Com tecnologia de ponta, irrigação moderna e agricultura de precisão, a China prepara a maior transformação agrícola do mundo e pode impactar até o mercado global de grãos, numa corrida silenciosa por soberania alimentar e inovação rural.
Plano agrícola chinês quer converter 90 milhões de hectares até 2030 e reduzir a dependência de importações com ajuda da tecnologia e agricultura de precisão
A China deu mais um passo ousado para garantir sua segurança alimentar: o governo do país asiático anunciou a conversão de 90 milhões de hectares em terras agrícolas de alto padrão até o ano de 2030.
A meta faz parte de um plano estratégico divulgado recentemente pelo Conselho de Estado da China e tem como principal objetivo reforçar a produção nacional de grãos, reduzindo a vulnerabilidade às importações e às tensões geopolíticas globais.
De acordo com o comunicado oficial, o projeto visa transformar áreas consideradas prioritárias para a estabilidade alimentar, com infraestrutura moderna, alta produtividade e capacidade de resistir a eventos climáticos extremos, como secas prolongadas ou inundações severas.
Modernização do campo é prioridade até 2030
A meta ambiciosa inclui a conversão de 1,35 bilhão de mu (medida chinesa equivalente a cerca de 90 milhões de hectares) até o fim da década.
Além disso, o governo pretende que, até 2035, todas as chamadas “terras agrícolas básicas permanentes elegíveis” estejam totalmente adaptadas aos padrões de excelência agrícola.
Essas áreas têm proteção legal contra usos não agrícolas e são vistas como essenciais para manter um fluxo estável e seguro de produção alimentícia.
O movimento é parte de uma estratégia mais ampla para reverter o histórico declínio das áreas cultiváveis na China, que vinha sendo registrado nos últimos anos.
O que define uma terra agrícola de alto padrão?
Conforme o portal Compre Rural, no plano chinês, terras de alto padrão são aquelas que contam com recursos estruturais e tecnológicos capazes de garantir alta produtividade com sustentabilidade. As características básicas dessas áreas incluem:
- Sistemas modernos de irrigação
- Mecanismos de controle contra desastres naturais
- Solo com qualidade e fertilidade aprimoradas
- Gestão digital baseada em tecnologias como agricultura de precisão e inteligência artificial
Essa estrutura robusta permite maior eficiência na produção, menor desperdício de recursos e menor risco climático, além de reduzir significativamente a dependência externa de alimentos.
Resultados já começam a aparecer
A produção de grãos da China atingiu um novo recorde em 2024: 706,5 milhões de toneladas, um crescimento de 1,6% em relação ao ano anterior.
Esse dado é um indicativo direto do impacto positivo que os investimentos em terras agrícolas estruturadas já estão trazendo ao setor.
Desde 2021, o país observa aumento líquido na área total de terras agrícolas, revertendo uma tendência de retração que preocupava especialistas.
De acordo com o Conselho de Estado, até o final de 2024, mais de 1 bilhão de mu – o equivalente a 66,6 milhões de hectares – já haviam sido convertidos.
Tecnologia será aliada do agro chinês
O governo chinês lançou, paralelamente, um plano quinquenal (2024-2028) para promover a chamada agricultura inteligente.
O projeto envolve a adoção em larga escala de tecnologias como big data, GPS agrícola, sensores de solo, drones e inteligência artificial.
Essas ferramentas devem melhorar o monitoramento das safras, antecipar riscos, otimizar recursos naturais e gerar dados para decisões mais assertivas no campo.
Essa digitalização é vista como um pilar essencial para sustentar o crescimento da produção de alimentos no país e alcançar a meta de autossuficiência alimentar.
Exemplos regionais: Xinjiang sai na frente
Uma das regiões que mais avançaram na conversão de terras é Xinjiang, localizada no noroeste da China.
Até o final de 2022, cerca de 3,34 milhões de hectares já haviam sido transformados em terras agrícolas de alto padrão, representando quase 47,4% das áreas cultiváveis locais.
A região se destaca pela rapidez na adoção de tecnologias e por já apresentar ganhos consideráveis em produtividade e resistência a eventos climáticos.
A experiência de Xinjiang serve como modelo para outras províncias do país.
Segurança alimentar como estratégia nacional
A preocupação com a segurança alimentar se intensificou na China nos últimos anos, especialmente diante do cenário geopolítico global instável e do impacto das mudanças climáticas.
O plano do governo, além de transformar áreas cultiváveis, também se alinha a outras ações, como o fortalecimento de estoques estratégicos de grãos, investimentos em biotecnologia agrícola e estímulos para pequenas e médias propriedades.
A China já estabeleceu um limite mínimo de 124,33 milhões de hectares de terras aráveis – uma marca importante para garantir que, mesmo com a modernização, o país continue mantendo sua base produtiva sólida.
A infraestrutura de irrigação também impressiona: são mais de 10 milhões de quilômetros de redes construídas em todo o território, garantindo fornecimento de água mesmo em áreas mais áridas.
Impacto global e recado ao mercado
Especialistas avaliam que o projeto pode redesenhar o cenário da produção agrícola global, principalmente porque a China é uma das maiores compradoras de grãos do mundo, como soja e milho.
Com maior capacidade de produção interna, o país tende a reduzir sua presença como importador no mercado internacional, o que pode impactar economias exportadoras, incluindo o Brasil.
Por outro lado, a implementação de tecnologias agrícolas avançadas e práticas sustentáveis pode abrir novas portas para parcerias estratégicas internacionais, especialmente na troca de conhecimento e inovação no setor.
O agro chinês mostra que o futuro já começou
Com metas claras, prazos definidos e foco em tecnologia, a China demonstra que está determinada a alcançar a autossuficiência alimentar em grande escala.
A transformação de 90 milhões de hectares em terras agrícolas de alto padrão representa uma virada histórica na forma como o país encara sua relação com a produção de alimentos.
A combinação entre estrutura física moderna e ferramentas digitais coloca a agricultura chinesa em um novo patamar de competitividade e resiliência.
Enquanto o mundo observa, a China planta as sementes do seu próprio futuro agrícola.
E você, acredita que o Brasil poderia seguir um modelo semelhante de modernização e expansão agrícola, com foco em tecnologia e sustentabilidade? Deixe sua opinião nos comentários!
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GAS