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Belo Vale, MG – Fechada desde 2014, Capela da Fazenda Boa Esperança está sendo restaurada

IPHAN emitiu Ordem de Serviço para as obras de restauro da capela, que foram iniciadas em 23 de janeiro de 2025. O projeto de revitalização era aguardado com interesse pela comunidade belo-valense e visitantes. Em breve, o patrimônio poderá ser reaberto à visitação.

Ermida dedicada ao Nosso Senhor dos Passos

Obra-prima dedicada ao Nosso Senhor dos Passos é considerada a mais preciosa das ermidas existentes em propriedades rurais de Minas. A decoração interna apresenta talhas douradas, quadros, e pinturas barrocas. O retábulo-mor em estilo rococó é atribuído ao escultor português Francisco Vieira Servas.  A pintura do forro dedicada à Ascenção do Senhor Jesus Cristo e seis painéis laterais são atribuídos ao professor das artes – desenho e pintura – Manoel da Costa Athayde, nascido em Mariana -1762 a 1830 – considerado um dos maiores pintores sacros do século XVIII.

A restauração de todas as suas peças foi finalizada em 2013, no entanto, a ermida foi fechada devido à falta de recursos para implantar serviços referentes à reestruturação das paredes e engradamento de madeiras, que não estavam previstos no contrato. Por meio do Edital no. 92/2024, em novembro, Associação Pró-Cultura e Promoção das Artes – APPA selecionou a empresa “A3 – Restauros – Adriano Furini”, para executar serviços de restauros dos elementos artísticos integrados, pendentes. A obra terá duração de quatro meses, porém não foi informado o valor do contrato.

A decoração interna da ermida apresenta retábulo-mor com talhas douradas em estilo rococó, e quadros e pinturas de grande valor artístico.

O executor da obra afirmou que a capela está em bom estado de conservação, mas há problemas na estrutura que devem ser revistos. – “Serão realizados: proteção do telhado com remoção de telhas quebradas que causam goteiras; engradamento, substituição de peças que estejam danificadas por cupim; remontagem dos painéis laterais, do retábulo-mor com os nichos e o forro. O retoque final de nivelamento e reintegração pontuais exigem trabalhos de profissionais qualificados para a perfeita finalização;” ressaltou Adriano Furini. 

Boa Esperança: 250 anos de História

No livro Bens Tombados no Brasil encontra-se oregistro do casarão: – É uma construção dos fins do século XVIII ou princípios do século XIX. O historiador Ivo Porto de Menezes argumenta que se trata de uma casa construída em 1775, já pertencente à família Monteiro de Barros, em 1790. O português Manuel José Monteiro de Barros nascido na Freguesia de São José das Marinhas, Braga, Portugal, empolgado pelas riquezas que o ouro proporcionava, veio para o Brasil por recomendação do tio Padre Broa que residia em Congonhas do Campo; ali se estabeleceu. Manuel foi contemplado com várias sesmarias. Em uma delas, construiu o vasto latifúndio da Boa Esperança que virou modelo agropecuário na região. Anos mais tarde, o imóvel seria administrado pelo filho Romualdo José Monteiro de Barros, Barão de Paraopeba. A partir do final do século XIX, a propriedade passou por mãos de diversos proprietários, até ser vendida para o Estado de Minas Gerais, sob a administração do IEPHA-MG.

A casa da fazenda foi reconhecida como patrimônio nacional em 1959, pelo Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional (IPHAN) e inscrita no Livro de Tombo de Belas Artes, com parecer do poeta Carlos Drummond de Andrade. A casa e todo o terreno equivalente a 318 hectares foram tombados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA-MG – em 1975.

Patrimônio nacional com pouca aplicabilidade

Desde o ano de 2018, a administração da Boa Esperança está sob a responsabilidade da Associação Pró-Cultura e Promoção das Artes – APPA, através de um Termo de Parceria / 2018 com o IEPHA-MG. A instituição responsável por desenvolver projetos de ações de requalificação e promoção de visitas, com a finalidade de dar vida ao patrimônio não avançou com uma proposta de vigor para o imóvel.  

Sob o encargo do Estado de Minas Gerais desde 1974, a que se ressaltar o fato do proprietário tê-la mantida erguida, e preservado sua estrutura que se encontra em boas condições. Entretanto, nesses 50 anos de gestão do Estado, não houve avanço com um projeto que pudesse dar vida ao imóvel. O Estado burocrático da Cultura não evoluiu para administrá-la como um empreendimento cultural sólido, atrativo, que gerasse renda e trabalho e, proporcionasse um turismo ecológico, cultural e histórico.

É fundamental que o Estado de Minas Gerais, IPHAN, IEPHA-MG, APPA e Município de Belo Vale sentem-se, para viabilizar um projeto que dê destino à sua difusão e ocupação. Sobretudo, que investigue e resgate os antigos e abandonados pátios de produção, as ruínas e vestígios arqueológicos; além do ecoturismo com o aproveitamento da atrativa mata nativa e riachos abundantes no entorno do patrimônio.

APHAA-BV: história pela proteção da Boa Esperança

Meu interesse pela Fazenda Boa Esperança vem desde criança. A primeira vez que vislumbrei a casa, estava despedaçada, desamparada e abandonada. Em 1985, fui cofundador e primeiro presidente da Associação do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental de Belo Vale (APHAA-BV), entidade que teve sua fundação motivada por uma denúncia contra o convênio 014/84 do governo do estado, entre IEPHA-MG e Escola de Veterinária da UFMG para funcionamento de um Centro de Pesquisas, na área do imóvel.

Projeto da Escola de Veterinária previa criar cerca de 500 porcos para venda, junto às paredes do casarão. O esgoto da manga escorria a céu aberto para as águas do riacho da cachoeira, a qual foi fechada para o uso dos jovens da comunidade.

O projeto não funcionou e pôs em risco a integridade do bem. Em abril de 1986, o convênio foi rescindido. Em 2007, publiquei o livro “Fazenda Boa Esperança – Belo Vale”: às páginas 58 e 59 revelei os danos causados ao patrimônio pelas atividades indevidas que ali estavam sendo desenvolvidas. O livro faz homenagem ao patrimônio e clama para com a sua revitalização e função. Desde então, acompanhei cada atividade que acontece no patrimônio nacional, símbolo da arquitetura colonial mineira do século XVIII.

“Bons presságios”

A expressão Boa Esperança significa “bons presságios”. O espaço de ocupação da fazenda tem muitos atrativos a oferecer: uma enorme área verde de mata nativa e um riacho cristalino com bela cachoeira podem ser transformados em um parque natural. A população aguarda ansiosa pela reabertura do envolvente patrimônio.

Tarcísio Martins, jornalista; pesquisador história de Belo Vale; fotografias. 

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