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BOMBA NA CÂMARA DE CONGONHAS (MG): “Não vão me silenciar”: vereadora reage a fala machista de presidente e chora em plenário; colega sugeriu que “ela criasse cabritos”

A sessão da Câmara Municipal de Congonhas, na manhã desta terça-feira (10), terminou em clima tenso, com bate-boca, denúncias, encerramento por falta de quórum e uma acusação grave: machismo dentro do parlamento. A situação teve como pivô uma fala do presidente da Casa, vereador Averaldo Pica Pau (PL), dirigida à vereadora Simônia Magalhães (PL), que acabou em lágrimas no plenário após responder com firmeza e indignação.

O estopim foi uma discussão em torno do custo da construção do Conjunto Habitacional Goiabeiras, estimado por Averaldo em R$ 600 mil por unidade de 50 m². Simônia, que na época da obra era secretária municipal de Obras, questionou os números e pediu apuração técnica. Em resposta, o presidente da Câmara reagiu de forma agressiva e debochada.

“Eu discordo totalmente de vossa excelência. Se foi a senhora que fez o cálculo, a senhora errou mais uma vez. A senhora não sabe fazer cálculo. A senhora não está conseguindo somar um mais um. Lá era R$ 600 mil e o resto que sobrava era barranco. Talvez a senhora tenha interesse em criar cabritos lá”, disparou Averaldo, em tom sarcástico.

O Vereador Averaldo Pica Pau (PL)/ REPRODUÇÃO

O silêncio que se seguiu no plenário revelou o incômodo generalizado. A fala foi interpretada por vereadores e pelo público como machista e humilhante, especialmente por ironizar e insinuar um suposto interesse ilícito no uso do recurso remanescente da obra. Ambos protogonizaram um debate na CPI das Obras no ano passado. Visivelmente abalada, Simônia Magalhães fez um desabafo contundente durante o Grande Expediente. Em meio às lágrimas, afirmou:

“Não vão me calar. Eu sei somar um mais um, eu estudei, eu lutei, eu conquistei meu espaço. O que me ofendeu não foi só o deboche, foi a tentativa de diminuir minha história, de deslegitimar minha voz. Mais do que somar um mais um, participei da construção do viaduto na BR-040, da licitação do piso intertravado, da desapropriação dos imóveis do Goiabeiras. Sempre trabalhei com foco no resultado. E se for preciso, vou à Justiça para defender minha honra e meu mandato. Não aceito ser tolhida. Eu vim da roça e poderia criar cabras. Não vejo demérito nisso, mas preferi ir para a escola estudar. Não vou lançar mão, se for preciso de instrumentos jurídicos para me defender”, completou.

A vereadora ainda destacou o risco de o termo “criar cabrito” estar sendo usado como uma insinuação maliciosa de que ela teria a intenção de desviar recursos públicos — o que intensificou a revolta e o apoio nas redes sociais.

Apoio ganha apoio de colegas

O posicionamento da vereadora recebeu manifestações de solidariedade de outros parlamentares. A vereadora Patrícia Monteiro (PSB), uma das três mulheres na Câmara, se pronunciou: “Já passei por momentos parecidos aqui. Estamos em um ambiente predominantemente masculino, mas isso não pode justificar esse tipo de tratamento. Precisamos ter mais sensibilidade. A vereadora está abalada. Divergências existem, mas o respeito tem que vir primeiro.”

O vereador Rodrigo Mendes (Podemos) também se manifestou: “Foi uma tentativa de silenciar, uma fala agressiva. Simônia é mulher, vereadora, mãe solo, ex-secretária, advogada. Esse tipo de tratamento a uma minoria me tirou do eixo. Repudio completamente.” Já o vereador Igor Souza (PL) declarou solidariedade: “Sou solidário à senhora. Isso não deveria ter acontecido nesta Casa.”

O presidente da Câmara, Averaldo Pica Pau, tentou justificar suas declarações, negando qualquer intenção ofensiva ou machista

“Respondo pelo que falo, não pelo que as pessoas entendem. Em nenhum momento desrespeitei minorias. Se precisar pedir desculpas, eu peço, mas neste momento não cabe. Desvirtuaram minha fala como se faz na política brasileira. Nós temos nesta Casa o desprazer de ver ex-secretário na gestão passada destruir o que ele construiu invertendo a situação. Vão ser pelo menos sensatos de parar de fazer politicagem. O mandato passado foi um caos e seus secretários em todas as áreas. Não estou aqui para falso moralismo. Não dá para apagar, pois em tudo o que senhora pôs a mão no governo passado, derreteu. Aqui é discurso de parlamento. A verdade tem de ser dita. A senhora esteve aqui numa CPI em que fui relator, não tem como esconder isso. Agora se falar o que eu penso da vereadora é que ela representa o que de pior existe na política brasileira”, encerrou Averaldo.

Mesmo sem tentativa de retratação, o clima permaneceu quente. O vereador Galileu (Podemos) elogiou a atuação de Simônia à frente da Secretaria de Obras, e a reunião foi suspensa por cinco minutos. No retorno, não houve quórum suficiente para a continuidade da sessão, que acabou encerrada.

A repercussão nas redes sociais foi imediata. No fim do dia, Simônia publicou um vídeo reafirmando sua indignação e destacando a importância de combater o machismo institucional. O apoio popular cresceu e sua fala passou a ser compartilhada por mulheres, lideranças e movimentos sociais de toda a região.

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