Em oito horas de evento, 28 chefs brasileiros transformam a carne na principal estrela da festa
Imagine-se em uma boutique gigante de carne, ao ar livre, com 28 autoridades da gastronomia brasileira, de frente para a Serra de São José, em um resort de Tiradentes, cidade que se esmera quando o assunto é comida de qualidade. Foi assim a 3ª edição do Festival de Churrasco Caminhos de Fogo, que reuniu, sexta e sábado (3 e 4/5), na cidade mineira, cerca de 2.500 pessoas para saborear carnes bovinas, suínas, aves, enfim, vários tipos de proteína. Em comum, o uso do fogo na execução de todos os pratos.
Na sexta à noite, os chefs participaram de um encontro na vinícola Luiz Porto, na própria Tiradentes, com um jantar preparado por um dos participantes do evento, Rodolfo Mayer.
Guilherme Rodrigues Macedo, organizador do evento, destaca a importância de festivais como este, que reforçam a ideia de um encontro gastronômico em que o conceito de carne difere muito dos sabores tradicionais. “A intenção é receber bem as pessoas, com uma curadoria gastronômica incrível e grandes chefs, atendendo todos os gostos e provocando uma curiosidade nas pessoas sobre o que é a gastronomia do churrasco”, comenta.
Gastronomia esta que atrai pela diversidade de proteínas, pela oportunidade de experimentação e pelos chefs convidados. Se na primeira edição eram 18 chefs, neste ano foram 10 a mais – escolhidos a dedo – do Sul ao Norte do país. Eduardo Brandão Jarussi, curador do festival, explicou que os chefs são selecionados a partir do que oferecem de novo – seja na elaboração seja nos ingredientes que compõem o cardápio. “Quem participa do Caminhos de Fogo sabe que vai encontrar aqui sabores que provavelmente nunca experimentou, misturas diferentes, às vezes exóticas, outras com um toque a mais.”
PIRARUCU DA AMAZÔNIA
Nomes como o famoso chef Jimmy Ogro, que arrebata fãs por todo o Brasil, e Helvécio Maciel, dono da única estação do festival que ofereceu peixe, no caso três Pirarucus de 100 quilos cada, vindos diretamente do Pantanal. Em sua trajetória e experiência gastronômicas, Helvécio faz sempre um resgate de técnicas e práticas ancestrais. Nesse sábado, ele cozinhou um clássico de Manaus (AM), o “Pirarucu de casaca”, servido com farinha de Uarini (interior do Amazonas), ovo, banana-da-terra e espuma de cupuaçu. “Desta vez, fizemos o peixe moqueado (técnica em que o calor da fogueira cozinha e defuma os alimentos).”
Já as carnes bovina e suína foram as estrelas do festival. Desde os pratos mais tradicionais – como a costela de boi e a pancetta de porco com molhos especiais até os hambúrgueres, que fizeram a alegria dos participantes com suas famílias, jovens e crianças. O português quase “mineiro” Cristóvão Laruça, proprietário de várias casas de Belo Horizonte, como Caravela, Turi e Capitão Leitão (que deverá ser reaberto no segundo semestre), apresentou no festival o Steak Short Rib (filé de costela bovino) com caramelo de cogumelos e umami, além de uma folha de mostarda na brasa. “É a primeira vez que participamos. O Eduardo lançou o desafio e topamos.”
DEUS E O CORDEIRO
Uma estação que chamou bastante atenção foi da chef Priscila Deus, que fez Lamb Tikka de Cordeiro, utilizando-se de especiarias indianas e curry verde. Natural de São Paulo, Priscila atuou por 12 anos na rede Pobre Juan, além de ter morado na Europa por seis anos, onde trabalhou em um restaurante com aproveitamento total do animal, com influência da cozinha indiana. “Preparei um varal de paleta e pernil de cordeiro, com um mix de especiarias. Deixei o cordeiro ‘pegando’ uma leve fumaça, fiz uma base de curry e fui emergindo e, posteriormente, coloco no varal. A partir daí, o cordeiro cria uma crostinha e também fiz o curry verde.
Priscila gosta muito de contar histórias de tudo o que ela já viveu por meio dos pratos. “Eu acho que churrasco é isso. Explorar e trazer esse outro universo para as pessoas.” No próximo dia 22, ela vai organizar um jantar – da entrada à sobremesa – com pirarucu. O objetivo é estimular o manejo e consumo sustentável, especialmente das populações ribeirinhas. “O que eu puder fazer para o meu país utilizando o fogo, eu vou fazer.”
Para o curador Eduardo Jarussi, “é fundamental que as pessoas entendam que churrasco é o preparo no fogo e não carne”. Após o fim do evento, ele diz que já começa a pensar no evento do ano que vem, sempre no primeiro final de semana semana de maio. “Este foi o maior evento até aqui no número de chefs, ocupando o dobro da área. Queremos que o festival se mantenha nesse formato: poucas filas, com espaço, que as pessoas possam bater um bom papo e curtir a comida.” Agora é aguardar maio do ano que vem.
FONTE ESTADO DE MINAS