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Com Zema, Polícia Civil de MG tem 35% de déficit e perdeu 1,3 mil servidores desde 2021

Saldo real de novos policiais foi de apenas 82 servidores; sindicato denuncia assédios e desvalorização salarial

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) vive um período crítico: de 2021 até hoje, o saldo real de novos policiais foi de apenas 82 servidores. Nesse intervalo, aproximadamente 1,4 mil ingressaram na instituição, mas cerca de 1,3 mil deixaram os quadros, sendo 461 por exoneração voluntária, reflexo direto da falta de valorização da carreira, segundo o Sindicato dos Escrivães de Polícia Civil no Estado de Minas Gerais (Sindep).

Segundo dados organizados pela entidade, coletados a partir do Sistema de Administração de Pessoal (Sisap), o déficit atual é de 35%. Hoje, o efetivo conta com pouco mais de 11,2 mil  servidores, mas o ideal seria ao menos 17 mil. A projeção da chefia da corporação é nomear 359 policiais até o fim de 2025, o que não será suficiente para recompor as perdas.

Marcelo Horta, presidente do Sindep, aponta a falta de planejamento do governo como causa central do problema.

“O pedido de exoneração na Polícia Civil se tornou rotina. Muitos colegas saem porque não encontram condições de trabalho. O governo sabe que há aposentadorias anuais e desligamentos frequentes, mas não cria um cronograma de reposição. Sem isso, a instituição caminha para o sucateamento”, afirma.

Além da baixa no efetivo, Horta destaca a desvalorização salarial. Entre 2015 e 2025, os policiais perderam cerca de 44% do poder de compra, sendo 11% apenas durante o governo de Romeu Zema (Novo).

Violência em alta: letalidade policial cresce em Minas

O enfraquecimento da Polícia Civil ocorre em meio a um cenário preocupante de aumento da violência e da letalidade policial no estado. O relatório Panorama da Letalidade Policial em Minas Gerais no Ano de 2024, produzido pelo Ministério Público em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), revelou um crescimento de 47% no número de mortes decorrentes de ações policiais, atingindo sobretudo jovens negros e pobres.

O dado vai na contramão da média nacional. Enquanto o 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em julho, apontou queda de 5,4% nas mortes violentas no país em 2024, Minas registrou aumento de 5% no mesmo período.

Para Marcelo Horta, a escalada da violência está diretamente ligada ao abandono da segurança pública pelo governo estadual.

“O governador Romeu Zema se elegeu dizendo que valorizaria os policiais, mas o que fez foi sucatear as forças de segurança. Ele mente ao afirmar que ampliou o efetivo: contratou de um lado, mas deixou milhares saírem por outro. O resultado está aí: homicídios e feminicídios caíram no Brasil, mas subiram em Minas”, critica.

Estrutura precária e desmotivação

Além da perda salarial e do baixo efetivo, a Polícia Civil enfrenta estruturas degradadas. Muitas delegacias funcionam em imóveis alugados ou cedidos por prefeituras, sem condições adequadas de segurança, segundo Marcelo Horta.

A precariedade, somada ao assédio institucional e à falta de reconhecimento, tem levado servidores a pedir exoneração até sem outra perspectiva de emprego. 

“Chegamos ao ponto de ver colegas largarem a carreira policial para vender pipoca. Isso mostra como a instituição deixou de ser atrativa”, relata o presidente do Sindep.

Impactos na sociedade

O presidente do Sindep alerta que a crise da Polícia Civil tem reflexos diretos na segurança da população, com a queda na qualidade das investigações, adoecimento dos profissionais e desperdício de recursos públicos com concursos que não repõem efetivamente o quadro.

“A sociedade paga a conta de um governo que abandonou a segurança pública. O resultado é a volta de crimes que estavam controlados em Minas Gerais, como sequestros, assaltos e o avanço do crime organizado. Tudo isso em um estado que já foi referência nacional”, conclui Horta.

Outro lado

A reportagem entrou em contato com o governo para se posicionar acerca das denúncias, mas não obteve respostas até o momento de publicação desta matéria. O espaço segue aberto para posicionamento.

Editado por: Ana Carolina Vasconcelos

FONTE: BRASIL DE FATO

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