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Por que está difícil encontrar pessoas para trabalhar em supermercado no Brasil?

Mesmo com o desemprego em níveis historicamente baixos, o setor supermercadista vive um paradoxo que se intensificou nos últimos meses: milhares de vagas seguem abertas em todo o país, enquanto os candidatos simplesmente não aparecem.

Grandes e pequenas redes apontam um cenário de forte escassez de trabalhadores para funções básicas e essenciais, como operador de caixa, repositor, atendente e auxiliares gerais. Para recrutadores, trata-se de um dos períodos mais desafiadores para contratação na última década.

O que mudou? O novo perfil dos trabalhadores

O primeiro ponto que explica o fenômeno é a mudança no comportamento dos jovens que ingressam no mercado de trabalho.

Funções operacionais no varejo, antes vistas como porta de entrada no emprego formal, perderam espaço para atividades mais flexíveis, especialmente aquelas ligadas ao trabalho por aplicativos.

Modelos que oferecem autonomia, escalas ajustáveis e a possibilidade de ganhos variáveis se tornaram mais atraentes do que as rotinas rígidas das lojas físicas.

Escalas que incluem finais de semana, à noite e feriados, antes consideradas padrão, hoje têm menor apelo entre quem prioriza flexibilidade e qualidade de vida.

Salários defasados e baixa valorização afastam candidatos

Outro fator decisivo é a pouca atratividade dos salários operacionais, que não acompanham o custo de vida de muitas regiões.

Diversas funções acumulam tarefas repetitivas e desgastantes ao longo do dia, o que alimenta a percepção de que os cargos oferecem pouco retorno em relação ao esforço exigido.

Essa combinação afasta tanto profissionais experientes quanto jovens em busca do primeiro emprego, que preferem oportunidades com melhor remuneração ou perspectiva mais clara de crescimento.

Erros estratégicos das empresas: imagem ultrapassada e processos antiquados

Especialistas em recrutamento destacam também falhas na imagem empregadora das redes. Em muitos casos, as funções de entrada continuam sendo apresentadas como posições temporárias, sem plano de carreira, sem trilhas de treinamento e sem comunicação clara sobre oportunidades internas.

Os processos seletivos longos e presenciais, pouco digitalizados e com etapas pouco objetivas, desestimulam candidatos que buscam contratações mais rápidas e simples, especialmente em um mercado em que a oferta de trabalho flexível cresce de forma acelerada.

Falta de qualificação básica amplia o problema

Mesmo quando surgem interessados, outro obstáculo aparece: a falta de competências essenciais para o varejo. Habilidades como bom atendimento ao cliente, organização, comunicação e domínio de tecnologia básica (como uso de PDV, aplicativos internos ou sistemas de estoque) estão cada vez mais escassas. Isso faz com que inúmeras vagas permaneçam abertas por semanas ou meses.

Como o setor está reagindo e por que a mudança é urgente

Para tentar reverter esse cenário, supermercados têm investido em novos benefícios, revisão de escalas, programas de qualificação e parcerias com instituições públicas.

Algumas redes passaram a reforçar a ideia de que o varejo oferece carreira sólida, com possibilidade real de ascensão, e não apenas uma ocupação temporária.

A falta de trabalhadores já produz impactos visíveis no serviço: filas maiores, prateleiras sendo repostas mais lentamente e equipes reduzidas aumentam custos e prejudicam a experiência do consumidor.

O futuro das contratações no varejo

Especialistas são unânimes: para competir com as novas modalidades de trabalho, o setor precisará modernizar sua proposta de valor ao colaborador.

Isso inclui salários mais competitivos, jornadas mais inteligentes, ambientes mais acolhedores e processos seletivos rápidos e digitais.

Sem essa transformação, o apagão de mão de obra no varejo tende a se intensificar, mesmo em um país com desemprego baixo.

FONTE: capitalist

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