28 de abril de 2024 08:33

Coloração escura e presença de peixes mortos no Rio das Velhas assusta moradores; água abastece 60% da Grande BH

Trecho fica na altura de Honório Bicalho, no distrito de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Pesquisadores dizem que a cor é indício da presença de rejeitos de minério no rio.

Com águas turvas, de coloração avermelhada, e a presença de peixes mortos, o Rio das Velhas entrou em estado de alerta em Honório Bicalho, distrito da cidade de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. É lá que a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) faz a captação de água para abastecimento de 60% da Grande BH.

A situação assusta moradores e comerciantes. Segundo o caminhoneiro e pescador Daniel Ramos, na semana passada foi verificado um escoamento de água da barragem Ecológica 1 diretamente no Córrego Fazenda Velha, o que provocou um aumento considerável da turbidez da água do córrego e também do Rio das Velhas, inclusive com mortandade de peixes.

Integrantes do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas faz visita técnica

Os sedimentos teriam vindo de uma barragem que pertence à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que, segundo a empresa, é usada para contenção de sedimentos. Durante uma limpeza da estrutura o material acumulado no fundo se soltou.

Na avaliação do ambientalista e pesquisador do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Daniel Neri, a tonalidade da água evidencia, nitidamente, a presença de rejeitos de minério de ferro.

“Nitidamente a cor mostra que ali é rejeito de minério de ferro, e a gente parece que não aprendeu nada com as duas tragédias com barragens de mineração. A gente precisa de uma resposta imediata, ninguém bebe minério. Qual a qualidade da água que está sendo captada pela Copasa pra distribuir pra população daqui de Belo Horizonte e da Grande BH?”, alerta o especialista.

O que diz a CSN

Em nota, a CSN esclareceu que a estrutura denominada como Ecológica 1 não recebe rejeitos. “Ela é utilizada para contenção de sedimentos e clarificação de água. Anualmente, é parte do planejamento operacional da Companhia realizar a limpeza dessa estrutura de modo a remover os sedimentos que, por ventura, possam ter se acumulado, mitigando, assim, possíveis impactos nos corpos hídricos a jusante”, justificou. Abaixo nota completa.

“Ocorre que, durante essa atividade, necessária para o desassoreamento da estrutura ECO 1, houve um revolvimento do material que estava acumulado no fundo. Isso desencadeou, na última semana, uma elevação da cor aparente e da turbidez da água, gerada pela retirada de sedimentos da própria estrutura e fortes chuvas dos últimos dias. Após inspeções locais realizadas pelo corpo técnico da Minérios Nacional, não foi constatado prejuízo ambiental já que não houve qualquer vazamento de material para o Córrego Fazenda Velha e Rio das Velhas. Além disso, importante ressaltar, que a elevação da turbidez e coloração da água (cor aparente) foi imediatamente resolvida.

Sobre as barragens existentes no complexo de Fernandinho, cabe informar que não houve qualquer alteração em seus níveis de segurança, visto que não há nenhuma relação entre o acontecido e a segurança ou quaisquer outros aspectos relacionados as demais barragens do complexo.

A Minérios Nacional destaca que todas as demandas e esclarecimentos trazidos pelos órgãos de controle foram seguidos e executados, e reafirma que não houve qualquer vazamento de material das barragens. Por fim, a Companhia informa que todas as medidas foram tomadas para que eventos semelhantes não voltem a acontecer quando da realização dessa atividade que é de rotina e realizada periodicamente.”

O que diz o governo

Por meio de nota, o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) disse que recebeu, no último dia 27 de março, denúncia sobre alteração da coloração da água do Rio das Velhas, material que seria proveniente do córrego afluente Fazenda Velha, que possui barragens e diques a montante. Veja abaixo na íntegra.

“No dia 28/03, foi realizada fiscalização para averiguar a existência de intervenções que poderiam estar influenciando na turbidez do córrego, na confluência com o Rio das Velhas. No local, foi observado provável presença de precipitado de manganês e/ou finos de minério de ferro, de coloração avermelhada e de turbidez mais acentuada que a das águas do Rio das Velhas. Foram então vistoriadas as barragens de rejeito e estruturas auxiliares na Mina do Fernandinho, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Foi constatado, no ato da fiscalização, que a Barragem Ecológica 1 estava passando por manutenção do canal do vertedouro, que deságua no Córrego Fazenda Velha. Diante da constatação visual de ocorrência de sedimento avermelhado da Barragem Ecológica 1, e leitura de relatórios de monitoramento de qualidade da água, foi verificado que os teores de manganês, ferro, cobre, cor e demanda bioquímica de oxigênio estão acima dos padrões de lançamento preconizados em legislação vigente. Por esse motivo, a CSN foi autuada por causar poluição/degradação ambiental, além de ter sido determinado que a empresa cessasse imediatamente o lançamento desse material que está atingindo o corpo d’água.

Foram determinadas ainda algumas medidas como: apresentar ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) os relatórios de monitoramento quali-quantitativo de águas superficiais, subterrâneas e sedimentos dos corpos hídricos na área da mancha de inundação, bem como o mapeamento e os dados brutos, em planilha, do monitoramento realizado; apresente a Ficha de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) dos produtos utilizados para floculação e a coagulação; intensificar a frequência do monitoramento de água superficial para diário e semanal, reportando ao Igam semanalmente os resultados. Cabe ressaltar que os dados estão sendo analisados pela equipe técnica.

Uma nova vistoria será realizada nos próximos dias e, também, será avaliado se as medidas determinadas na última semana foram adotadas. Em paralelo, estão sendo coletadas amostras de água para análise”.

O que diz a Copasa

“A Copasa informa que faz o monitoramento frequente da água captada para abastecimento público e reafirma que toda a produção de água na Estação de Tratamento de Água (ETA) do Sistema Rio das Velhas encontra-se dentro dos parâmetros estabelecidos pela Portaria 888/21 do Ministério da Saúde, que determina os padrões de potabilidade e os procedimentos de controle da qualidade de água.

A Companhia esclarece que foi ampliada a frequência da coleta e análise da água bruta, proporcionando maior segurança operacional para a continuidade da produção de água.”

FONTE G1

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