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Capital Mineira do artesanato em palha, artesãos se mobilizam para a “quebra do milho” e garantir a produção de matéria prima

No próximo sábado (20/05) acontece a colheita da palha em Cipotânea

Cipotânea, com cerca de 6.500 habitantes e localizada a 250 Km de Belo Horizonte, tem diversas particularidades como o fato de que a cidade é terra natal de diversos padres e bispos e também o fato de que sua economia está praticamente toda nas mãos das mulheres. Com a devoção de muitas mães pelo padroeiro São Caretano, as vocações sacerdotais são uma tradição local e cerca de 80% da renda do município vem do artesanato feito à partir da palha de milho, matéria-prima abundante na região. A agricultura e pecuária garantem os outros 20% da receira municipal.
O milho em Cipotânea é tão importante que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), denominou uma variedade de milho batizada de “BRS Cipotânea”. Sua principal característica vale ouro para as habilidosas tecedeiras locais: palha longa e de cor clara, perfeita para o artesanato que rende desde flores, pequenos cestos, bolsas e caixas, até luminárias e móveis como bancos, cadeiras, mesas de centro e estantes. Segundo cálculos da Associação das Artesãs de Cipotânea, cerca de 50 mil peças são produzidas todos os meses, de dezembro a dezembro.

Quebra do milho

Durante o mês de maio, ocorre um ritual que, para a população de fora pode ter pouco significado, mas este garante à Cipotânea a condição de se autoproclamar “Capital da arte feita em palha de milho”. Por volta da primeira quinzena do mês é quando é feita a chamada “quebra do milho”, em que a planta com o caule já ressecado é derrubada e as espigas são colhidas. Delas, sai a palha de cor perolada, que nas mãos de centenas de mulheres de todas as idades, se transforma em arte e sustento para a maioria das famílias cipotanenses.
Segundo o empresário Tom Moreira, que anualmente se mobiliza de forma voluntária para ajudar as mulheres a conseguir a matéria prima, “são aproximadamente 2 mil sacos, ou 14 toneladas de palha que precisam ser transportadas para sede do município, ou seja, uma logística muito complexa”. Para que a palha seja recolhida rapidamente, um evento é organizado com transporte, alimentação e muita solidariedade entre as beneficiadas.
Este ano, a programação da colheita da palha começa às 6 horas da manhã do próximo sábado (20/05), na Praça Central de Cipotânea, com saída do transporte até o local da retirada das palhas. Após a recolha e o ensacamento, acontece o transporte das palhas retiradas de volta ao centro, onde as artesãs dividem a carga obtida. Cada pessoa recebe um kit lanche, água e refeição para dar conta de um dia inteiro de trabalho intenso. No domingo (21/05), a operação se repete e, ao final, ocorre uma confraternização entre as participantes.

Queima de estoque

O ofício da trama da palha do milho e seu uso utilitário, segundo a tradição oral, foi ensinado à população do então distrito de Alto Rio Doce, na década de 1940, pelo Padre Geraldo das Mercês. O religioso, preocupado com a baixa renda da população e a falta de perspectivas econômicas, viu no artesanato, a partir de uma matéria-prima abundante, a possibilidade real de progresso.
Os primeiros anos foram difíceis, a ponto do próprio padre comprar a produção das mulheres e supostamente revender fora da cidade. No entanto, segundo a tradição, ao fazer as entregas, o Padre, na verdade, queimava as peças no caminho, e sempre comprava mais, até que o trabalho começou realmente a dar resultado. Hoje, o artesanato é a base da economia e o sustento de mais de 600 famílias de Cipotânea. A cidade é integrante do Circuito Turístico Nascente do Rio Doce, e promove anualmente, no mês de agosto, a Festa do Milho.

FONTE FOLHA DE BARBACENA

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