Restauradores da estação ferroviária descobrem pinturas ocultas por décadas, sob camadas de tinta. Reabertura do prédio centenário será em 12 de dezembro
Janelas se abrem ao presente, com arte, zelo e beleza, e trazem as marcas do passado. O vasto patrimônio ferroviário de Minas não para de surpreender, e uma boa notícia vem de Moeda, onde está em restauro a estação construída em 1919, e tombada pelo município. Tanta história salta aos olhos por meio de uma técnica especial: as janelas de prospecção ou “pequenos recortes” nas paredes que permitem ver diferentes camadas de pintura e verificar intervenções feitas no imóvel ao longo do tempo.
A técnica foi decisiva na estação ferroviária pertencente ao patrimônio municipal. Coordenada pela especialista Maria da Conceição Coelho, a equipe de conservação e restauro descobriu uma pintura antiga de grande valor histórico sob diversas camadas de tinta. “Abrimos várias janelas de prospecção e verificamos muitas perdas e lacunas irrecuperáveis. Por isso, decidimos manter abertas algumas dessas janelas, uma em cada parede, para deixar à mostra a pintura original”, conta a especialista.
O processo incluiu remoção cuidadosa das repinturas, refixação da pintura original e reintegração pictórica das áreas preservadas. Cada janela – são quatro, uma em cada parede – receberá uma moldura, vidro de proteção e texto explicativo, permitindo que o público compreenda a importância desse testemunho visual. O trabalho, que contempla ainda uma faixa decorativa original, no alto do espaço interno, vai além da recuperação física, explica o coordenador do projeto de restauro, Gilson Martins. “As janelas funcionam como cápsulas do tempo. O mais bonito é que permanecem abertas, protegidas por vidros, para que todos possam observar de perto”.
No trabalho de restauração, os recortes na parede têm função essencial: permitem identificar cores usadas ao longo de décadas, servem como guia para os profissionais e cumprem papel educativo, oferecendo ao público uma visão concreta da história material e artística do patrimônio. “É uma forma de o visitante entender como era antes. Diante das janelas, todos saberão que aquelas pinturas pertencem a uma época talvez tão antiga quanto a própria construção da estação”, informa Maria da Conceição.
VIDA COMUNITÁRIA
Com reinauguração marcada para 12 de dezembro, quando Moeda vai comemorar 71 anos de emancipação, a estação ferroviária terá espaços destinados à realização de feiras de artesanato e agricultura familiar, como incentivo ao empreendedorismo local e à economia criativa. O entorno terá áreas de convivência, lanchonete, sanitário e outros serviços com acessibilidade e seguindo o padrão arquitetônico da estação. Também serão restaurados a Maria da Fonte (escultura) e o chafariz, elementos importantes do patrimônio da cidade.
O projeto prevê a instalação de bancos e mesas destinados a jogos de tabuleiro, com áreas de convivência e lazer para a comunidade junto a árvores frutíferas, a exemplo de pitangueiras e goiabeiras, além de espécies nativas. “O restauro representa também uma ação simbólica de preservação da nossa memória. Valorizar essa herança é garantir que as próximas gerações tenham orgulho de suas raízes”, diz o prefeito Décio Lapa.
A restauração da estação ferroviária de Moeda foi viabilizada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio da MRS Logística, gestão da Holofote Cultural, apoio da Prefeitura de Moeda e Invest Minas, com realização do Ministério da Cultura.
FESTIVAL DA JABUTICABA DE SABARÁ…
Está marcado para o período de 20 a 23 de novembro o Festival da Jabuticaba de Sabará, na Grande BH. Desta vez, há novidades. Para começar, o evento terá um dia a mais na programação, a quinta-feira (20), que é feriado nacional. E outra: o Teatro Municipal, construído no século 18 e que é uma das joias arquitetônicas do Centro Histórico, será palco de um festival de jazz. No cenário que remete aos tempos coloniais, com igrejas, casario e monumentos, os visitantes terão um cardápio variado com gastronomia, cultura, música e lazer. O Festival da Jabuticaba é promovido pela Prefeitura de Sabará e Associação de Produtores de Derivados de Jabuticaba (Asprodejas).
…TERÁ JAZZ NO TEATRO MUNICIPAL
Com 400 lugares, o Teatro de Sabará recebeu a visita dos imperadores dom Pedro I (1798-1834), em 1831, e dom Pedro II (1825-1891), em 1881. Conforme pesquisas, a antiga Casa da Ópera é considerada “um dos mais interessantes edifícios de Minas, principalmente por ser o teatro um programa pouco comum na época de abertura”. O teatro foi erguido em terreno pertencente ao alferes Francisco da Costa Soares, com a constituição de uma sociedade anônima da qual o povo participou e reuniu recursos para a obra. O Sabará Jazz Festival, parceria entre a prefeitura local e o coletivo OHM, terá DJs e shows, com entrada franca no teatro.
PAREDE DA MEMÓRIA
A temporada das águas começou em Minas, com alívio para quem sofre com o calorão. Tomara que as chuvas venham na medida certa para se evitarem os incêndios que destroem a vegetação, poluem o ar e matam os animais. Mas há cidades da Região Sudeste do país com reservatórios vazios, temendo a escassez hídrica. Esse é o pior dos mundos: basta olhar as fotos da década de 1960, em BH. Meninos com latas na cabeça, filas de moradores nas calçadas para buscar água, caminhão-pipa em ação para socorrer as famílias e multidão “no seco” no Bairro Santa Tereza. Conforme mostrou o Estado de Minas na edição de quarta-feira (15/10), o Sistema Paraopeba, responsável pelo abastecimento de água na Região Metropolitana de BH, opera em baixa.
PATRIMÔNIO CULTURAL
O ICMS Patrimônio Cultural completa 30 anos de política pública, alcançando hoje 840 municípios, e fortalece o objetivo de descentralizar a proteção do patrimônio cultural em Minas. Como parte do programa estadual, que tem à frente o Iepha-MG, foi realizada em Montes Claros a 16ª Rodada do ICMS Patrimônio Cultural, encontro fundamental para a valorização e preservação dos bens na Região Norte de Minas. O evento, em parceria com a prefeitura local, integrou o Fórum Diálogos com a Cultura e reuniu mais de 50 gestores e agentes culturais. No mês que vem, em Uberaba, será realizada a 17ª Rodada.
HOMENAGEM
Patrimônio Cultural Imaterial de Minas desde 2013, a festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, de Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha, reúne devoção, história, participação popular e muitas memórias. Neste ano, houve comovente homenagem a dona Teresa Vaz Fernandes Machado, a Teresa de Dito, falecida em agosto aos 88 anos. No cortejo, que percorreu as ruas, moradores usaram uma camisa com a imagem daquela que é considerada ícone da cultura chapadense. Detentora de saberes e tradições, Teresa foi curandeira e parteira, tinha habilidades no tratamento de fraturas, participou da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e integrou o grupo Tamborzeiros dos Rosário.
EXPOSIÇÃO CUMBARA
Está em cartaz, neste mês, no Mosteiro de Macaúbas, em Santa Luzia, a exposição Cumbara, que destaca povoamentos de negros no século 18 e a riqueza cultural banto em Minas. Podem ser vistos reproduções digitais de aquarelas dos quilombos e o relato de “A expedição do Campo Grande, Cayeté, Abayeté e de Paracatu” (1769), que teve o comando de Inácio Correia Pamplona, mestre de Campo do Regimento de Cavalaria da Capitania. A mostra foi sucesso por onde passou: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro Cultural da UFMG, Centro de Memória Ângela Vaz Leão (Fale/UFMG), Universidade Aberta do Brasil e Biblioteca Municipal de Bom Despacho. Visitação das 9h às 15h. Macaúbas fica na Rodovia MG-20, Km 37,5 (estrada de Santa Luzia para Jaboticatubas).
FONTE: ESTADO DE MINAS



