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Audiência discute problema de água no Pires que já dura mais de uma década; moradores são obrigados a comprar galões para consumo e limpar caixas d’água sujas de minério

Os mais de 2 mil moradores do Pires, em Congonhas, se mobilizam para resolver o problema de abastecimento e qualidade da água na comunidade. Há mais de uma década o bairro sofre com a insegurança hídrica e poluição das nascentes pela mineração que abastecem as residências. Na semana passada os moradores passaram pelo martírio quando as adutoras da CSN e Ferro + se romperam levando as casas água barrenta e carregada de minério. Acaso desejassem consumir água para alimentação ou higiene pessoal os moradores foram obrigados a comprar galões ao custo de mais de R$10,00. As mineradoras chegaram a oferta de caminhões pipa e ofereceram água potável, mas bem aquém da real necessidade de consumo dos moradores.

O Conselho de Meio Ambiente (CODEMA) se reuniu para discutir o grave problema do abastecimento de água no Pires na segunda feira (13) com a Comissão de Meio Ambiente da Câmara, o Movimento Atingidos pelas Barragens (MAB) e representantes da Associação de Bairro do Pires quando o Vereador Eduardo Matozinhos (PSDB) propôs, caso haja comprovação de contaminação, que as mineradoras abasteçam até a solução do problema a comunidade com água potável. A Associação de Bairro sugeriu uma audiência pública que será realizada no dia 23 de março, a partir das 18:00 horas, na Escola Odorico Martinho da Silva, no Bairro Pires com representantes da CSN e Ferro + Mineração para discutir os danos causados na comunidade. A Câmara também aprovou a contratação de um engenheiro ambiental para a realização de um estudo técnico dos impactos sofridos nas nascentes do PIRES, causado pela
exploração mineral.

Em outra frente de atuação, o comunidade deflagrou uma campanha nas redes sociais para a preservação da Serra do Pires, rica em biodiversidade e patrimônio arqueológico.

A COPASA também foi convidada, para a discussão. A estatal faz a manutenção no sistema até que o Município decida se irá iniciar a operação e faturamento. A Associação do Pires não quer a cobrança, com isto tem impasse que o Município tem que decidir.

Problema recorrente

O problema de falta de água e ou de mananciais contaminados vêm de mais de uma década e já foram alvo de inúmeras audiências locais e na Assembleia de Minas e até mesmo ações judiciais. Em 2010, cerca de 140 pessoas em um mutirão de limpeza da represa do bairro Pires, município de Congonhas. Os moradores ficaram sem água potável por diversas ocasiões devido a deslizamentos de terras na nascente de água que abastece a região. O problema teve início com a construção de uma estrada que ligará a Mina do Engenho à BR 040. A obra é da empresa Namisa (mineradora de ferro) e tem o objetivo de facilitar o acesso à área de mineração.

Mais impressionante que as fotos foi o desabafo de uma moradora do bairro Pires, que conclui após relatar a situação de contaminação das nascentes da área por minério: “estamos sendo tratados como um ser qualquer”.

Galões de água

Em 2010, o abastecimento de água no bairro foi comprometido desde que as nascentes do Boie Na Brasa e João Batista foram assoreadas devido a obras de uma mineradora. Por quase dois anos, os moradores receberam água de caminhões-pipa e galões de água mineral pagos pela mineradora que provocou o dano, graças a uma determinação do Ministério Público. Mas o abastecimento alternativo acabou e é preciso contar com a sorte para ter água cristalina saindo nas torneiras, o que nem sempre ocorre.

A Copasa concluiu o estudo para tratar a água, o que, obviamente, implicará pagamento de tarifa pelo serviço. Moradores, entretanto, rejeitam a ideia. O argumento deles é que a poeira é imensa e eles precisam lavar os passeios e as casas todos os dias. Dependendo da quantidade de poeira, até mais de uma vez ao dia. Pagar por isso, segundo o cálculo dos moradores, será caro demais.

Outro problema

Em 2019, a comunidade do Pires que chegou a ficar sem água após uma forte chuva que causou um extravasamento na barragem Josino, da mineradora Ferro +. O extravasamento é quando a água escoa por um dispositivo chamado “extravasor”, na barragem. Parte dos sedimentos de minério que estavam na barragem atingiu um canal que passa ao lado da BR-040, e a lama cobriu a estrada em um trecho.

Uma nascente, que era usada para o abastecimento de cerca de 2 mil pessoas, foi fechada. De acordo com a mineradora, esta nascente é a céu aberto e é frequentemente prejudicada pelas chuvas na região e seu fechamento não tem relação com o extravasamento da barragem. 

A mineradora apresentou um estudo de construção de uma poço artesiano e uma caixa d’água elevada para mitigar o problema de abastecimento de água.

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