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Como 3 guerras simultâneas desafiam certezas sobre economia mundial

O abastecimento mundial de insumos, alimentos e commodities, assim como a volatilidade das moedas, são fortes questões de insegurança

Com o aquecimento do conflito entre Israel e Palestina, o mundo volta a se deparar com um cenário caótico de incertezas políticas e econômicas.

O abastecimento mundial de insumos, alimentos e commodities, assim como a volatilidade das moedas, são fortes questões de insegurança.

Hoje, três conflitos tomam a atenção do mercado, apesar de existirem pelo menos o dobro de guerras ativas ou em iminência no globo: a Guerra da Ucrânia, conflitos na Armênia e em Israel-Palestina.

As vidas perdidas nas disputas políticas e territoriais não podem nem devem ser precificadas. O desastre humanitário é óbvio.

Seus efeitos econômicos, entretanto, podem ser medidos, de certa forma. Os impactos da Guerra da Ucrânia na economia, por exemplo, ficaram claros em todo o mercado global: Vimos o aumento significativo dos preços do petróleo, o surgimento de uma Arábia Saudita cada vez mais influente na OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), a crise dos grãos devido à necessidade dos navios de atravessarem o Mar Negro – e que gerou o Acordo de Grãos. Vimos também uma China exportando e negociando cada vez mais em Yuan, em oposição ao dólar.

Agora, temos um novo conflito em iminência e o aquecimento de uma guerra antiga. Esses conflitos são destaques pelo seu potencial de disseminação mundial. Os Estados Unidos já ofereceu seu apoio a Israel, a França já ofereceu armas à Armênia, e a União Europeia, junto aos EUA, são os financiadores da ajuda humanitária e armamentística à Ucrânia.

Efeitos econômicos dos conflitos

Alguns fatores econômicos são comuns em ascensões de conflito. O primeiro é o aumento do preço do petróleo.

Além de essencial para o comércio mundial, o petróleo também é essencial para guerras. Ele que permite o transporte e, portanto, o deslocamento de exército e armas, mas também garante o abastecimento das sociedades civis.

Só nesta segunda-feira (9), após as notícias de aumento de violência no território israelense e palestino no final de semana, o petróleo brent já registra uma alta de 4%, às 11h20.

Outro fator comum é a migração do capital para ativos de renda fixa. Com commodities mais caras, a inflação aumenta e os países tentam controlá-la aumentando as taxas de juros. Ou seja, além da renda fixa ficar mais atrativa, com maior retorno, ela também se torna um centro de segurança quando tudo parece incerto.

Nem Israel, nem a Armênia possuem comércios significativos diretos com o Brasil, ao contrário da Rússia que é parte do BRICS. Por isso, a curto prazo, a previsão de impactos no país deve ser alinhada a economia mundial, sem efeito direto em algum produto específico.

Entretanto, os oleodutos e gasodutos que atravessam a região separatista de Nagorno-Karabakh (núcleo do conflito) são essenciais para o abastecimento da Europa.

Uma eventual interrupção desses dutos, por razões do conflito ou não, podem e devem acarretar altas dos preços das commotidies na Europa e no mundo.

As moedas também são um ponto de atenção. Ainda não vemos efeitos no dólar, que nesta segunda-feira (9) opera dentro da estabilidade, mas isso não significa que veremos futuramente. O mercado ainda processa os conflitos e não sabe se deve priorizar a segurança do dólar ou temer mais um surto de inflação.

E os Estados Unidos?

Os Estados Unidos vivem uma divisão no Congresso quanto a aprovação do novo orçamento. Todos os anos, as casas devem aprovar um orçamento de gastos do ano fiscal seguintes, que começa em 1º de outubro. Entretanto, outubro já começou e não temos definição.

No sábado (30), o Senado e a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovaram uma extensão do orçamentária de 45 dias, para evitar o “shutdown”, ou uma paralisação dos órgãos públicos por falta de financiamento.

O acordo entre as casas mostra mais uma divisão do que um fim para a questão. Os congressistas ganharam mais 45 dias para decidir o que vão fazer com o dinheiro do país – e esses dias serão essenciais para determinar qual vai ser o apoio americano ao estado de Israel.

Antes do aquecimento do conflito Israel-Palestina, Biden já havia solicitado um financiamento adicional de US$ 24 bilhões para a Ucrânia – que não inclui as centenas de bilhões já aprovadas.

E não é como se a economia dos EUA pudesse arcar com mais gastos. Hoje vemos uma taxa de juros alta, sem previsão de redução. O mercado de trabalho está aquecido, o que apesar de soar como algo positivo, acaba por aumentar a disponibilidade de dinheiro no mercado e, portanto, a inflação que o Federal Reserve (Banco Central americano) tanto tenta conter.

Caso os Estados Unidos se envolvam financeiramente e decida mandar ajuda humanitária para Israel, isso significa mais dinheiro saindo da reserva financeira dos Estados Unidos e indo para a economia mundial – mais dinheiro circulando, portanto, mais inflação.

A alta do petróleo e o poder político da Arábia Saudita na OPEP também geram incertezas, e o país está secando suas reservas estratégicas da commodity. Em abril, os estoques caíram para seus níveis mais baixos desde 1983.

Teremos uma Terceira Guerra Mundial?

Com a memória recente de duas guerras mundiais, é comum se perguntar quando será a terceira, mas na visão dos analistas de relações internacionais, essa não é uma ameaça iminente.

Aqui, é importante destacar que há uma diferença entre participar do conflito e enviar ajuda militar e humanitária. Até então, essa é a linha que, nem os Estados Unidos, nem a União Europeia, decidiram cruzar – e é isso separa um envolvimento de uma efetiva atuação no conflito.

Questão Armênia

Armênia e o Azerbaijão disputam região de Nagorno-Karabakh desde o fim da União Soviética (URSS), em 1991.

Nagorno-Karabakh tem maioria armênia cristã, com governo próprio não reconhecido, sendo ocupado por forças militares armênias, mas ainda conectado ao território do Azerbaijão.

Nas últimas semanas o conflito (e o armamento utilizado) escalou fortemente. Para a Armênia, esta é uma resposta ao ataque do Azerbaijão a assentamentos civis na região. Para o Azerbaijão, a Armênia matou uma família em seu território e sua operação contra-ofensiva servirá para pôr fim à ocupação.

Na semana passada, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, criticou o envio de tropas francesas ao seu país rival.

O Azerbaijão, por sua vez, tem forte apoio da Turquia.

A questão é que ambos os países (e a região separatista) são vitais para o fornecimento de gás e petróleo à Europa. Por lá, passam os gasodutos e oleodutos que conectam o Golfo Pérsico ao continente europeu.

Israel-Palestina

Central na disputa entre Israel e Palestina, a cidade de Jerusalém já foi reivindicada e ocupada por diversos Estados, árabes, cristãos ou judaicos. A própria divisão da cidade é baseada no teor religioso.

O conflito que vemos hoje, entre Israel e Palestina, foi intensificado pela criação do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948.

Até então, a Palestina era ocupada pelo Reino Unido e tinha maioria árabe.

A criação do Estado de Israel diminui consideravelmente as terras palestinas, e com o passar dos anos, a expansão de Israel restringiu a ocupação palestina a apenas duas áreas: a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

Fonte: Estado da Palestina

O grupo Hamas, autor dos novos ataques a Israel, foi fundado em 1987, mas seu viés militar só se deu a partir da década de 1990. Ele é um movimento político, considerado terrorista por Israel, que visa a libertação do Estado da Palestina.

Os ataques vistos no final de semana mostram um escalonamento do conflito.

Hoje, a Faixa de Gaza, onde se situam 70% dos refugiados palestinos, 95% da água é impropria para o consumo, 50% da população vive abaixo da linhada pobreza (com renda de menos de US$ 2 por dia) e o fornecimento de energia elétrica é controlado pelo Estado de Israel. As informações são do Grupo de Estudos em Conflitos Internacionais (GECI).

Imagem: piqsels.com

FONTE MONITOR DO MERCADO

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