Por: Luizinho Cerqueira
Minha infância foi marcada por momentos simples, mas cheios de significado, vividos nas ruas e campos de futebol de Conselheiro Lafaiete, onde cresci. Desde muito cedo, o futebol fez parte da minha vida – não apenas como uma brincadeira entre amigos, mas como uma verdadeira paixão. Foi entre risos, quedas e defesas, algumas magníficas, que descobri o que me fazia vibrar de verdade. Eu percebi que era possível ser um bom goleiro, posição de grande dificuldade no esporte bretão. Mas eu sentia que poderia ir longe atuando na posição.

Cheguei ao Atletique aos 14 anos, em outubro de 1966, por interferência do Laci, meu vizinho, que morava na Praça da Bandeira e lá jogava, no Infantil. Com 14 anos e uma grande ansiedade, esperava ser aprovado nos testes, como goleiro, posição em que comecei, desde cedo, a me destacar. O técnico das categorias infantil e juvenil, à época, era o Célio Mendes, o popular Charuto. Naquele cascalho, vez que, nessa época, o campo ainda não era gramado, o Charuto, comigo entre as traves, atira a bola para um lado e, depois para o outro, e eu, com a galhardia e intrepidez, pulo para encaixar a bola. Que alegria! Fui aprovado nos testes individual e coletivo.
O Atletique Futebol Clube, um time tradicional de Lafaiete, sempre teve um papel importante na formação de jovens atletas. Lembro com carinho do meu primeiro dia numa partida oficial, pelo infantil – a ansiedade de vestir o uniforme, o orvalho da manhã e a expectativa de mostrar tudo o que sabia (ou achava que sabia) com a bola, chegando em mim, para evitar que ela transpusesse a linha demarcatória de gol, o que faria a alegria de nossa torcida e a consequente frustração dos nossos oponentes. Ali, dei meus primeiros passos no futebol de forma mais organizada e comecei a entender a importância do trabalho em equipe, da disciplina e da dedicação.
O Atletique não foi apenas um clube. Para mim, foi uma escola de vida. Cada treino e cada partida me ensinaram mais do que técnicas: me ensinaram valores. Foi ali que fiz amizades duradouras, aprendi a lidar com vitórias e derrotas e desenvolvi o amor pelo esporte que carrego até hoje.
Por obra do destino, em maio de 2019, vi o meu netinho do coração (por afinidade; ele não é meu neto biológico), Felipe Morais, surgir para os estádios de futebol do mundo, justamente numa partida entre Atletique e Cruzeiro Esporte Clube, na Toca I, em BH. A partida terminou com a vitória do Cruzeiro, por 2 a 1. No primeiro tempo, o Felipe fez o gol do Atletique. Em um calor escaldante, o Felipe saiu no primeiro tempo, extenuado que estava. Entretanto, os 20 minutos em que atuou, tempo de duração da primeira etapa para a categoria, foram suficientes para que os famosos “olheiros” do futebol notassem o talento diferenciado do garoto, então com 11 anos.
Nos testes iniciais, foi aprovado, de imediato, e comprovadamente, fez jus aos que o descobriram, como uma verdadeira joia para o futebol mineiro, brasileiro e, quiçá, mundial. O futuro a Deus pertence. Ele já foi campeão mineiro pelas categorias de base e, recentemente, campeão sul americano sub 17, com a Seleção Brasileira, como titular absoluto.
No aniversário 87 anos de um clube tradicional, com muita história, em que fui bi-campeão, na equipe principal, aos 18 e 19 anos, nos anos de 1970 e 1971, únicos títulos do Atletique, que, à época, tinha um esquadrão poderosíssimo, quero cumprimentar, na pessoa de seu atual gestor, Renato Pelé, a todos os que fizeram, fazem e farão parte da sua honrosa história.
Feliz aniversário, Atletique!