A sexta-feira, 19 de setembro, foi marcada por tensão e resistência em Conselheiro Lafaiete. Poucos dias depois do Celebrai, evento religioso que movimentou a cidade e contou com a participação do deputado federal e pastor Marco Feliciano, dois líderes de terreiros se dirigiram à delegacia do município para registrar um Boletim de Ocorrência contra o parlamentar. A cena na porta da delegacia sintetizava a gravidade do momento. Representantes de tradições distintas, do candomblé e da umbanda, caminharam lado a lado, unindo forças em defesa da fé e da cultura afro-brasileira. De um lado estava Eva Lúcia de Oliveira Ferreira, presidente do Fórum Municipal de Religiões de Matriz Africanas (FORMA) e dirigente do Ilé Asé Odé Olúwàiyè atí Yèyé Ṣ’oròodò. Do outro estava Walney Bavuso, babalorixá da Tenda de Umbanda Ilê de Xangô e Pai João do Congo.

O registro formal, acompanhado de notas de apoio e manifestações nas redes sociais, transforma Lafaiete em um novo epicentro do debate nacional sobre intolerância religiosa. O contraste entre a grandiosidade do evento evangélico e a resistência silenciosa, mas determinada, dos líderes afro-brasileiros evidencia um país ainda marcado por disputas simbólicas, preconceitos e a luta pela convivência pacífica entre crenças.
A legislação brasileira é clara. O racismo religioso é crime. O boletim de ocorrência abre caminho para investigação policial e, se confirmado o teor discriminatório, pode resultar em responsabilização judicial. Mais do que uma disputa jurídica, o ato desta sexta-feira em Lafaiete expõe um cenário maior. É o retrato de um Brasil em que tradições ancestrais seguem sendo atacadas, mas também reafirmadas com coragem e dignidade.