O jornalista e pesquisador Alexandre Costa analisou as transformações políticas, sociais, culturais e econômicas de Congonhas nos últimos 50 anos em sua tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
A pesquisa – intitulada Congonhas e o espelho quebrado da representação – investigou as complexidades locais, relações de poder e disputas simbólicas que moldaram representação histórica da “cidade dos profetas”.
A tese de Alexandre conquistou o prêmio de melhor tese de 2023 no âmbito do programa e foi indicada recentemente para concorrer ao prestigioso Prêmio Capes de Teses de 2024.
Alexandre Costa morou em Congonhas de 2007 a 2015 e teve experiências significativas nas rádios Colonial FM, Educativa FM, Congonhas AM e na assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal.
Patrimônio e progresso
O trabalho do jornalista, que fez uma análise documental minuciosa e entrevistas com 22 testemunhas-chave, revela uma Congonhas dividida entre um passado colonial e religioso e um futuro prometido pelo modelo desenvolvimentista da mineração.
Congonhas é famosa por abrigar o icônico Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, legado artístico do barroco-rococó atribuído ao mestre Aleijadinho, reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial desde 1985. Por outro lado, a cidade é conhecida como um importante polo minerador do Brasil, abrigando gigantes como Vale, CSN e Gerdau.
Alexandre identificou uma “colisão” de dois movimentos temporais nos anos 1970 que desafiaram a representação histórica da cidade, levando-a a uma crise do tempo. Segundo o jornalista, “a expansão industrial e a corrida pelo reconhecimento internacional de patrimônio cultural são evidências dessa transformação”.
Em sua tese, Costa também lança luz sobre personagens marcantes da cidade, como o médium “Zé Arigó”, e sobre desafios urgentes enfrentados por Congonhas, que, apesar de deter o título de patrimônio mundial, também lida com questões ambientais e sociais e sofre com a dependência econômica da mineração.
“Congonhas se encontra exatamente neste lugar, parafraseando Hannah Arendt, entre um passado que já não é mais e um futuro que não chegou ainda. A cidade, patrimônio mundial, é a mesma que possui as maiores barragens de rejeito da América Latina e ameaça o meio ambiente e a segurança das pessoas que moram no entorno”, pontua o pesquisador.
A tese Congonhas e o espelho quebrado da representação disputa agora o Prêmio CAPES de Tese, o qual reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos em programas de pós-graduação brasileiros.
Em 2024, o Programa de Pós-Graduação em História da UFJF tenta repetir o sucesso do ano anterior em que a doutoranda Emilla Garcia venceu com a tese “Censura Negociada: As Telenovelas de Dias Gomes na Rede Globo entre 1969 e 1979”.
- Foto capa: Hugo Cordeiro