Estelionatários simulam ser agentes da segurança pública na tentativa de obter senhas de celulares levados por ladrões. “Não tinha como desconfiar”, diz piloto
Mostrando que os criminosos sempre estão se reinventando, um novo golpe por meio do celular está sendo aplicado em Minas Gerais. Dessa vez, os golpistas se passam por policiais militares para transmitir credibilidade e enganar as vítimas. Gustavo Lancellotti, de 20 anos, foi um dos alvos. Ele trabalha como piloto de aplicativo com sua moto em Belo Horizonte e sofreu um acidente no dia 30 de setembro. Seu celular caiu nas proximidades. Enquanto aguardava atendimento, o jovem viu um homem se aproximar de moto, pegar o aparelho e fugir do local.
“Eu tive fratura exposta, estava no chão rolando de dor, quando passou um motoqueiro e viu meu telefone no chão. Achei que ia me ajudar, mas ele pegou meu telefone e simplesmente foi embora”, conta Gustavo.
Nesta última quinta-feira (17/10), a namorada de Gustavo, que estava listada como contato de emergência no aparelho dele, recebeu uma ligação de um homem que se apresentou como policial militar. Ele afirmou que o celular foi encontrado durante a prisão de criminosos e que estava entrando em contato para confirmar se o objeto era mesmo do jovem.
Segundo o motorista, o estelionatário falava com voz firme e de maneira formal, realmente se assemelhando a um policial real: “Não tinha como desconfiar”. Assim, o casal acreditou e passou os dados solicitados por WhatsApp. Em seguida, a conversa foi apagada pelo suposto militar e eles perceberam que haviam caído em um golpe.
“Na hora que eu percebi que era um golpe fiquei desesperado. É muito triste porque ele sabe da minha situação. O cara viu que eu tive fratura exposta, roubou meu telefone e ainda quis me dar um golpe”, relata. Entretanto, Gustavo, sem querer, passou as senhas erradas para o estelionatário. Só percebendo sua sorte horas depois da ligação.
Golpe em Barbacena
Uma mulher de 28 anos, que não quis se identificar, também foi vítima do golpe. No último sábado (19/10), ela se encontrava em um show no Parque de Exposições de Barbacena quando percebeu que seu celular havia sumido. A jovem não soube precisar se o aparelho foi furtado ou perdido.
Dias depois, ela recebeu uma ligação de uma pessoa se passando por policial e dizendo que o aparelho foi encontrado com um suspeito que estava tentando vendê-lo no Centro de Belo Horizonte. Assim como no caso de Gustavo, o estelionatário pediu os dados da jovem para verificar se era a dona do celular.
Desconfiando de que poderia ser um golpe, a mulher se recusou a compartilhar as informações. O suposto policial então abandonou a encenação e passou a fazer ameaças, afirmando ter o endereço da vítima e que iria invadir sua residência.
fraudes com celular
Golpes por meio de celular se enquadram no crime de estelionato virtual e é caracterizado por ações que visam obter vantagem ilícita e prejuízo alheio por meios fraudulentos. Para isso, os estelionatários utilizam de uma infinidade de formas que o golpe pode ter: ligações simulando sequestro de um familiar, oferta de bens, promoções falsas, etc.
“Essa estratégia usando a imagem da Polícia Militar é bem engenhosa, porque você tem uma figura de autoridade de um lado e pessoas mais vulneráveis de outro lado.”, declara o advogado especialista em direito criminal, Wallison Rosse.
O criminalista orienta as pessoas que caírem em golpes virtuais a registrar o boletim de ocorrência na Polícia Militar e avisar as pessoas próximas para que não haja mais danos. Ele explica ainda que, embora seja difícil, há a possibilidade de reaver os valores perdidos juridicamente.
“Quando você entra com uma ação judicial, a justiça pode determinar o bloqueio daquela conta (utilizada pelos estelionatários) para que tenha uma penhora de eventual valor. O problema é que às vezes aquela conta ela nem é mais utilizada ou está vazia”, explica.
Procurada pela reportagem, a PM explicou que os infratores utilizam de vários pretextos para enganar as vítimas, por isso alerta para que as pessoas não repassem nenhuma informação solicitada pelos golpistas e que acionem, imediatamente, a corporação por meio do 190.
Além disso, a instituição informa que iniciou a campanha “Se deu dúvida, é golpe!”. O objetivo é “chamar a atenção e conscientizar a população mineira, principalmente os idosos, sobre a atuação de criminosos que utilizam a internet para aplicar os mais diversos golpes de estelionato, como pix errado, promoções tentadoras, falsos atendentes de bancos, cupons de descontos e boletos falsos”.
Casos de estelionato aumentam em MINAS
Segundo o Anuário de Segurança Pública de Minas Gerais, divulgado em setembro, houve um aumento substancial das ocorrências de estelionato, sobretudo após 2015. Este fato estaria relacionado à possibilidade de aplicação do crime por meios virtuais. Segundo o documento, 56,3% dos autores do crime são homens. Já em relação às vítimas, 49,2% são mulheres e 48,1% homens. Sobre a cor da pele, 41,4% das vítimas são pretas ou pardas e 39,8% são brancas. Dados da PCMG mostram que, entre janeiro e setembro deste ano, foram registrados 79.869 ocorrências de estelionato digital em todo o estado – um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando registrou 63.710 casos. A expansão em Belo Horizonte é ainda mais significativa. De 5.579 registros em 2023, a ocorrência desse crime mais que dobrou em 2024, saltando para 12.272 ocorrências: uma alta de quase 120%.
FONTE ESTADO DE MINAS