Após quase 40 anos de atrasos, escândalos e bilhões investidos, a Ferrovia Norte-Sul se torna realidade, prometendo revolucionar o transporte de cargas no Brasil. Mas será que essa longa espera realmente valeu a pena?
Durante décadas, a promessa de uma conexão ferroviária que unisse as regiões Norte e Sul do Brasil ficou apenas no papel, alimentando a desconfiança de milhões de brasileiros.
O projeto, que deveria impulsionar a economia nacional e reduzir a dependência das rodovias, acabou se tornando sinônimo de escândalos e corrupção.
Agora, após uma espera que atravessou gerações, a Ferrovia Norte-Sul finalmente está em operação. Mas o que isso realmente significa para o país?
No segundo semestre de 2024, a Ferrovia Norte-Sul, com seus 2,2 mil km de extensão, foi concluída e realizou sua primeira viagem completa, transportando uma carga que passou pelos trilhos que conectam os portos de Itaqui (MA) e Santos (SP).
Essa realização marca um capítulo importante na história da logística brasileira, pois a ferrovia, que custou mais de R$ 11 bilhões, deve movimentar cerca de 22,7 milhões de toneladas de carga até 2055, conforme as projeções da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Um projeto ambicioso e problemático
A construção da Ferrovia Norte-Sul começou em 1987, administrada pela Valec, uma empresa pública ligada ao Ministério da Infraestrutura.
Inicialmente planejada para ligar Açailândia (MA) a Anápolis (GO), o projeto foi ampliado para se estender até Estrela D’Oeste (SP). Ao longo dos anos, o andamento da obra foi marcado por escândalos e desvios milionários, como apontado pelo Ministério Público Federal (MPF).
Segundo o MPF, durante a construção, foram identificados desvios de dinheiro público que chegaram a R$ 630 milhões apenas no estado de Goiás, entre 2006 e 2011, durante a gestão de Juquinha das Neves na Valec.
Juquinha foi condenado por lavagem de dinheiro, mas sua defesa afirmou que a sentença foi cassada e ele absolvido em diversos processos. Esses episódios de corrupção atrasaram ainda mais a conclusão do projeto, elevando seus custos e aumentando a desconfiança da população.
Uma nova era para a logística brasileira
Com a conclusão do trecho goiano, a Ferrovia Norte-Sul agora conecta quatro regiões do país, passando por cinco estados, o que representa uma conquista significativa para a infraestrutura nacional.
O secretário Nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, destacou que 90% da obra foi construída com recursos públicos, mas houve concessões e subconcessões que permitiram a finalização da ferrovia.
No trecho norte, a operação é de responsabilidade da VLI, enquanto a empresa Rumo administra os tramos central e sul. Ribeiro ressaltou que, apesar dos custos elevados, a obra era essencial para promover a integração do Brasil e impulsionar o desenvolvimento regional.
A expectativa do Governo Federal é que a ferrovia não apenas favoreça a exportação da produção agrícola, mas também estimule o desenvolvimento econômico das cidades próximas à linha férrea, ao mesmo tempo em que reduz o impacto ambiental e melhora a segurança nas rodovias.
Primeira viagem e os impactos no transporte
A primeira viagem oficial da ferrovia foi um marco simbólico para o país. Em entrevista ao portal g1, o maquinista Wodson Baltazar Silva, que nem havia nascido quando as obras começaram, teve a honra de conduzir o primeiro trem ao longo da ferrovia concluída.
A viagem, realizada em caráter de comissionamento, transportou 112 contêineres com defensivos agrícolas, algodão e peças automotivas, de Cubatão (SP) até Anápolis (GO).
Moradores de cidades ao longo da ferrovia, como Santa Helena de Goiás, celebraram a inauguração, impressionados com a passagem dos vagões, que há muito tempo era aguardada. Para Elvia Antunes, moradora de Santa Helena, também em entrevista ao portal citado, a chegada da ferrovia é uma “maravilha” para a cidade, que agora tem novas perspectivas de crescimento.
Desafios e promessas para o futuro da ferrovia
Embora a inauguração da Ferrovia Norte-Sul represente um avanço, muitos desafios ainda estão por vir. A administração da ferrovia, a eficiência no transporte de cargas e a sua manutenção serão essenciais para que os benefícios esperados se concretizem.
De acordo com Daniel Salcedo, diretor comercial da Brado, empresa de logística que opera no trecho, a ferrovia tem potencial para reduzir significativamente as emissões de CO2 e oferecer uma alternativa mais sustentável e econômica ao transporte rodoviário.
Nos próximos cinco anos, espera-se que a operação da ferrovia reduza em até 160 mil toneladas as emissões de CO2, algo fundamental em um cenário onde as empresas buscam soluções mais sustentáveis. Esse é um dos principais argumentos para o sucesso do projeto, que, apesar das dificuldades, promete transformar a logística no Brasil.
FONTE CLICK PETRÓLEO E GÁS