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Mosteiro de Macaúbas: uma luz iluminou os olhos da fiel que não enxergava

Entre várias histórias de graças e milagres alcançados no convento de Santa Luzia, fiel de 88 anos, cega, descreveu cores durante missa

Aos pés da cruz, um grupo de fiéis reza na manhã ensolarada do primeiro domingo da quaresma. São homens e mulheres, entre adultos e adolescentes, que pedem a Deus proteção, ajuda, paz, saúde e momentos de reflexão no período que culmina com a Semana Santa. Em seguida, todos entram na capela do Mosteiro de Macaúbas, a poucos metros de distância, às margens do Rio das Velhas, na zona rural de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Um complexo tricentenário impregnado por histórias de fé, devoção e relatos de milagres e graças que atravessam os anos e seguem ocorrendo na atualidade.

O cruzeiro fica para trás; é hora da missa dominical das 10h30. Ângela Maria Silvestre Borges, coordenadora do Coral Imaculada Conceição, que completa 50 anos, está pronta para soltar a voz nos cânticos. Ao lado da filha Jussara Borges e do genro Diego Gonçalves Januário, ela diz que, pioneira, começou no coral ainda menina, aos 12. “Macaúbas é um território sagrado, lugar de muita oração. Aqui, a gente sente a presença de Deus”, ela diz, enquanto deixa o coração falar para traduzir o espaço.

Martírios e purificação

Fora da capela, um homem com um cachorro se aproxima do cruzeiro. No “madeiro”, como se chama a representação da estrutura em que Jesus foi crucificado, estão referências aos martírios – a coroa de espinhos, os cravos que prenderam mãos e pés, a lança, o açoite e outros instrumentos de flagelação e símbolos da Paixão de Cristo. “O jardim externo do mosteiro nos traz tranquilidade. Mesmo representando o sofrimento de Jesus, a cruz é a marca da Igreja, representação da fé católica”, define o fiel.

Segundo o reitor do Santuário Arquidiocesano Santa Luzia, padre Felipe Lemos de Queirós, os cruzeiros são tradição no interior mineiro. “Na cidade, há outros, e este de Macaúbas é dos mais completos”, informa o reitor e pároco, explicando o significado das peças em madeira. Na cidade histórica, assim como em outros municípios, começa hoje (6/4) e irá até sábado (12/4) o Setenário das Dores de Maria Santíssima, seguindo-se as cerimônias da Semana Santa.

Às vésperas das celebrações, em conversa com a equipe do Estado de Minas, a irmã Maria Imaculada de Jesus Hóstia – de “86 anos e meio”, como observa, com bom humor, e muito feliz por completar, em julho, sete décadas no Mosteiro Nossa Senhora da Conceição de Macaúbas – destacou a sacralidade da construção de 1714, fundada pelo eremita alagoano Félix da Costa.

Inicialmente, Macaúbas funcionou como recolhimento, depois colégio feminino, e desde 1933 é a casa das irmãs concepcionistas, que vivem em clausura “Muitas graças e bênçãos foram alcançadas aqui, e ocorrem milagres. Que Deus nos conceda outros, com a fé em Nossa Senhora“, ressalta a irmã Maria Imaculada.

As palavras da religiosa ecoam e voltam no tempo, exatamente ao primeiro domingo da quaresma, durante a missa celebrada pelo padre Geraldo Guilherme da Silva, pároco emérito da Paróquia Santos Anjos da Guarda, no Bairro Caiçara, em BH, e capelão da Polícia Civil. “Foi um momento muito bonito. É bom que as pessoas saibam, para não parecer algo do passado”, testemunhou o sacerdote, sobre o relato de Iara Ferreira Galvão de Oliveira, cega, que completara 88 anos na véspera, e disse estar vendo vultos durante a missa.

“Estou enxergando”

Dona Iara, viúva, muito católica, que na juventude alimentara o desejo de ser freira, teve a ida ao mosteiro como um presente de aniversário dado pela filha Ivonete Galvão, ambas integrantes de um grupo numeroso de BH que visitava Macaúbas para retiro quaresmal, tendo à frente o padre Geraldo Guilherme.

Para Ivonete, a visita trouxe tranquilidade à mãe, fortalecimento da fé e mais esperança no tratamento oftalmológico. “Foi dado um passo importante nesse sentido. Tudo nos deu vida nova para crer que ela possa voltar a enxergar, pois agora não vê nada”, diz a filha, explicando que dona Iara, primeiramente, perdeu há três anos a visão do olho direito, e, em 11 de fevereiro, do esquerdo.

Na missa do primeiro domingo da quaresma, quando ela, em cadeira de rodas, e a filha foram colocar rosas no altar, no qual estava uma imagem e uma cruz, dona Iara falou sobre a cor da igreja – “Ela é azul!” – e depois comentou sobre a cor preta do cabelo de um dos santos.

Outras palavras – “Gente! Estou enxergando! Não estou mentindo, estou enxergando!” – são lembradas pelo padre Geraldo Guilherme, certo de que ela, naquele momento, “recebeu uma graça”.

O sacerdote revelou também que, durante o retiro quaresmal, um homem contou ter conhecido a irmã Maria da Glória (1903-1986), religiosa do mosteiro considerada milagrosa. Disse o homem: “Estávamos eu e um amigo militar. Quando entramos no quarto em que a irmã recebia visitas, vimos que ela ‘flutuava’. Estava um metro acima da cama”, testemunhou o fiel.

FONTE: ESTADO DE MINAS

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