Itabira, em Minas Gerais, revelou as maiores jazidas de ferro do Brasil, tornando-se berço da Vale e responsável por exportar bilhões de toneladas de minério, principalmente para a China.
No coração de Minas Gerais, entre montanhas e vales que inspiraram o poeta Carlos Drummond de Andrade, está Itabira, uma cidade de pouco mais de 120 mil habitantes que se transformou em sinônimo de minério de ferro. Foi ali que nasceu a Vale, hoje uma das maiores mineradoras do planeta. Da pequena Itabira, partiram os primeiros embarques que colocaram o Brasil no mapa global da mineração. Décadas depois, a companhia se tornaria protagonista mundial, exportando mais de 3 bilhões de toneladas de minério para a China, seu maior parceiro comercial.
O nascimento da mineração moderna no Brasil
A história de Itabira está intimamente ligada à da Itabira Iron Ore Company, fundada em 1911 pelo empresário norte-americano Percival Farquhar, que buscava explorar as imensas jazidas de ferro da região. O projeto enfrentou dificuldades iniciais, mas plantou a semente para a criação, em 1942, da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) — hoje simplesmente Vale.

A cidade se tornou, assim, o berço de uma das maiores histórias de sucesso corporativo do Brasil. Ao lado das ferrovias e do Porto de Vitória, no Espírito Santo, Itabira foi peça central no modelo logístico que viabilizou a exportação em massa do minério brasileiro.
Minério de ferro que move o mundo
As jazidas de Itabira fazem parte da chamada Província Mineral do Quadrilátero Ferrífero, uma das regiões mais ricas em minério de ferro do planeta. Desde o início da exploração, bilhões de toneladas já foram retiradas de suas montanhas, transformando o Brasil em segundo maior exportador mundial do insumo.
Com o crescimento da China, especialmente a partir dos anos 2000, o minério de ferro ganhou papel ainda mais estratégico. De acordo com a própria Vale, o país asiático já importou mais de 3 bilhões de toneladas da companhia, consolidando uma parceria que molda a balança comercial brasileira. Itabira, como marco inicial da exploração, permanece símbolo desse elo global.
A cidade de Drummond
Itabira também é conhecida por ser a terra natal de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas da literatura brasileira. Em versos célebres, ele escreveu sobre a paisagem alterada pela mineração e sobre as contradições de uma cidade que dependia de suas montanhas, ao mesmo tempo em que as via desaparecer.
“Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!” — esse trecho, de “Confidência do Itabirano”, sintetiza a relação entre mineração, identidade cultural e nostalgia de uma paisagem transformada.
O impacto econômico
A mineração moldou a economia e a sociedade de Itabira:
- Empregos diretos e indiretos: milhares de famílias dependem da atividade mineral;
- Royalties da CFEM: a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais representa parcela relevante do orçamento municipal;
- Efeito multiplicador: transporte, comércio e serviços giram em torno da mineração.
Essa dependência, porém, traz também riscos: a redução das reservas locais e a oscilação de preços internacionais podem impactar fortemente a arrecadação e o emprego.

A transição após décadas de extração
Após mais de 80 anos de exploração, as minas de Itabira enfrentam esgotamento gradual. A Vale já anunciou planos de reduzir progressivamente a extração na região, ao mesmo tempo em que investe em tecnologia de reaproveitamento de rejeitos e exploração de outras áreas do Quadrilátero Ferrífero.
Para a cidade, esse movimento representa um desafio: como diversificar sua economia depois de tanto tempo dependente do minério? Projetos em turismo, cultura e serviços vêm sendo incentivados como alternativas para o futuro.
O elo com a China
A trajetória de Itabira se conecta diretamente ao crescimento da China. O minério de ferro brasileiro tornou-se essencial para sustentar a produção siderúrgica do gigante asiático, que demanda aço para infraestrutura, habitação e indústria.
Entre 2000 e 2020, as exportações da Vale para a China dispararam, e hoje o país representa mais de 50% da receita da companhia. Sem o minério de ferro, dificilmente a balança comercial brasileira teria registrado superávits tão expressivos nas últimas décadas.
Nesse contexto, a história de Itabira transcende o local: a cidade se tornou símbolo de como recursos naturais brasileiros moldam relações econômicas globais.
Desafios socioambientais
O ciclo da mineração também deixou marcas ambientais profundas:
- Montanhas rebaixadas: parte do relevo original foi transformado em cavas abertas;
- Rejeitos e barragens: o desafio de garantir segurança e sustentabilidade após desastres recentes em outras regiões de Minas;
- Qualidade de vida urbana: poeira e impactos no abastecimento de água afetam moradores.
A Vale e autoridades locais buscam mitigar esses efeitos, mas o dilema persiste: como conciliar desenvolvimento com preservação ambiental e memória cultural?
Um legado em construção
Itabira é mais que uma cidade mineradora. É símbolo de um Brasil que exporta riquezas naturais, mas que também busca novos caminhos para transformar recursos em desenvolvimento sustentável.
O legado da mineração, representado tanto pela ascensão da Vale quanto pela poesia de Drummond, mostra a ambiguidade de um território que prosperou ao mesmo tempo em que viu parte de sua paisagem desaparecer.
O futuro de Itabira dependerá de sua capacidade de diversificar a economia e de transformar sua herança mineral em um patrimônio cultural, turístico e tecnológico.
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS