ABAIXO A CENSURA! CIDADE VIRA CHACOTA NACIONAL: Academia de Letra divulga Manifesto em prol de uma educação crítica e libertadora

Conselheiro Lafaiete (MG) ganhou destaque como chacota nacional ao suspender uma obra do cartunista Ziraldo após pressão de um grupo de pais. Leia nota.

A Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, entidade literária com três décadas de atuação em Conselheiro Lafaiete, após reunir-se em Assembleia Geral, manifesta seu repúdio à censura praticada pela Secretaria Municipal de Educação – SEMED – ao suspender o livro “O menino marrom” do autor Ziraldo.

Buscando a compreensão dos fatos convidamos para esta Assembleia a SEMED que, alegando “compromissos agendados anteriormente”, não pôde comparecer.

A recente decisão de suspender os trabalhos relacionados ao livro “O Menino Marrom”, de Ziraldo, após manifestações da comunidade escolar, gerou um intenso debate sobre a liberdade de expressão e o papel da educação na formação de cidadãos críticos e informados. A reverberação da notícia em âmbito nacional impacta a ACLCL e seus membros, haja vista que somos uma entidade que se preocupa com as Letras, Ciências e Artes.

Este impacto nos convoca a pensar sobre a preservação do bom nome da cidade que outrora, ainda Queluz, foi designada como “cidade dos livros e das flores”. Esta bela definição feita pelo jornalista Arthur Loureiro em 1911 no jornal do Commercio de Juiz de Fora, perdura por décadas, trazendo à memória um passado onde abrigávamos as mais importantes bibliotecas do estado de Minas Gerais e que foi o berço do internacionalmente conhecido romance “A Escrava Isaura”, de autoria de Bernardo Guimarães.

Desta maneira acompanhamos, com preocupação e cautela, as reverberações das ações institucionais frente à manifestação de pais e responsáveis de alunos da rede pública municipal, que desconfortáveis com a obra “O menino marrom” do escritor, cartunista, chargista, pintor, cronista, desenhista, advogado e jornalista mineiro Ziraldo, recorreu à gestão escolar e outras searas indagando e criticando a usabilidade da obra nas práticas de ensino-aprendizagem.

Falamos sobre leitura e precisamos compreender que se trata da decodificação e interpretação de símbolos, letras e palavras para extrair significado de um texto escrito ou imagético. Ele envolve não apenas a compreensão literal do conteúdo, mas também a capacidade de inferir, analisar e refletir sobre o contexto e as ideias apresentadas, promovendo o desenvolvimento do pensamento crítico e a ampliação do conhecimento. A leitura é fundamental para a educação e a comunicação, permitindo acesso a diferentes culturas, perspectivas e informações que enriquecem a experiência humana e contribuem para o crescimento pessoal e intelectual.

Na esteira deste diálogo precisamos trazer a definição de censura, que foi reiteradamente citada nas publicações. Censurar é suprimir ideias, informações e expressões que podem ser consideradas ofensivas, inconvenientes ou ameaçadoras por determinadas entidades ou grupos organizados. Em um contexto educacional, a censura pode limitar o acesso dos estudantes a diversas perspectivas e restringir o desenvolvimento de suas habilidades críticas e reflexivas.

Livros como “O Menino Marrom” desempenham um papel importante na educação, no ambiente escolar e familiar e ao abordarem temas sensíveis como o racismo, comportamento humano, diversidade e inclusão abre-se um leque para formar verdadeiros cidadãos de bem, que sabem viver em sociedade e possuidores dos mais elevados conceitos de respeito, empatia e cidadania. Obras desta envergadura oferecem uma oportunidade para que alunos, pais e educadores discutam e reflitam sobre questões sociais atuais relevantes, promovendo uma compreensão mútua do mundo vasto e plural que todos nós enfrentamos diuturnamente.

É desalentador o histórico negativo que este episódio deixará marcado em nossa cidade, contudo faz-se necessário extrair, com os recursos possíveis, boas práticas para aprimorar e/ou renovar o diálogo família-escola-sociedade.

Acreditamos que através de um diálogo construtivo e da implementação de estratégias inovadoras, é possível transformar esse desafio em uma oportunidade de crescimento e aprendizado para toda a comunidade escolar, renovando o histórico de “Cidade dos livros e das flores”. A Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette está à disposição para colaborar na implementação dessas estratégias, a fim de construirmos, juntos, uma educação mais inclusiva e transformadora.

Conselheiro Lafaiete, 22 de junho de 2024

Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette
Labore Scriptisque ad immortalitatem

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