A Terra da Mexerica está passando por um período de grande e profunda transformação no meio rural. Diversas famílias que tinham o sustento com a produção e venda da tangerina ponkan agora já não tem mais aquele recurso “garantido”. Dinheiro que era investido na melhoria da qualidade de vida da população envolvida na atividade e que movimentava o comércio de bens e serviços na cidade.
Com o declínio da cultura da mexerica ponkan e ausência de incentivos, vários produtores eliminaram suas lavouras e diversos outros pomares estão abandonados e tomados por pragas e doenças.
É um triste cenário ver como está sendo rápido o declínio da citricultura em Belo Vale.
O avanço de doenças e os autos custos de insumos estão fazendo com que os pomares fiquem cada vez menos produtivos e com maior custo de produção. Sem incentivos, os citricultores ficam entre a cruz e a espada para tomarem decisão sobre permanecer ou sair da atividade.
Os produtores mais bem estruturados estão conseguindo se manter, mesmo com custos altos. É que, com a capacidade de investimento e infraestrutura na manutenção e tratos do pomar, o entrave fica mesmo com a doença HLB/GREENING. E nos pomares de maior tamanho de área e com topografia favorável à mecanização, o controle do psilídeo, vetor que transmite a doença, fica mais factível (”fácil”) apesar do custo alto.
Os cerca de 500 pomares que ocupavam próximo de 10% da área do município, com aproximadamente 2 milhões de plantas, agora estão em muito menor número.
O que está se mostrando agora é uma “seleção” de pomares e produtores que estão continuando, prevalecendo os maiores. Poucos pomares pequenos, da Agricultura Familiar, ainda estão produzindo comercialmente. As frutas comerciais estão concentradas nos maiores pomares, de produtores mais bem estruturados. Existe a expectativa de que com a redução da oferta os preços fiquem maiores, melhorando a rentabilidade.
O HLB / GREENING, continua sendo a doença mais importante e de maior gravidade das tangerineiras. Sem cura das plantas contaminadas, o controle da contaminação exige aplicação periódica de inseticidas. Aqui nos pomares da “Terra da Mexerica” o uso de inseticidas químicos prevalece, entre os produtores que estão fazendo o controle.
O controle Biológico, com parasitoide do vetor psilideo é uma boa alternativa principalmente nos pomares pequenos onde não é realizado o controle químico. Este tipo de controle não foi implementado por aqui, apesar de estar surtindo bons efeitos no estado de São Paulo.
As plantas de citros doentes devem ser eliminadas para evitar contaminação o que nem sempre ocorre da forma devida. A eliminação deve ser com o corte do tronco e manejo para evitar brotações.
Com a diminuição e até ausência de tratos culturais, outras doenças menos importantes, como a gomose, também estão contribuindo para a morte das tangerineiras.
O apoio de órgãos e entidades públicas que não existiu para a produção (salvo financiamentos e créditos rurais) agora aparece com ajuda para os pequenos produtores arrancarem seus pomares. A Prefeitura de Belo Vale disponibiliza equipamento para arranquio com pá frontal de retroescavadeira. Esse arranquio nem sempre é eficiente para eliminar a doença pois as raízes das plantas contaminadas arrebentam e a parte que não sai com o tronco e permanece no solo rebrota e é foco de doença. São comuns pomares arrancados que estão repletos de brotações contaminadas, principalmente em áreas convertidas para pastagem.
O órgão de defesa sanitária vegetal que deveria atuar no controle da doença, concentra sua ação na autuação e multa dos produtores.
Os produtores é quem promovem vistorias técnicas nos pomares e informam ao IMA os dados de incidência, monitoramento e controle do Greening, na forma de Relatórios semestrais que são entregues ao órgão. Esta informação estratégica, ao invés de se tornar instrumento de política pública de defesa sanitária vegetal (controle da doença) não tem alguma utilização ou função e muito menos retorno para o produtor. Pelo contrário, pode servir de motivo para autuação e multa. É o que sobrou para o produtor.
Esta safra de 2023 foi favorável à produção de tangerinas, isso devido à alternância de produção (com baixa produtividade num ano e alta no outro) e às boas condições climáticas na florada e início da frutificação. Os pomares que tem poucas plantas contaminadas e que receberam tratos como adubação, controle de doenças e de plantas “invasoras” tiveram boa produtividade.
No entanto, essa produção é muito inferior ao que havia no passado recente. Hoje já não há mais os diversos caminhões que tomavam conta da cidade e da zona rural e que saiam nas tarde transportando 400, 600 e até mil caixas de tangerina (cada caixa com aproximadamente 70 frutos). A comercialização era feita para diversas regiões do Brasil na safra se estendia de abril a setembro.
Este ano a safra está atrasada e ainda em colheita.
Alguns produtores adotaram estratégia de fuga da doença e plantaram pomares em outras regiões mais distantes. Outros produtores estão apostando na diminuição da doença aqui em Belo Vale, visto a diminuição de pomares e do vetor, e estão iniciando plantio de pomares novos.
O certo é que, infelizmente, não existe um projeto sério, contínuo e eficaz para apoiar os produtores. Não existe nem sequer informações oficiais sobre a doença Greening em Belo Vale, “Terra da Mexerica”. Não se sabe em qual região do município há maior ou menor incidência da doença ou do psilideo vetor. Onde a doença avançou mais e menos, por exemplo.
Assim como em anos anteriores, a 9ª Festa da Mexerica de Belo Vale, não envolveu os produtores. Promovida pela Prefeitura e com shows e rodeios, o evento nem sequer aborda a questão da mexerica ponkan, renegando a citricultura à própria “sorte”. Infelizmente.
Marcos Virgílio F. de Rezende
Produção Integrada de Citros
Engenheiro agrônomo