Na contramão da siderurgia nacional, operação da empresa no exterior pode ser impulsionada por tarifa de Trump
O início de 2025 é marcado por tensão no mercado do aço brasileiro, ameaçado pelo aumento das tarifas de importação do presidente dos EUA, Donald Trump. Na contramão dessa onda de preocupação, a Gerdau aproveita a medida para expandir sua operação na América do Norte. Por outro lado, pressiona o governo brasileiro por mais proteção do mercado nacional, a exemplo do presidente norte-americano, sob risco de reduzir investimentos da empresa no Brasil.
Em março deste ano, ela conclui a ampliação da linha de produção de bobinas laminadas a quente em Ouro Branco, na região Central de Minas, anunciada em 2021 sob um investimento de US$ 500 mil. A expansão permitirá aumentar a capacidade de produção em cerca de 30% e superar um milhão de toneladas de bobinas por ano — o produto é matéria-prima para chapas de aço e peças automotivas, por exemplo. O futuro da operação pode mudar, contudo, se o nível de importação de aço para o Brasil se mantiver no patamar atual.
Um investimento dessa dimensão não pode ser abandonado antes da conclusão mesmo sob as condições adversas do mercado siderúrgico nacional, ponderou o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, durante coletiva de imprensa para apresentar os resultados da empresa nesta quinta-feira (20/02). Mas a manutenção desses fatores pode levar a companhia a “tomar a decisão de não produzir” quando a nova linha for ignorada.
A principal reclamação do setor — que dura alguns anos — é a crescente das importações do aço chinês no Brasil. Subsidiado pelo governo asiático, preocupado em manter os empregos localmente, ele é importado com um preço menor do que o custo de produção das empresas nacionais, de acordo com elas.
O governo brasileiro impôs medidas de contenção às importações no último ano, com uma cota máxima de produtos que poderiam entrar no país sem pagar as tarifas mais altas, mas o mercado afirma que a decisão é insuficiente. “No fundo, estamos discutindo onde estarão os empregos do futuro”, pontuou Werneck.
A Gerdau vislumbra que o primeiro trimestre deste ano é o prazo máximo para o governo brasileiro tomar novas medidas para proteger a indústria nacional antes que investimentos da companhia sejam revistos. No quarto trimestre de 2024, seu faturamento foi de R$ 666 milhões, queda de 9% em comparação ao mesmo período de 2023. Sem a atual alta de importações de aço, a produção da empresa poderia ter sido 10% maior, de acordo com o CFO da Gerdau, Rafael Japur.
O investimento previsto globalmente pela empresa em 2025 é de US$ 6 bilhões. Em Minas Gerais, outra de suas frentes de inovação é a construção de um mineroduto entre a mina de Miguel Burnier, em Ouro Preto, e a usina de Ouro Branco. Com uma extensão aproximada de 13 km, ele tem potencial de substituir 400 caminhões que transitam todos os dias na BR-040, de acordo com a empresa. A previsão de inauguração é janeiro de 2026.
Gerdau pode ampliar produção nos EUA para responder a novo cenário
Diferentemente da maior parte da siderurgia nacional, a Gerdau não demonstra preocupação com a taxação do aço importado imposta por Donald Trump. A empresa produz localmente nos EUA, por isso não exporta aço brasileiro para o país e pode ser favorecida pelas novas tarifas. “Podemos esperar [vender] um mix mais nobre dos nossos produtos, puxando nossa rentabilidade”, avaliou o CFO da empresa, Rafael Japur. A produção da Gerdau nos EUA opera com 70% de capacidade, e a empresa projeta que pode chegar ao seu nível máximo com a nova realidade do mercado norte-americano.
Já outro plano da empresa para a América do Norte, uma fábrica no México, pode ser repensado, dadas as mudanças políticas e econômicas no país após as eleições de 2024 a relação do governo mexicano por ora instável com os EUA.
FONTE:O TEMPO