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Guarda de Congado de Conselheiro Lafaiete possui objeto do tempo Império. Pesquisador realiza estudo e pede tombamento do objeto

O pesquisador lafaietense Luiz Otávio da Silva realizou, recentemente, um estudo que identificou na cidade de Conselheiro Lafaiete um sabre do século dezenove e que está em poder de uma Guarda de Congado há décadas. O sabre é uma arma branca que se diferencia da espada por possui apenas um gume (ou sangradoudro), enquando espada possui dois gumes, ou seja, corta dos dois lados. “É uma arma ligeiramente leve, pode chegar a  01 kg, possui até 1,05 cm de cumrpimento, tem a  lâmina  retangular que permite golpes tanto com a ponta quanto como corte da lâmina”.   Segundo  Luiz Otávio, trata-se de um sabre, gótico inglês, modelo 1852 – uma legítima arma dos tempos do Império, que pode ter sido usada na Revolução Liberal de 1842 ou na Guerra do Paraguai e hoje pertence à Banda Dança do Rosário.

De acordo com o histórico levantado na própria Guarda com o dançante mais antigo, senhor José Miguel, o sabre foi recebido em doação feita pelo médico veterinário Ivan Franco. Ivan,  patriarca de uma família tradicional de Conselheiro Lafaiete, era pai do ex-deputado estadual Glaycon Franco  e filho do também ex-deputado estadual Antônio Franco Ribeiro,  que exerceu o mandato entre 1951 e 1955. Ainda de acordo com José Miguel, esse sabre chegou, primeiramente, às mão do senhor Orlando, um dos mais antigos membros e que ajudava na organização  da Guarda. Posteriormente, o sabre  foi repassado ao senhor Antônio de Paula, que na época era Segundo Capitão da Guarda, anos mais tarde ele foi consagrado Capitão- mor.

Sr. Antônio de Paula com o sabre à mão. Foto: Acervo da Banda Dança do Rosário

Embora não há informações sobre em qual guerra o sabre foi usado, é possível projetar  uma retrospectiva, alinhada às caracteristica da arma, e   estabelecer uma  possibilidade real de qual  batalha se referia o doador do sabre. Como possibilidades apresentam-se a Revolução Liberal de 1842, da qual a cidade de Lafaiete (a época Queluz de Minas) foi um dos lugares de batalha, e a Guerra do Paraguai, ocorrida entre 1864 e 1870, embora distante daqui, a cidade enviou homens que se juntaram aos milhares em Ouro Preto e foram lutar nessa Guerra. Luiz Otávio chegou a essa conclusão, considerando o fato de que  as últimas  guerras armadas no Brasil, onde  sabres  e  espadas ainda eram utilizados em combates foram esses conflitos.

Quanto afirmar que o sabre  estudado é, sem dúvida, uma peça do período imperial brasileiro (1822 – 1889), só foi possivel após um estudo estilistico da arma, que mesmo não possuindo informações de data de fabricação ou procedência é possivel determinar a qual época pertence de acordo as especificidades constatadas.  È feito em ferro e madeira, por meio de aquecimento, estiramento e afilamento,  curto, com um  gume  e sangradouro em toda a sua extensão, guarda-mão (ou guarda ou copo) vazado, em forma de cesto, composto de arabescos semelhantes à gavilanes. Documentação Fotográfica:

Foto: Luiz Otávio da Silva.
Foto: Luiz Otávio da Silva

No governo da Regência Trina Permanente, em  18 de agosto de 1831,  foi criada a Guarda Nacional do Brasil,  que tinha como objetivo defender a integridade, a constituição, a liberdade e a independência do Império. Cabe ressaltar que essa Guarda, criada sob a influência  da milícia francesa, era subordinada ao Ministério da Justiça.  Embora aGuarda Nacional tenha sido criada na década de trinta do século dezenove, não havia, ainda, no país, uma regulamentação sobre os uniformes e aquisição de armas para o exército. Somente mais de vinte anos depois é que foi criado, através do Decreto nº 1.029. de 07 de agosto de 1852, o Plano dos Uniformes do Exèrcito: “Hei por bem Approvar o Plano dos Uniformes  do Exército, que com este baixa. Manoel Felizardo de Souza e Mello, do Meu Conselho, Ministro e Secretário d’Estado dos Negocios da Guerra, assim o tenha entendido, e expeça os despachos necessarios. Palacio do Rio de Janeiro em sete de Agsoto de mil oitocentos e cincoenta e dous, trigesimo primeiro da Independencia e do Imperio.

Com a Rubrica de Sua Majestade o Imperador

Manoel Felizardo de Souza e Mello

Sabres/espadas. Modelos 1852.
Foto: Internet.

Em 08 de abril de 1858, o Tenente – General  Barão de Suruhi, manda “delinear” e lithographar os exemplares dos figurinos do exército, com o objetivo de ratificar os Decreto nº 1.029 de 07 de agosto de 1852.

Foto: Internet.

Em 28 de fevereiro de 1866, o Decreto nº  3620 autoriza modificações nos uniformes do exército. Mas a regulamentação das espadas/sabres se mantém inalteradas. O referido Decreto não autoriza quaisquer mudanças na uniformização das espadas/sabres.

Publicação sobre a regulamentação dos uniformes do exército – 1866.
Fotos: Internet.
Publicação sobre a regulamentação dos uniformes do exército – 1866.
Foto: Internet.

Ainda sobre as espadas e os sabres do período imperial brasileiro, cabe destacar que eles eram fabricados primeiramente, em alpaca (a alpaca é uma liga de cobre, niquel e zinco), de valor comercial mais elevado.  Com a necessidade crescente na fabricação de armas (principalmente  de sabre e espadas), com disponibilidade maior de ferro e menor custo, o número dessas armas fabricadas em ferro era relativamente maior que as de alpaca.  Por isso eram destinadas aos soldados de postos menores dentro das tropas. Contudo, NÃO se atribui maior ou menor importância cultural a esse objeto em função de sua matéria prima.

Guarda (guarda-mão ou copo) em ferro. Foto: Luiz Otávio da Silva.

Deve-se ainda, ressaltar, que esses sabres possuiam, quase sempre, em suas guardas (ou guarda-mão ou copo) e/ou nas lâminas o brasão do Império e, às vezes, o acrônimo do Imperador Dom Pedro II. Mais tarde o brasão da República ocupou esse espaço na arma. Esse processo de impressão poderia se feito por meio de alto relevo, baixo relevo e burilamento.

Abaixo dois exemplares, em alpaca, do mesmo modelo (1852): um com o brasão Imperial e o outro com o acrônimo PII (Pedro Segundo).

Foto: Internet.

 Mas havia também sabres sem quaisquer referências, como se comprova na foto abaixo.

Publicação de  uma venda,  em 2022,  de um exemplar Modelo 1852.
Foto: Internet.

Até 1983 os uniformes   e as espadas/sabres eram regulamentados por força de leis. Foi somente nesse ano, que através do Decreto nº 88.161 de 10 de março,  que foi delegada a “competência aos Ministros de Estado da Marinha, do Exército  e da Aeronáutica para aprovarem os respectivos Regulamentos dos Uniformes

Luiz Otávioressalta que o estudo realizado será encaminhado ao Conselho de Patrimônio junto a um pedido de tombamento para salvaguarda do bem. Cabe ao Conselho dar continuidade no processo que se iniciou  a partir da identificação do bem que deve ser considerado patrimônio cultural. O pesquisador afirma que a proteção do patrimônio cultural é um e de todos, mas cabe ao poder público promover ações de salvaguarda. Por questões de segurança e proteção, o sabre foi retirado da sede da Guarda e levado para outro local.

Luiz Otávio da Silva  é  Pesquisador; Graduado em Letras; Pós-graduado Especialista  em História; Pós-graduando em Arquitetura e Patrimônio e Pós-graduando em Arqueologia e Patrimônio.

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