×

Caminho de volta para a caleça do século 19

Arquidiocese de Mariana quer devolução de carruagem que pertenceu ao seu acervo até a década de 1940 e, hoje, está “escondida” no Museu da Inconfidência

A Arquidiocese de Mariana quer de volta a caleça que está no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, na Região Central de Minas. Em carta ao diretor do equipamento histórico e cultural vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)/Ministério da Cultura, o arcebispo dom Airton José dos Santos informou que, caso a carruagem do século 19 não tenha lugar nos espaços expositivos do Inconfidência, está disposto a recebê-la para compor o Memorial dos Bispos e Centro Cultural Frei Dom Manoel da Cruz, em Mariana.


Meio de transporte com quatro rodas, a tração animal, a caleça foi doada ao Inconfidência, em 1940, por dom Helvécio Gomes de Oliveira, então arcebispo de Mariana. Agora, nas comemorações dos 80 anos do museu, a polêmica toma conta das ruas de Ouro Preto. O motivo está no temor de perder o bem cultural para o Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em votação, a Comissão de Aquisição e Descarte de Acervo Museológico do Museu da Inconfidência (formada por servidores efetivos) definiu, com apenas um voto contra, sobre a cessão da peça para a instituição, que foi alvo de incêndio em 2 de setembro de 2018.


A votação no Inconfidência, ícone do Centro Histórico de Ouro Preto, atendeu a uma consulta do Ibram, feita a todos os museus brasileiros vinculados à instituição, para que doem ou cedam peças a fim de compor o acervo do Nacional, que perdeu a maior parte dos seus 20 milhões de itens no incêndio. Atualmente o Museu Nacional se encontra em processo de restauração para reabrir as portas, embora sem data de conclusão dos serviços.


“PROFUNDA TRISTEZA”


Na carta dirigida ao diretor do Museu da Inconfidência, dom Airton relatou a “profunda tristeza” das comunidades católicas da Arquidiocese de Mariana (à qual Ouro Preto está vinculada) “e dos que lutam pela nossa memória e história”, sobre a “pretensão administrativa” da direção em ceder a caleça ao Museu Nacional. Cópias da carta foram endereçadas à ministra da Cultura, Margareth Menezes, à presidente do Ibram, Fernanda Santana Rabelo de Castro, ao secretário de Estado da Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, ao prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, e ao presidente da Associação dos Amigos do Museu da Inconfidência, Gabriel Geller Xavier.


No documento entregue a Alex Calheiros, dom Airton diz o seguinte: “Enquanto líder e representante máximo destas comunidades na Igreja Particular de Mariana, venho apresentar-lhe minha pessoal discordância à decisão tomada por V. Sa. e equipe de doar ao Museu Nacional do Rio de Janeiro a caleça, exemplar único em Minas Gerais, que em 1940 foi doada ao Museu da Inconfidência por dom Helvécio Gomes de Oliveira, então arcebispo de Mariana, com a intenção única de compor o acervo do Museu da Inconfidência e preservar a história de Minas Gerais e também para fazer memória da grande contribuição da Igreja Católica para a formação cultural e religiosa desses povos. Ela representa não apenas um bem material, mas um importante testemunho e fragmento da nossa identidade religiosa, cultural e histórica.”


Dom Airton registrou que a comunidade católica, nos limites da Arquidiocese de Mariana, considera que pertences históricos, “especialmente aqueles de relevância para a nossa história, devem ser preservados em seu contexto original e local”. Assim, “a doação de uma peça tão significativa, para fora de seu contexto, não apenas contraria e traz indignação a toda a comunidade local, católica ou não, como também vai de encontro às recomendações dos órgãos de preservação e curadoria desses bens históricos (Conselho Municipal, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan –, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – Iepha – e Ministério Público), que enfatizam a importância de manter os acervos em seus locais de origem, garantindo assim à comunidade a narrativa histórica que eles representam”.


Lembrando que a Arquidiocese de Mariana celebra os 280 anos de sua criação, dom Airton ressalta que “não estando a caleça em aproveitamento em espaços expositivos do Museu da Inconfidência, reitero que a Arquidiocese de Mariana estaria disposta a recebê-la de volta para compor o Memorial dos Bispos e Centro Cultural Frei Dom Manoel da Cruz, reafirmando o compromisso com a preservação da nossa herança cultural e a valorização da história que nos une.”


ONDE FICAR?


A equipe do EM, guiada por Alex Calheiros, pôde fotografar a carruagem no ambiente quevai receber uma exposição com 150 peças afro-mineiras da coleção de Tadeu Bandeira. Segundo Calheiros, o museu não tem poder para ceder ou doar peças do seu acervo.

JOIA INCRUSTADA NA ZONA RURAL…


São muitos os tesouros arquitetônicos de Minas, alguns ainda longe da admiração dos brasileiros. Bom exemplo está na Capela Nossa Senhora da Lapa dos Olhos D’água, na zona rural de Entre Rios de Minas, no Campo das Vertentes. Cuidadosa obra de restauro faz o templo do século 18 ressurgir com todo o brilho, trazendo à luz pinturas ocultas sob camadas de tinta. Iniciada em setembro de 2024, a intervenção interna é a primeira etapa do projeto para recuperação do retábulo-mor, retábulos colaterais (lado Epístola e lado Evangelho), arco-cruzeiro, púlpito, balaustradas em madeira recortada na nave e no coro. O bem é tombado pelo município.

…TRAZ DE VOLTA SEU BRILHO


“A cada camada removida, surgem pinturas e detalhes artísticos que remetem a períodos e influências culturais distintos, oferecendo contribuições valiosas para a preservação deste patrimônio tão importante para nossa comunidade e os mineiros”, diz o padre Ildeu da Cruz Silvio, responsável pela capela vinculada à Paróquia Nossa Senhora das Brotas, da Arquidiocese de Mariana. Inicialmente, são investidos cerca de R$ 1,2 milhão, recurso viabilizado por meio de emenda parlamentar e parceria com a Prefeitura de Entre Rios de Minas. Para o serviço completo no templo, serão necessários mais R$ 2 milhões. Para tanto, a paróquia recorre a doações e busca verbas via lei de incentivo. Mais informações no site www.capelaolhosdagua.com.br.


PAREDE DA MEMÓRIA


Nesta semana de homenagens a Belo Horizonte – o aniversário de 127 anos será na quinta-feira (12) –, trazemos hoje um retrato da Afonso Pena no início dos anos 1950. A avenida ainda era tomada pelos fícus que formavam um corredor, com pouco espaço para os carros. Tudo mudou na madrugada de 20 de novembro de 1963, quando funcionários da prefeitura começaram a cortar cerca de 350 árvores. A operação durou até dezembro daquele ano, resultando em 2 mil metros cúbicos de lenha. O motivo oficial da derrubada estava na proliferação dos insetos “Gynaikothrips ficorum Marchal 1908”, os tripes, conhecidos popularmente como “amintinhas”. O apelido era uma referência ao então prefeito de BH, Amintas de Barros, chefe do Executivo municipal entre 1959 e 1963.


RETRATOS DO TEMPO


Antiga Vila Nova da Rainha, Caeté tem muitas histórias guardadas aos pés da Serra da Piedade. E quem se dispôs a escrevê-las, entremeando com experiências pessoais, é o farmacêutico Antônio Maria Claret Chagas, de 78 anos, autor de “Caeté em história e poesia” (Editora Ramalhete). Apaixonado pela terra natal, Claret conta, em textos curtos e versos, lendas (algumas viraram verdade!), origem do nome de ruas e “causos” que dão mais sabor à leitura. Há também retratos de outros tempos, lembranças de personagens da cidade e curiosidades. O livro resulta de ampla pesquisa realizada pelo autor ao longo dos anos, agora viabilizado pela Lei Aldir Blanc. Integrante do Instituto Histórico Geográfico do Ciclo do Ouro, Claret é idealizador e presidente da Associação Museu Farmácia Ideal. Vendas pelo site da editora ou nas farmácias do grupo Ideal, em Caeté.


SÃO BARTOLOMEU


Patrimônio Imaterial de Ouro Preto, a tradicional festa do Divino Espírito Santo, no histórico distrito de São Bartolomeu, tem seu registro revalidado após 10 anos de inscrição no Livro de Saberes e Celebrações. A decisão é do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural. A festividade foi o quarto bem cultural com esse destaque em OP, e, a partir desse reconhecimento, foi salvaguardada por meio de ações e valorização definidas durante o processo acompanhado pela comunidade. As pesquisas sobre a Celebração do Divino Espírito Santo, no distrito, mostram que ela não sofreu mudanças significativas desde a produção do dossiê feito em 2014.


VIVA O QUEIJO!


Para entender melhor a revalidação das festividades em São Bartolomeu, vai a explicação. Conforme orientações técnicas do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), os bens culturais registrados como patrimônio imaterial devem passar por esse procedimento a cada 10 anos. É o que acontece agora com o nosso queijo, patrimônio imaterial do estado, que ganhou revalidação e ampliação, pelo Conselho Estadual do Patrimônio Cultural, após duas décadas do Registro dos Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal da Região do Serro. Na quarta-feira (4), o “mineirinho” entrou para a lista da Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Então, Viva o Queijo!

FONTE: ESTADO DE MINAS

Receba Notícias Em Seu Celular

Quero receber notícias no whatsapp