Paz, nosso primeiro momento foi conhecer as ruínas da casa do Capitão Zeca Moreira, importante figura política que viveu no Distrito do Alto Maranhão entre o final do século XIX e décadas seguintes do século XX. Pela extensão das ruínas percebemos que era uma propriedade imponente, e à altura de seu proprietário.

O terreno ainda pertence aos descendentes do afamado Capitão Zeca Moreira e foi próximo dali que, no sítio “Moreirinha”, a anfitriã Maria da Paz nos serviu um delicioso café colonial, inclusive com o tradicional “cubu na folha de bananeira”, iguaria da tradicional culinária mineira que, em nossa região, somente é encontrado no Distrito do Alto Maranhão.

Energia reposta pelo delicioso café colonial, partimos em caminhada até as ruínas da antiga cadeia, construção do século XVIII bem a margem do caminho velho da Estrada Real. Maria da Paz nos explicou que no século XIX a edificação ganhou o 2º pavimento. Infelizmente está abandonada e poderia ali ser um grande atrativo turístico para visitantes, abrigando um museu que contasse a história do Distrito.A visita seguinte foi na secular Capela devotada à Nossa Senhora da Ajuda, cuja tradição religiosa é pujante em nossa região. Celebrada anualmente no dia 15 de agosto, a festa em sua honra recebe milhares de devotos, em sua maioria vindos do distrito sede – Congonhas. Muitos vem a pé percorrendo cerca de 9km em cumprimento de promessas.

A Capela de Nossa Senhora da Ajuda remota o primeiro quarto do século XVIII e está ligada a presença dos membros da família de João Antônio Redondo, sesmeiro português que ali se estabeleceu por volta de 1713, dando, inclusive, o primitivo nome à localidade que ainda hoje é conhecida como Distrito do Redondo (a alteração para Alto Maranhão aconteceu somente em 1918).A Capela de Nossa Senhora da Ajuda abriga um rico acervo escultórico, incluindo talhas, ornamentos e pinturas característicos do século XVIII. Foi recentemente restaurada e está aberta aos cultos novamente. E antes de continuarmos nosso passeio cultural, fizemos uma “parada técnica” na Padaria “Pão da Vida” para comprarmos mais “cubu na folha de bananeira” e outras quitandas.

Abastecidos, seguimos para a afamada a Fazenda Paraopeba, localizada no município de Conselheiro Lafaiete (nas divisas com Congonhas e São Brás do Suaçuí), às margens da MG383, distante cerca de 6km do distrito do Alto Maranhão, onde fomos recebidos pelo amigo Moisés Matias Pereira que mediou nossa visita. Moisés é o guardião da fazenda representando o Ecotres (consórcio intermunicipal formado pelos municípios de Congonhas, Conselheiro Lafaiete e Ouro Branco, cujo objetivo é dar destinação adequada aos resíduos sólidos) que agora utiliza o espaço para desenvolver projetos ambientais.A

Fazenda Paraopeba pertenceu ao célebre inconfidente Inácio José de Alvarenga Peixoto e sua esposa, Bárbara Heliodora. A fazenda possui localização estratégica e fica no meio do caminho entre as cidades de Ouro Preto e São João Del Rei. No período colonial e em boa parte do século XIX, suas instalações serviam de pouso para tropeiros e viajantes da Estrada Real. E pode até ter servido como possível local de encontro de alguns inconfidentes para suas conversas secretas sobre o levante que se propunham a fazer naquele longínquo ano de 1789.

Moisés nos conta que o casarão ficou por muito tempo abandonado e após um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o Ministério Público de MG e a empresa mineradora Ferrous, a fazenda passou por rigorosa reforma e teve seu espaço (interno e externo) remodelado, preservando suas características do século XVIII, agora servindo como um excelente equipamento cultural para visitação pública. Dentro de suas dependências podemos ver objetos e instrumentos do século XVIII e imaginar como viviam nossos antepassados. Moisés ainda nos relatou que no pátio central da fazenda existia um pelourinho (coluna de madeira usada para imobilizar e castigar fisicamente os escravizados ou criminosos) e que foi levado para o Museu do Escravo em Belo Vale, onde está exposto.

O IHGC recebeu um presente das mãos de nosso anfitrião Moisés – uma pedra “triangular” como símbolo alusivo ao triângulo idealizado pelos inconfidentes e presente na bandeira de Minas Gerais.O consórcio Ecotres desenvolve um programa ambiental nas dependências da Fazenda Paraopeba e alunos das escolas da região têm visitado o espaço que abriga uma rica fauna e flora, além de estar próxima do caudaloso rio Paraopeba.

E ainda tivemos a oportunidade de conhecer outra fazenda colonial (distante cerca de 300 metros da Fazenda Paraopeba), e seus moinhos d’água onde é produzido o tradicional “fubá Paraopeba”. Após uma rica e prazerosa aula sobre a história colonial mineira e da geografia da região, seguimos direto para a Bombaça (tradicional região do Distrito do Alto Maranhão) onde fomos recebidos pelo casal Roberto e Florípedes. Lá nos foi servido o tradicional (e saboroso) almoço mineiro, com direito até a ora-pro-nóbis e suco de goiaba. Tudo preparado com esmero e carinho. Sabor inigualável. De sobremesa degustamos os tradicionais doces de leite e de mamão ralado.

Celebramos entre amigos mais um dia incrível, conhecendo nossa riqueza regional e aprendendo mais. “O saber não ocupa espaço”. Agradecemos a AG Turismo (31 99794-0924) pelo traslado, sempre com pontualidade, conforto e segurança.

Texto e fotos: Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas – IHGC

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