Da pequena ferraria no interior gaúcho à multinacional presente em 120 países: a história centenária de superação, inovação e sucesso da Tramontina.
A Tramontina é um verdadeiro orgulho nacional. A marca é famosa por suas facas, talheres e panelas. A empresa, hoje centenária, começou como uma pequena ferraria. Foi fundada no interior do Rio Grande do Sul. Atualmente, é uma multinacional com presença em mais de 120 países. Sua história começou em 1911, com Valentin Tramontina e sua esposa, Elisa De Cecco. A jornada foi marcada por desafios, superação familiar e crescimento constante.
A ferraria de Valentin Tramontina em Carlos Barbosa

Valentin Tramontina nasceu em 1893, em Bento Gonçalves (RS). Era filho de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil em 1885. Aprendeu o ofício de funileiro e depois de ferreiro. Em 1910, comprou as ferramentas de um primo em Carlos Barbosa. No ano seguinte, 1911, abriu sua própria ferraria na cidade. O momento era oportuno, pois a chegada de uma linha de trem impulsionava a economia local. Inicialmente, Valentin, seu irmão Luiz e um funcionário fabricavam ferraduras. Realizavam também pequenos consertos para outras indústrias.
Em 1920, Valentin casou-se com Elisa. O casal teve três filhos: Henrique, Nilo e Ivo. A pequena oficina enfrentou dificuldades quando seu principal cliente se mudou. A solução surgiu com a produção de canivetes, aprendida com um primo de Elisa. O trabalho era artesanal, mas passou a ser o carro-chefe da empresa. Por volta de 1930, Valentin aproveitou um incêndio em uma empresa de cutelaria em Porto Alegre. Ele se ofereceu para recuperar facas danificadas. Com isso, aprendeu sobre novos modelos e passou a focar na produção de facas. A ferraria voltou a prosperar.
A força de Elisa
A prosperidade foi interrompida por tragédias familiares. O filho mais velho, Henrique, morreu aos 9 anos. Valentin Tramontina ficou muito abalado e sua saúde piorou. Ele faleceu em 1939, aos 46 anos. No ano seguinte, 1940, o segundo filho, Nilo, também morreu, aos 17 anos. Elisa ficou sozinha com o filho mais novo, Ivo, de 14 anos.
Pensou em fechar a ferraria, mas decidiu continuar o negócio. Passou a trabalhar arduamente na oficina. Para manter seus 13 colaboradores fiéis, repartiu um terreno em lotes e deu um para cada um. Elisa viajava sozinha de trem para Porto Alegre. Vendia facas e canivetes de porta em porta para conseguir pagar os funcionários.
Ivo Tramontina e Ruy Comazzon assumem o comando
Enquanto Elisa viajava, seu filho Ivo assumia o comando da fábrica. Os dois formaram uma dupla: Ivo cuidava da produção e Elisa das vendas. No entanto, a falta de estrutura administrativa ficou evidente. Um fiscal de impostos abordou Elisa, que desconhecia as normas tributárias. Perceberam que precisavam de ajuda na gestão.
Elisa pediu a uma amiga, Ana Comazzon, que seu filho Ruy trabalhasse na Tramontina. Ruy Comazzon era formado em Economia. Inicialmente, ajudou na contabilidade em suas horas livres. Logo, ele e Ivo começaram a planejar a reorganização da empresa. Ruy decidiu deixar a empresa da família para se dedicar integralmente à Tramontina, motivado pela afinidade com Ivo.
Em 1954, a empresa foi registrada como Viúva Valentim Tramontina & Cia Ltda. Passou a se chamar Tramontina Cutelaria, e Ruy tornou-se sócio. Após a morte de Elisa em 1961, Ivo (36 anos) e Ruy (33 anos) assumiram o comando definitivo. Ivo focava na produção, no chão de fábrica. Ruy cuidava das áreas administrativa e financeira.
Novas fábricas, novos produtos
Sob o comando de Ivo Tramontina e Ruy, a Tramontina expandiu e diversificou. Em 1959, abriram a Forjasul em Porto Alegre (depois Canoas) para peças forjadas. Em 1963, inauguraram uma fábrica de ferramentas em Garibaldi. A primeira exportação (facas para o Chile) ocorreu em 1969.
Em 1971, começaram a produzir talheres em Farroupilha, após receberem aço inoxidável excedente do Japão. Novas fábricas surgiram: materiais elétricos (1976) e equipamentos agrícolas e de jardinagem (1982). Adotaram um modelo de gestão descentralizado, com cada fábrica tendo metas próprias.
A Era Clóvis Tramontina
Clóvis Tramontina, filho de Ivo Tramontina, entrou na empresa em 1980 após formar-se em Administração. Destacou-se na área comercial. Tomou medidas ousadas, como vender diretamente ao consumidor final. Conseguiu inserir a Tramontina em grandes redes varejistas, como Mappin e Pão de Açúcar. Frequentemente aceitava pedidos maiores que a capacidade produtiva imediata.
Isso forçou a empresa a aumentar a produção e a se tornar mais focada no mercado. Clóvis cresceu na empresa, tornando-se gerente nacional de vendas. Preocupado com estoques parados, convenceu a diretoria a investir em publicidade na televisão em 1983. O primeiro comercial zerou os estoques rapidamente. A partir daí, a empresa passou a investir continuamente em marketing, com slogans conhecidos em todo o Brasil.
A internacionalização e a parceria com o Walmart
Em 1986, a Tramontina abriu uma fábrica de utensílios de madeira. No mesmo ano, deu um passo crucial para a internacionalização. Inaugurou um escritório nos Estados Unidos (que se tornaria a Tramontina USA). O objetivo era entrar no maior mercado consumidor do mundo. A grande virada veio em 1989, com a entrada no Walmart.
A parceria foi um sucesso e impulsionou a expansão global da Tramontina, que acompanhou o crescimento da rede varejista. A empresa brasileira tornou-se uma das maiores fornecedoras do Walmart. Em 1990, entrou na rede Costco. Estar nessas grandes redes abriu portas em muitos países.
Sucessão familiar e o legado atual da Tramontina

Em 1991, Ivo e Ruy escolheram seus sucessores. Clóvis Tramontina assumiu a presidência, e Eduardo Comazzon (filho de Ruy) a vice-presidência. A nova dupla replicou a parceria dos pais, com Clóvis Tramontina focado no comercial e Eduardo na parte analítica. A empresa continuou familiar e com capital fechado. A gestão seguiu descentralizada, mas acelerou em marketing e internacionalização. Em 2000, foi criado um setor formal de marketing. A empresa enfrentou a concorrência chinesa aumentando a escala de produção e importando alguns itens. Durante a pandemia de Covid-19, a produção local e o foco em itens para casa resultaram em grande crescimento.
Clóvis Tramontina deixou a presidência em 2021, após atingir a meta de R$ 10 bilhões de faturamento. Eduardo Comazzon assumiu, com Marcos Tramontina (filho de Clóvis) como vice. A empresa segue familiar. Em 2022, inaugurou uma fábrica de porcelana e faturou R$ 10,6 bilhões. Atualmente, produz mais de 22.000 itens diferentes. Possui 9 unidades industriais no Brasil, mais de 12 mil funcionários, e forte presença internacional com 20 operações no exterior e lojas próprias (T-Stores). As exportações representam 25% do faturamento, com destaque para os EUA e Alemanha. A marca Tramontina é conhecida por 97% dos brasileiros.
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS