Os coretos são equipamentos urbanos presentes em todo o mundo, sua popularização na cultura ocidental ocorreu na Europa em meados do século XVIII. Personificação da cultura e do lazer, ainda hoje são utilizados em festividades locais, criando um ambiente de dança e apreciação musical. Presente nas praças públicas brasileiras do final do século XIX e início do século XX, os coretos contam parte da história urbana nacional, pois foram considerados objetos símbolo de modernidade e desenvolvimento urbano. (Projeto “Coreto de Minas”- PUC-MG.).
Por João Vicente
O Coreto é uma construção que ainda observamos nas cidades interioranas que conseguiram preservar esse elemento urbanístico que teve grande importância até o fim da década de 1960. Ele guarda o romantismo do tempo em que as praças eram o ponto central dos eventos da sociedade. Sua arquitetura básica é composta de planta circular, elevado em alvenaria e com cobertura.
Alguns estudiosos apontam que o Coreto nasceu na China e foi trazido para a Europa na época das Cruzadas. Outros sugerem que ele surgiu com os movimentos liberais europeus, no século XIX, como forma de democratização de espaços para oradores e apresentações musicais, onde a população pobre poderia assisti-los, por isso o formato redondo. E isso foi um grande passo na sociedade que até então vivia excluída das atividades artísticas restritas aos grandes salões, palácios e óperas, como também para a política em si, pois vários pensadores ou líderes poderiam expor suas ideias aos menos favorecidos e assim surgir movimentos locais. Esse espaço democrático se espalhou por toda a Europa e, em vários países, tinha significados distintos: na Itália coretto significava local de vendas de tabaco, bebidas e jornais; na Inglaterra bandstand, na França kiosque a musique e na Espanha quiosco de musica significava local de apresentação de bandas musicais.
No Brasil
Com o início das instalações dos povoados e das vilas, o centro era, em sua maioria, composto por uma capela com um espaço aberto em frente, que hoje denominamos de praça. Nesse espaço, chamados “Largo da Praça” eram construídos chafarizes, para o abastecimento de água que predominaram até o fim do século XIX. Quando as praças começaram a receber o paisagismo, o coreto surgiu como elemento decorativo e tornou-se popular, com a função de entretenimento para a população e também um espaço para discursos políticos e transmissão de notícias importantes. A expressão bagunçar o coreto significa que a(s) pessoa(s) atrapalhou algum acontecimento importante da cidade. Na década de 1940, a popularização do rádio e suas radionovelas, fizeram com que as pessoas ficassem mais em suas casas à noite e, uma década depois, com a chegada da televisão, o coreto foi relegado ao segundo plano, principalmente nas cidades médias. Muitos coretos foram demolidos, ou “abafados” nas praças dos grandes centros urbanos, porém nas cidades interioranas eles ainda são destaque na paisagem urbana e funcionam como antigamente.
Um breve relato da história do Coreto de Piranga
Em 1922, o governo brasileiro incentivou as administrações municipais a construir coretos e praças como marco histórico para comemorar o centenário da Independência do Brasil nos largos das Matrizes que passaram no ano 1922 a chamar, “Praça da Liberdade”. Piranga em 1924 tinha como administrador, o Cel. Amantino Maciel, que na época passava por um processo de recuperação sanitária proveniente dos estragos que a gripe espanhola (1918-1919) havia causado a população e se estruturava com obras de urbanização, como calçamento e a construção do novo Fórum de estilo neoclássico. Com o advento do centenário da Independência, o prefeito Cel. Amantino Maciel também aderiu ao movimento e construiu o coreto no antigo largo da Matriz Nossa Senhora da Conceição. Um fato misterioso aconteceu na época o que fez atrasar a inauguração do coreto. O arquiteto alemão, Franz Joseph Bolt, responsável pela obra tanto do Fórum, quanto do coreto foi encontrado morto em novembro de 1922 e substituto pelo mestre Rafhael Giulliano que terminou a obra, inaugurada em 7 de setembro em 1923.
Antigo Fórum de Piranga, estilo neoclássico. Na ultima administração era a sede da Prefeitura, hoje abriga departamentos municipais e que futuramente pode virar o Museu da cidade.
Com a construção do coreto e da praça, o antigo largo da Matriz transformou em espaços de lazer e cultura na cidade. A praça e o coreto passou a ter um papel cultural importante na vida citadina dos moradores de Piranga com a realização de manifestações culturais, políticas e de lazer, principalmente depois das missas com a chegada da luz elétrica. O coreto é um dos patrimônio mais valioso da população piranguense, pois ele representa uma memória viva de gerações a gerações que curtiram o coreto como um espaço de namoricos,de brincadeiras de crianças,de abrigo dos foliões nos velhos carnavais, pelos comícios políticos e pelas corporações musicais.Como eu morei na praça, lembro de tudo isso que citei sobre a praça e o coreto na década de 60 e 70. A atual Pça Cel. Amantino Maciel, onde fica o coreto, recebeu esse nome em 1960( lei 218 de 28.12)sancionada pelo prefeito Zuzu.
Vale destacar que arquitetura do coreto de Piranga difere da maioria dos coretos construídos em |Minas Gerais e no Brasil. Enquanto os coretos são circulares, o de Piranga tem estilo oriental com charola templária octogonal e na sua laje uma lira harpa simbolizando que aquele espaço é um espaço da musica e de manifestações culturais local.
Apesar da importância cultural que o coreto de Piranga tem para seus moradores nenhuma atividade oficial foi programada para comemorar o Centenário do coreto, inaugurado em 1923, juntamente com o prédio do Fórum de estilo neoclássico. Vale ressaltar que o símbolo da atual administração municipal é o próprio coreto.
Mais informações sobre a história do coreto de Piranga, visite o Arquivo do Conhecimento Claudio Manoel da Costa que fica na antiga rua do Estudo no interior do Escritório de Contabilidade Gomes, o mais antigo escritório contábil da região, onde você encontrará um livro escrito pelo diretor do ACCMC, Marco de Nilo que conta com mais detalhes a história de um dos coretos mais bonitos do Brasil.
Fonte: Arquivo do Conhecimento Claudio Manoel da Costa-Piranga-Adpatação texto Renata Weber-Site Cultura&Cidadania)
Foto capa: Guara Drone