Município no Sul de Minas reúne, em cinco dias, Guardas de Moçambique e Reinados em uma festa de louvor, emoção e cultura
As fitas coloridas flutuam a cada movimento do dançante. No balé harmônico, integrantes do ritual sagrado elevam aos céus as preces de louvor. Em cada rosto, a expressão de contentamento. O Congado e os Reinados são, portanto, muito mais do que festas; são manifestações de fé, emoção e resistência. Eles nos ensinam sobre a importância de valorizar nossas raízes e celebrar a diversidade cultural que compõe o Brasil. Ao manter viva essa tradição, o povo negro não apenas honra seus antepassados, mas também inspira futuras gerações a continuar essa rica herança.
E São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas Gerais, quer se tornar a Capital do Congado do Brasil. Durante cinco dias, a cidade realizou os tradicionais desfiles da Congada e Moçambique, que iniciaram na última quinta-feira (26/12) e terminam nesta segunda (30/12). A expectativa é que cerca de 60 mil pessoas passem pelo evento que comunga fé, paixão e cultura.
Nossa Senhora do Rosário
Reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do município desde 2010, a Festa das Congadas é um reflexo das raízes da cidade, que foi fundada em 1821, e reafirma a rica herança afrodescendente de sua comunidade. Neste ano, a festividade contou com a participação de 16 ternos de Congada e Moçambique, que, sob a liderança de capitães e benzedores, desfilaram em homenagem a santos de devoção, como Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
A Festa das Congadas e Moçambique se estabelece como um marco significativo para a cultura e o turismo de São Sebastião do Paraíso. Integrada ao renomado Circuito Turístico Montanhas Cafeeiras de Minas, a cidade se destaca como uma porta de entrada para as ricas tradições culturais e gastronômicas da região.
Além de preservar tradições seculares, o evento impulsiona a economia local e fomenta um espírito de união entre os participantes. O prefeito Marcelo Morais enfatizou que “o primeiro passo para elevar a festa ao nível nacional é respeitar aqueles que a realizam e aqueles que a apreciam. A Festa das Congadas e Moçambique não é apenas uma celebração; é um convite para mergulhar na história, espiritualidade e hospitalidade mineiras. Venha vivenciar essa experiência única e celebrar com o povo paraisense a riqueza cultural de Minas Gerais!”
Para Teresa Lemos, técnica do Circuito Montanhas Cafeeiras, o evento ilustra uma das mais importantes Rotas do Circuito Montanhas Cafeeiras – A Rota das Tradições: “Ele mostra aos visitantes a cultura das cidades associadas com cores e crenças. Une o turismo rural, a gastronomia e as personalidades locais de uma forma leve e descontraída. Lançaremos no Carnaval 2025 as 10 sugestões de roteiros para conhecer esse pedacinho delicioso do Sul de Minas.”
Patrimônio Mineiro
Leônidas de Oliveira, secretário estadual de Cultura e Turismo de Minas Gerais, esteve na cidade e admirou a manifestação cultural-religiosa: “Dentre as maiores festas de Minas Gerais, a grandiosa Festa do Rosário e o Reinado das Congadas em São Sebastião do Paraíso se destaca como uma celebração que une fé, cultura e tradição. Desde a fundação da cidade e a instituição da primeira igreja em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, em 1850, essa manifestação centenária é um símbolo da riqueza cultural de nosso estado”, admira.
O secretário Leônidas elogia a organização e tradição do evento em Minas: “Parabenizo o prefeito Marcelo Morais, os 16 Ternos de Moçambique, os 11 Ternos de Congada e todos os envolvidos na realização dessa grandiosa festa. Estar presente na última sexta-feira de 2024 foi um privilégio e uma grande alegria. É importante destacar que, neste ano especial, as congadas e os reinados foram reconhecidos oficialmente como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais pelo Governo de Minas, por meio do IEPHA e da Secretaria de Cultura e Turismo de MG, reafirmando o compromisso com a preservação das nossas tradições. Que Minas Gerais siga celebrando e valorizando sua cultura popular, que nos enche de orgulho e mantém vivas as nossas raízes!”, emociona
Roupas e fitas coloridas
Os trajes tradicionais, em harmonia com os rituais de devoção, destacaram a resistência e a identidade do povo negro, transformando fé e cultura em um espetáculo profundamente simbólico e envolvente. Com uma história que remonta há mais de 300 anos, a festa é uma manifestação da fé, da cultura afro-brasileira e da religiosidade popular.
As vestimentas do Congado são um espetáculo à parte. Os participantes se adornam com trajes vibrantes, repletos de cores e detalhes que refletem a riqueza cultural e a diversidade das tradições afro-brasileiras. As fitas coloridas, que enfeitam os chapéus e os trajes, simbolizam a alegria e a esperança, além de representarem a conexão com os orixás e as entidades espirituais. Cada cor carrega um significado especial, transformando o ato de se vestir em uma celebração da identidade e da fé.
Cânticos e emoção
Os cânticos que ecoam durante as celebrações do Congado são carregados de emoção e espiritualidade. As vozes unidas em louvor criam um ambiente de comunhão e reverência, onde cada letra é um testemunho da luta e da resistência. As canções falam de amor, fé e da busca por proteção, ressoando no coração de cada participante e do público presente. Essa prática não apenas enriquece a cultura local, mas também fortalece os laços comunitários, unindo pessoas em torno de uma mesma crença e história.
A força do Povo Negro
A preservação dessas tradições é um ato de força e orgulho para o povo negro. Em um país marcado por desigualdades e apagamentos históricos, o Congado e os Reinados emergem como símbolos de resistência e afirmação da identidade negra. Eles são um lembrete poderoso de que a ancestralidade deve ser celebrada e respeitada, pois é a base sobre a qual se constrói a identidade de muitos brasileiros.
Ancestralidade negra no Brasil
A ancestralidade negra no Brasil é rica e multifacetada. As tradições do Congado são heranças que conectam as novas gerações com seus antepassados, permitindo que a história e a cultura africanas sejam transmitidas e vivenciadas. Essa continuidade é vital para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todas as vozes são ouvidas e valorizadas.
FONTE: ESTADO DE MINAS