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‘Caldas Novas pode deixar de ser um destino turístico’, alertam pesquisadores e engenheiros

Exploração Águas termais não são recurso infinito. Grandes empreendimentos em detrimento do serviço local, incerteza sobre cobrança de taxa para turistas e desatenção à preservação ambiental ameaçam turismo em Caldas Novas

O pesquisador Ycarim Melgaço, doutor em Geografia pela Universidade Paulista (USP) e professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), afirma ao Jornal Opção que Caldas Novas pode deixar de ser um centro turístico caso a cidade não priorize um plano de turismo local que tenha também os recursos naturais em mente. 

Segundo o especialista, os aquíferos de águas termais — formados há mais de 60 milhões de anos no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCaN), — não são um recurso infinito e podem se esgotar pela exploração predatória. Em 1996, o então Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) delimitou um limite na mineração do recurso hídrico a fim de prevenir um possível colapso das jazidas. Poços artesianos, por exemplo, foram proibidos pelo DNPM devido ao impacto nos aquíferos, mas rápida busca pelo serviço revela que perfurações de até 1.500 metros podem ser contratadas sem controle na internet.  

O pesquisador relata que os problemas vão além dos aquíferos e da extração do recurso hídrico. Do ponto de vista do turismo, a aglomeração de capital em torno de um pequeno grupo de empresários detentores dos grandes centros hoteleiros e de resorts também cria problemas. 

Ycarim Melgaço | Foto: Jornal Opção

Segundo Melgaço, o desenvolvimento não alcançou todas as esferas do município e causou precarização dos serviços em contraste a oferta de outras regiões do Estado. O turismo de gastronomia, por exemplo, não se desenvolveu no município de Caldas Novas de forma a atrair visitantes em busca da culinária local. “Atualmente, Caldas Novas tem uma oferta crescente de fast food de redes internacionais, como McDonald’s e Burger King, mas falta qualidade no serviço próprio da região”, afirma. 

“É preciso investir em programas de treinamento de curta duração, em parceria com instituições como o Sesc e com o apoio da Embratur, para capacitar pequenos empresários e trabalhadores, desde práticas básicas de armazenamento de alimentos até cuidados para evitar a contaminação cruzada.”

O diagnóstico é de uma cidade que enfrenta problemas para encontrar sua própria identidade diante de grandes empresas. Segundo Ycarim Melgaço, o perfil do turista também foi alterado após a pandemia de Covid-19, com consumidores preferindo viagens e estadias curtas e de baixo custo. A mudança vai de encontro ao modelo “Disney” adotado na região, que depende de longas estadias com consumidores com alto valor agregado. “A busca por preços baixos acirra a concorrência, levando restaurantes a competir pelo ‘mais barato’, o que, geralmente, compromete a qualidade da gastronomia e a inovação na experiência do cliente. O resultado é um aumento no volume de turistas, mas com menor valor agregado”, explica.

“Outro problema é a distribuição desigual do turismo ao longo do tempo e do espaço. Bairros como Turista I e II, quase que totalmente voltados para o turismo, ficam praticamente desertos de segunda a quinta-feira, mas superlotados nos fins de semana e na alta temporada. Essa concentração repentina de pessoas aumenta a demanda por serviços municipais, como coleta de lixo e fornecimento de água, e sobrecarrega a infraestrutura urbana.”

Para o ex-vereador e engenheiro civil, Gilmar Engenheiro (AGIR), outro elemento do problema foi o anúncio da cobrança da Taxa de Preservação Ambiental (TPA), conhecida como Taxa do Turismo, aprovada em novembro de 2024 pelo projeto de lei complementar de n.º 13 de 2024. O projeto da prefeitura municipal previa que o tráfego de turistas poderia custear a limpeza pública do município, contudo, a medida foi sustada por comerciantes, empresários e figuras políticas que levaram o prefeito reeleito, Kleber Marra (MDB), a revogar a decisão no segundo dia do segundo mandato. 

Mesmo assim, o engenheiro civil relata que o anúncio da TPA causou um impacto no turismo na cidade, em específico sobre o mês de janeiro de 2025, com uma queda em um período de alta temporada para o município. “[O mês de janeiro] deixou muito a desejar na área de turismo”. Mesmo com a promessa, nenhum projeto sobre a revogação da TPA pode ser encontrado no portal da transparência da Câmara Municipal de Caldas Novas. Assim, Gilmar afirma que ainda existe dúvida entre os turistas se a taxa será ou não cobrada pela administração.  

Gilmar Engenheiro afirma: “A Serra de Caldas Novas é de responsabilidade do Estado, enquanto o Lago Corumbá é cercado por propriedades privadas e as águas termais são exploradas por empresas particulares. Eu não entendo o que é esse meio ambiente que o município quer defender.”

FONTE: JORNAL OPÇÃO

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