Resguardar a própria segurança na internet nem sempre é uma tarefa simples. Criminosos inventam maneiras cada vez mais criativas de se aproveitar de vulnerabilidades, vazamentos de dados acontecem a todo momento e, manter-se em dia com os avanços da tecnologia, requer tempo e empenho. Ainda por cima, um fator de complicação “invisível” pode estar em sua própria família.
Crianças e adolescentes não têm o mesmo grau de responsabilidade e conhecimento de adultos. Em contato com a internet podem não apenas se expor a situações de risco, mas também trazer prejuízos a seus pais e responsáveis – às vezes sem intenção ou noção disso.
Exposição de senhas
É verdade que relações de confiança devem ser nutridas entre pais e filhos. Instruir corretamente as crianças, esclarecendo os perigos da internet e a existência de estranhos mal-intencionados pode evitar a revelação de senhas e dados sensíveis na internet, por exemplo.
Senhas perdidas podem levar a diversas consequências ruins, como a invasão de redes sociais ou e-mail por agentes maliciosos. Ter o WhatsApp, Instagram ou Facebook hackeado pode render desde apenas uma inconveniência momentânea até um prejuízo considerável.
Dependendo da ação de cibercriminosos, as redes sociais podem ser usadas para difamar seu alvo, atrair outras pessoas a golpes virtuais ou mesmo inutilizar uma plataforma digital que milhões de pessoas no Brasil usam como peça fundamental para conseguir projeção profissional.
A velocidade com que se descobre a exposição de uma senha é providencial para mitigar os possíveis danos. Felizmente, as combinações em regra podem ser mudadas sem muito esforço – contanto que o criminoso em posse da senha não se antecipe e faça o mesmo. Por via das dúvidas, ativar a autenticação em dois fatores previne “sustos” mesmo quando a senha é exposta na internet.
Lamentavelmente, não se pode dizer o mesmo quando crianças acabam revelando informações sensíveis. Informações sensíveis podem ser entendidas como aquelas que podem revelar a identidade ou as práticas cotidianas de alguém.
Fraudes para coletar dados sensíveis
Uma senha pode ser mudada facilmente. Um número de telefone exige um pouco mais de tempo e esforço para ser alterado. Um CPF, nome completo ou endereço permanecem à mercê de criminosos assim que eles travam contato com esses dados.
De fato, cibercriminosos e outros golpistas experientes muitas vezes partem de apenas uma ou duas informações e ainda assim conseguem descobrir e aproveitar dos detalhes da intimidade de uma vítima. O cruzamento de dados é uma das práticas fundamentais para conseguir esse tipo de objetivo maligno.
Além disso, golpes de engenharia social podem ajudar a obter muitos outros dados sensíveis a partir de um relativamente simples. Nesse tipo de golpe é que crianças e jovens podem ser enganados facilmente: alguém ligando por telefone ou mandando mensagens de texto se fazendo passar por gerente de banco, amigo dos pais ou outra figura de confiança para “arrancar” informações, por exemplo.
Mais uma vez, a educação cumpre papel relevante. E a vigilância deve ser redobrada com golpes de phishing. Golpistas virtuais fraudam a identidade de comunicações em redes sociais, e-mails e até em salas de conversas de jogos para conseguir que vítimas cliquem em links maliciosos.
Eventualmente, um mero clique errado pode custar caro: infecções com spyware e a abertura de portas para um sequestro de discos rígidos ou dados sensíveis via ransomware são algumas das consequências mais graves.
Desafios da inteligência artificial
Outro exemplo de erros de filhos que custam caro aos pais na internet são alguns casos recentes de exposição indevida no YouTube. Essa plataforma de vídeos do Google usa sistemas com inteligência artificial (IA) para analisar as centenas de horas de vídeo que alimentam a plataforma a cada minuto.
Essa tecnologia é suscetível a falhas. Há casos de menores de idade subindo vídeos contendo algum grau de nudez ou exposição na conta do YouTube dos pais, que expuseram os adultos inocentes como se fossem molestadores de crianças.
Esse processo de filtragem por IA acontece num ritmo acelerado e consiste num protocolo para defender menores de idade de abusos na internet. Entretanto, até que se prove à empresa que houve um erro de julgamento em certos casos, pode trazer prejuízos de graus variáveis.
Alguns pais pegos erroneamente na filtragem tiveram o acesso cerceado a outros serviços do Google, como e-mails, documentos, fotos e vídeos privados. Outros casos levaram a consequências ainda mais drásticas, incluindo a abertura de investigações policiais.
Enfim, as sociedades já estão expostas à interação com IAs em plataformas e tarefas diárias. Porém, sistemas de filtragem, análise e algoritmos que atendem populações de países inteiros tendem a apontar para cada vez mais desafios como esse – às empresas, às autoridades e, principalmente, aos pais.