A Academia Brasileira de Letras (ABL) divulgou, na manhã desta quarta-feira (26), uma nota de repúdio criticando a decisão da Prefeitura de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais, de recolher exemplares do livro “O Menino Marrom”, de Ziraldo, das escolas municipais. Segundo a instituição, “episódios dessa natureza têm se repetido em escolas brasileiras, seguindo um padrão preocupante, e reflete um padrão preocupante de censura a obras literárias”.
Em uma postagem no Instagram, a ABL criticou o posicionamento dos pais que pediram a proibição do livro.
“Um livro é selecionado e aprovado pelo Ministério da Educação, é aceito pelas escolas e, posteriormente, vira alvo de censura por parte de pais ou pedagogos, que apresentam argumentos frágeis e insuficientes contra a obra literária”, informou.
A academia ainda destacou o tempo em que a obra, que conta a historia de dois amigos, é utilizada pelos estudantes e lembrou o autor, Ziraldo, morto em abril aos 91 anos.
“Este livro, publicado em 1986 por um autor premiado e respeitado tanto no Brasil quanto no exterior, é um clássico da nossa literatura infantojuvenil, lido nas escolas brasileiras há quase quatro décadas” ressaltou.
A prefeitura divulgou um comunicado nas redes sociais na última quarta-feira (19), informando que a decisão foi tomada após reclamações dos pais sobre o conteúdo da publicação.
O texto ainda destacou que o livro aborda de “forma sensível e poética temas como diversidade racial, preconceito e amizade” e que é um “recurso valioso na educação, pois promove discussões importantes sobre respeito às diferenças e igualdade”.
Apesar disso, disse que lamenta “interpretações dúbias” e que, em “respeito aos pais e a comunidade escolar”, iria suspender temporariamente o uso do livro em sala de aula para uma “melhor reflexão”
“Diante das diversas manifestações e, divergência de opiniões, procedeu à solicitação de suspensão temporária dos trabalhos realizados sobre o livro ‘O Menino Marrom’, do autor Ziraldo, a fim de melhor readequação da abordagem pedagógica, evitando assim interpretações equivocadas”, explicou o órgão.
Em publicações, pais criticavam o conteúdo da obra. “O livro fala em fazer pacto de sangue. Tem um trecho de uma velhinha atravessando a rua e duas crianças olhando e desejando a sua morte”, reclamou um pai, que chamou o livro de “satânico”.
No entanto, houve quem discordasse da decisão. “Um absurdo! Inacreditável censurarmos um livro, principalmente uma obra de um mineiro tão consagrado”, escreveu uma moradora da cidade.
Ontem (28) a justiça suspendeu a decisão da prefeitura de Lafaiete (MG).