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Historiador identifica sabre do século 19 em guarda de congado de Lafaiete e pede reconhecimento como patrimônio cultural

Um sabre militar do século 19, original do período imperial brasileiro, foi identificado na cidade de Conselheiro Lafaiete como parte do acervo da tradicional Guarda de Congado Banda Dança do Rosário. A descoberta é resultado de um estudo conduzido pelo historiador e pesquisador lafaietense Luiz Otávio da Silva, que agora solicita oficialmente o tombamento da peça como patrimônio cultural.

A arma, segundo análise técnica e estilística, é um sabre gótico inglês modelo 1852, utilizado pelo Exército do Império. Fabricado em ferro, o objeto possui lâmina de um só gume com sangradouro ao longo de sua extensão e guarda-mão vazada em forma de cesto — elementos típicos das armas regulamentadas pelo Decreto nº 1.029, de 7 de agosto de 1852.

“Este sabre é uma relíquia histórica, preservada pela própria comunidade, com alto valor simbólico e cultural. Ele representa não apenas um período marcante da história do Brasil, mas também a força e a ancestralidade do Congado de Lafaiete, que é um dos mais importantes do país”, afirma Luiz Otávio.

De acordo com o historiador, o sabre teria sido doado à Guarda pelo médico veterinário Ivan Franco, figura respeitada na cidade e patriarca da família Franco. Desde então, a peça tem sido preservada dentro da Guarda e usada em rituais e desfiles, embora sua origem imperial nunca tivesse sido oficialmente reconhecida até agora.

O pedido de tombamento foi encaminhado ao Conselho Municipal de Patrimônio e, segundo Luiz Otávio, representa um passo necessário para garantir a salvaguarda do objeto. “Proteger este sabre é proteger a memória do nosso povo. O Congado é uma manifestação viva de resistência, fé e identidade afro-brasileira. Este objeto reforça ainda mais essa ligação profunda entre cultura e história”, destaca.

Por razões de segurança, o sabre foi transferido da sede da Guarda para um local seguro enquanto o processo de tombamento segue em análise.

Congado de Lafaiete tem reconhecimento nacional

A importância do Congado de Conselheiro Lafaiete ultrapassa os limites regionais. Em 2023, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) publicou um dossiê técnico que reconhece os Ternos de Congado como patrimônio cultural do Brasil. Nesse documento, o Congado lafaietense é citado quatro vezes, incluindo menção à Banda de Congo e à Banda de Marujo do Rancho Novo.

O dossiê destaca, inclusive, que o Congado de Lafaiete influenciou diretamente o surgimento de manifestações congadeiras em Mogi das Cruzes (SP), comprovando sua relevância e força cultural.

“Quando alguém, em qualquer parte do país, consultar esse dossiê, saberá que o Congado de Lafaiete tem história, tem expressão e tem influência nacional. Nosso papel agora é garantir que também nossos objetos e símbolos sejam preservados e reconhecidos como parte desse legado”, conclui Luiz Otávio.

Sobre o historiador

Luiz Otávio da Silva é graduado em Letras, pós-graduado em História, especialista em Arquitetura e Patrimônio e em Arqueologia e Patrimônio. Atua como pesquisador independente e dedica-se à valorização da memória e do patrimônio histórico-cultural da região.

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