A atividade será ministrada pela mestra Tantinha, que faz parte da organização Articulação Pacari; ela vai ensinar uma receita de pomada para curar dores
Desde pequena, Aparecida Ana de Arruda Vieira, a Tantinha, segue os passos da avó e da mãe, aprendendo os segredos e os poderes das ervas medicinais. Hoje, ela se diz uma autêntica raizeira, pessoa detentora de um conhecimento transmitido através de gerações, e sabe, como ninguém, identificar em um determinado ecossistema as plantas que curam.
No dia 18, Tantinha estará na Fazenda Boa Esperança, em Belo Vale (MG), ministrando uma oficina de ervas medicinais. Ela vai ensinar aos participantes a produzir uma pomada com as plantas encontradas no Cerrado. “Escolhi a pomada por conta do lugar. Gosto de trabalhar com as plantas que têm no entorno, para alertar as pessoas para a necessidade de preservar aquele bioma”, conta.
Para a aula-show, ela vai levar algumas ervas, como barbatimão, com propriedades cicatrizantes; a erva-baleeira, de ação anti-inflamatória e analgésica; as sementes de sucupira, que define como “antibiótico natural”; angico e pacari, antibactericidas. Para a receita, além das sementes de sucupira, vai usar a canela-de-velho, para produzir uma pomada para aliviar as dores articulares. “Cada um vai fazer e levar sua pomadinha para casa”, fala.
Tantinha faz parte atualmente da Articulação Pacari, uma rede socioambiental formada por organizações comunitárias com presença em vários Estados do país, que praticam a medicina tradicional por meio do uso sustentável dos recursos do bioma Cerrado. A maioria das integrantes são mulheres, agricultoras, extrativistas, assentadas da reforma agrária, indígenas, quilombolas e agentes pastorais, que defendem os conhecimentos da medicina tradicional.
“Defendemos o uso das plantas medicinais, dos remédios caseiros e da alimentação saudável. Inclusive trabalhamos com Plantas Alimentícias Não-Convencionais (Pancs). O Cerrado está sendo muito injustiçado, devastado. A gente precisa preservar esse bioma brasileiro para manter o conhecimento de pé”, destaca Tantinha. Com as plantas medicinais, não só se produz remédios, mas xaropes, sabonetes, tinturas e óleos essenciais.
Em 2010, a Articulação Pacari produziu a publicação “Farmacopeia Popular do Cerrado”, referência bibliográfica reunindo os conhecimentos tradicionais de raizeiras e raizeiros do Cerrado. Já Tantinha também registrou sua história no livro “Ervanário São Francisco”, originado a partir de um trabalho comunitário no bairro Alto Vera Cruz, na periferia de Belo Horizonte. Transferido para Sabará, ela trabalha no ervanário medicina popular e alimentação natural.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 80% da população mundial depende da prática da medicina tradicional para atender suas necessidades de saúde. No Brasil, a Lei 13.123, promulgada em 2015, conhecida como Lei da Biodiversidade, já regulamenta a defesa e o uso sustentável dos recursos genéticos dos biomas. Para Tantinha, conhecer, cuidar e preservar são palavras-chave da medicina tradicional. “Esses são saberes de nossa ancestralidade que precisamos conhecer para utilizar com sabedoria, respeito e segurança”, conclui.
O “Diagnóstico sociocultural nas Comunidades Quilombolas de Belo Vale”, produzido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de MInas Gerais (Iepha- MG), destaca o conhecimento sobre os usos das plantas, hortas e ervas medicinais como um saber das comunidades locais. O documento ainda enfatiza a presença das plantas medicinais, facilmente encontradas nos quintais e nos matos e comumente utilizadas como chá e banho de assento,
Serviço
Oficina de plantas medicinais e produção de pomada com mestra Tantinha. Das 9h às 11h30, na área externa da Fazenda Boa Esperança.