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Obras minerárias impactam comunidades em Conceição do Mato Dentro

Falta de água, ruídos, vibrações e poeira causados por explosões diárias foram alguns problemas mencionados durante audiência pública.

A falta de compensação ambiental e os impactos causados pela expansão das obras minerárias do projeto Minas-Rio da Anglo American foram tema de audiência pública na noite desta segunda-feira (7/4/25). A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) promoveu o encontro na Câmara Municipal de Conceição do Mato Dentro (Região Central).

O artigo 12 da Lei 23.291, de 2019, conhecida como Lei Mar de Lama Nunca Mais, proíbe o alteamento de barragem em locais onde exista comunidade na Zona de Autossalvamento (ZAS).

O conceito se refere ao espaço ao redor de uma barragem de rejeitos onde, em caso do rompimento, o Poder Público não consegue se mobilizar a tempo de garantir o salvamento de seres humanos. Ali, cada pessoa fica responsável por preservar a própria vida.

“Ou seja, é uma zona de não salvamento”, resumiu a deputada Bella Gonçalves (Psol), autora do requerimento para realizar a audiência. Como essa proibição se tornou lei cerca de cinco anos após o início das obras minerárias, a alternativa foi promover reassentamentos.

Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Deputada Bella Gonçalves: “Há pelo menos 20 anos, a vida de vocês tem sido transtornada por causa de um projeto que prometia desenvolvimento” Álbum de fotosFoto: Alexandre Netto

No entanto, nesse processo, famílias estão sendo separadas, pessoas estão deixando de acessar escolas, postos de saúde, entre outros serviços, e, em alguns casos, sendo obrigadas a deixar novamente suas residências. Mesmo reassentadas, continuam enfrentando problemas como ruídos, vibrações e poeira de explosões diárias, falta de água e pânico provocado por sirenes acionadas por engano.

Ao descrever o descaso enfrentado pela população, a presidente da Associação Comunitária de Piraquara, Ludmila Neves, desabafou: “Os reassentamentos são um fracasso”.

O coordenador jurídico do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab), José Ignácio Fonseca, reconheceu: “Não ignoramos eventuais benefícios com as atividades minerárias, mas nenhum benefício justifica que haja impactos não reparados”.

“Há pelo menos 20 anos, a vida de vocês tem sido transtornada por causa de um projeto que prometia desenvolvimento”, ressaltou a deputada Bella, direcionando-se aos moradores. Segundo ela, trata-se de “uma violação desesperadora de direitos humanos”.

Licenças e supostas intimidações serão investigadas

O projeto minerário Minas-Rio, da Anglo American, começou a ser implementado em 2014. Atravessando 32 municípios mineiros e fluminenses, o empreendimento abrange mina, usina de beneficiamento, o maior mineroduto do mundo (com 525 km de extensão) e um terminal.

Naquela época, não vigoravam a Lei Mar de Lama Nunca Mais nem a Lei 23.795, de 2021, que institui a Política Estadual dos Atingidos por Barragens (Peab). De acordo com a deputada, essas normas foram aprovadas como resultado das lutas dos atingidos pelos dois crimes socioambientais ocorridos em Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019.

Representantes de autoridades municipais que assumiram o mandato há quatro meses colocaram-se à disposição para ouvir a comunidade a fim de tomar conhecimento das demandas. Também se comprometeram a fiscalizar a qualidade da água usada no abastecimento comunitário.

Conforme o promotor de justiça Frederico Machado, “uma hora essa conta vai chegar”. Ele reconhece que os danos não estão sendo reparados, mas que os casos estão sendo documentados e as ações judiciais seguem tramitando. Explicou que os Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) não foram assinados ainda porque o Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) tem buscado um valor maior para essa reparação.

Embora a chefe da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Carla Fernanda de Araújo, tenha garantido que os monitoramentos dos licenciamentos estão sendo realizados, a deputada Bella anunciou requerimento para ter acesso a esses registros. A parlamentar observou que as condicionantes para a renovação da licença não estão sendo cumpridas e que isso precisa ser acompanhado.

Inclusive, salientou que, em casos de alteamento de barragens com pessoas nas ZAS, a proibição se refere até mesmo à emissão de licença prévia. Por isso, pretende averiguar se esse tipo de autorização está sendo fornecido pela Feam.

Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - debate sobre a mineração em Conceição do Mato Dentro
O gerente da Anglo American, Renato de Almeida, tentou explicar a posição da empresa Álbum de fotosFoto: Alexandre Netto

Apesar de afirmar que os planos de reassentamento foram elaborados com participação popular, o gerente da Anglo American, Renato de Almeida admitiu a possibilidade de reavaliar, aprimorar e incluir mais comunidades nesse programa. Também manifestou disposição para compor um comitê de monitoramento com membros das comunidades, do MPMG, do Executivo e do Legislativo.

Todavia, moradores relataram abordagens de pessoas estranhas fazendo perguntas sobre atividades produtivas, monitoramento de drones à noite e gestos de intimidação por parte de representantes da Anglo American. Em resposta a esses relatos, a deputada Bella avisou que vai pedir ao MPMG que instaure inquérito para investigar a prática de assédio por parte da empresa.

FONTE: ALMG

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