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Cemitérios dos Enforcados

Na última matéria sobre o tema, vamos destacar as razões que me levaram a escrever e reproduzir o tema sobre enforcamento dos escravos no Brasil com destaque para o enforcamento ocorrido em Piranga- Minas Gerais.

Por João Vicente

Parte 5 – LARGO DO ROSÁRIO: local onde eu nasci, onde ficava o antigo cemitério dos escravos e dos negros libertos e palco dos enforcamentos em Piranga

Largo do Rosário em 1950. A casa onde nasci está à esquerda do Casarão que na época era um Hospital. O cemitério ficava atrás da Igreja do Rosário. O largo era onde aconteciam os enforcamentos. (foto: ACCMC-Piranga)

O largo do Rosário foi onde eu nasci em 1962. Por tanto, sou pirangusense rosarista da gema. E´nesse espaço que passei grande parte da minhas infância, brincando de pique e jogando pelada com meus amigos de infância, onde eu tenho só boas lembranças. Mas, foi numa noite, numa mesa do Bar do nosso amigo Celso reunido com meus irmãos que surgiu a ideia de escrever e reproduzir texto sobre os enforcamentos de escravos no século XIX no Brasil e, em Minas Gerais. Meus irmãos mais velhos Nilo e Marco sempre contam que na década de 60 quando meu pai Nilo Gomes iniciou uma obra atrás da igreja do Rosário aconteceu um caso inusitado e sinistro com o mano Nilo que brincava ao lado de uma caixa d´água e de repente a terra a fundou e o Nilo quase foi junto e se não fosse o Tui que estava perto e que conseguiu segurá-lo pelo pescoço. Mai ai veio a grande descoberta. Com o afundamento da terra aflorou alguns ossos humanos assustando a todos. Meus pais que era o único contador da cidade procurou a paróquia e descobriram que ali fora no passado um cemitério dos escravos. Muitos anos depois, pesquisas feitas pelo diretor Marco de Nilo do ACCMC no Fórum de Piranga, foram encontrados documentos que relatavam enforcamentos ocorridos no Largo do Rosário, e um desses documentos, estão exposto no Espaço Cultural do Fórum daquela cidade. Foi com essa prosa com os meus irmãos no Bar do Celso na Praça do Rosário que surgiu às matérias com o titulo “Cemitérios dos Enforcados”.

Praça do Rosário (antigo largo).Ao fundo Capela de NS do Rosário do século XVIII

O largo do Rosário nasceu com a construção da Capela de NS do Rosário pela Irmandade dos homens de Preto nos meados do século XVIII e no fundo desta capela um cemitério onde eram enterradas a população negra livre, escrava e pessoas indulgentes. Foi no largo do Rosário que em 1843 aconteceu o primeiro enforcamento de um escravo relatado em documentos oficiais que se encontram em exposição no espaço cultural do Fórum Dr.Luiz Romualdo da Silva. Segue abaixo a transcrição do relato do enforcamento do escravo.  

“  Homicidio acontecido no Distrito de NS da Conceição do Turvo, Freguesia  da Villa de Piranga; O escravo Antonio , idade  de  vinte três anos, solteiro, não sabendo ler, nem mesmo escrever, era escravo de João Batista da Costa Moreira e foi acusado de “ assacignasto”(assassinato) de seu saenhor.

A testemunha de f.5 informou que o senhor João Batista havia passado carta de alforria ao escravo Antonio, mas havia arrependido.

Levado a Júri, a sentença foi dada às ff 21e 21. “ A vista da descisão do Jury e do disposto no artigo 1º da lei de 10 de junho de 1835, condeno ao réu Antonio escravo de João Batista Costa Moreira a pena de morte: Intime-se da sentença ao Sr. Curador,pagas as custas pelos cofres da Municipalidade nos termos da lei.Data da Sessão do Jury da Villa de Piranga, 22 de abril de 1843.Jose Ricardo de Sá Rego.

O condenado foi enforcado no dia 30 de outubro de 1843, às onze horas da manhã na forca levantada no largo do Rosário da Villa de Piranga, tendo sido condenado pelo Juiz Criminal  Francisco de Carvalho Duarte Badaró pelo sennhor Escrivão, Antonio Joaquim, pela força de policia e guardas nacionais.

Pelo carrasco foi declarado que foi suspenso e enforcado até que morresse na forma da sentença,e foi este acto ultimado, e seu corpo levado e sepultado no cemitério atrás da Capela de NS do Rosário desta sobre dita Villa.”

Documento do processo do enforcamento do escravo  em exposição no Centro Cultural do Fórum de Piranga

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