Com 56.117 acidentes em 2024, a BR 101 lidera com 10.353 ocorrências, e o ranking revela por que alguns trechos viram ameaça diária
As rodovias seguem como peça central do transporte no Brasil, tanto de cargas quanto de passageiros, em um cenário de malha ferroviária limitada para o tamanho do país. Ao mesmo tempo, trechos críticos e infraestrutura precária ainda colocam milhares de pessoas em risco.
Um levantamento da Fundação Dom Cabral mapeou as 10 rodovias federais mais envolvidas em acidentes entre 2018 e 2024, com base em dados de fluxo e registros de ocorrências em trechos com pelo menos mil veículos por dia.
O recorte inclui apenas rodovias federais administradas pela União, identificadas pela sigla BR, privatizadas ou não. A análise considera tanto o volume de acidentes quanto a taxa de severidade, que ajuda a enxergar a gravidade em trechos menores.
O que aconteceu e por que isso chamou atenção
O estudo cruza informações de volume de tráfego e ocorrências registradas, e avalia resultados por biênio no período de 2018 a 2024. A seleção considera apenas trechos com fluxo mínimo de mil veículos por dia, para evitar distorções de áreas quase sem circulação.
Além do número bruto de acidentes, entra em cena a taxa de severidade, já que estradas longas e muito movimentadas tendem a concentrar mais ocorrências. Esse olhar também destaca segmentos menores que podem ter condições viárias degradadas e risco elevado.
O foco fica restrito às rodovias federais, deixando de fora as vias estaduais. Isso ajuda a comparar estradas com padrões de gestão e regras de operação dentro do mesmo grupo.
Rodovias federais com mais acidentes em 2024
A BR 101 aparece como líder em número de ocorrências, com 10.353 acidentes de um total de 56.117 registrados em 2024. Ela é a segunda rodovia federal mais longa do Brasil e liga Nordeste e Sul ao longo do litoral.
A BR 116 surge logo atrás, com 9.692 ocorrências no ano passado. Com 4.660 km, é a maior rodovia federal do país, conectando Ceará ao Rio Grande do Sul e atravessando 10 estados.
Entre os trechos citados como desafiadores na BR 116, está a ligação de São Paulo a Curitiba, marcada por tráfego intenso de caminhões e curvas sinuosas que exigem atenção constante.
Trechos que exigem atenção em BR 381 e BR 364
Na sequência do ranking por volume, a BR 381 aparece com 2.850 acidentes, um número bem abaixo das duas primeiras posições. A rodovia tem 1.181 km e reúne trechos com curvas sinuosas consideradas arriscadas.
Quando o critério muda para gravidade, a lista passa por ajustes. A BR 364 entra no lugar da BR 381 e ganha destaque por cruzar o Brasil do Sudeste ao Norte, com 3.264 km.
O levantamento aponta trechos mal conservados em Rondônia e Acre como os mais perigosos dentro da BR 364, reforçando o peso das condições do pavimento e da geometria da via no risco final.
Como a taxa de severidade muda o ranking
Ao olhar para o nível de gravidade, BR 116 e BR 101 seguem no topo, mas com posições invertidas. A mudança mostra que não basta contar ocorrências, também importa o impacto de cada acidente.
A Taxa de Severidade de Acidentes, conhecida como TSAc, desconsidera o efeito do volume de tráfego. Na prática, isso permite comparar a gravidade real das ocorrências, inclusive em trechos curtos.
Nesse recorte, aparecem rodovias que não figuram no ranking por número de acidentes, como BR 070, BR 343 e BR 470, em posições que incluem sétimo, nono e décimo.
BR 070, BR 343 e BR 470 aparecem quando a gravidade entra na conta
A BR 070, chamada de rodovia Ayrton Senna, começa em Brasília e termina no distrito de Corixa, na fronteira com a Bolívia, seguindo como Ruta 10 após o ponto final.
A BR 343 tem 743 km e liga o litoral do Piauí ao sul do estado, enquanto a BR 470 corta o Sul do Brasil e se estende por cerca de 472 km.
A presença dessas vias no ranking por severidade reforça que trechos menores podem concentrar acidentes mais graves mesmo sem atingir volumes absolutos tão altos quanto as rodovias mais extensas.
Relação entre acidentes e tipo de veículo no período de 2018 a 2024
No recorte de 2018 a 2024, o estudo contabiliza 358.217 ocorrências nas rodovias federais. Desse total, 145.436 envolvem carros, o equivalente a 40,6%.
As motocicletas somam 83.464 ocorrências, ou 23,3%, e os caminhões aparecem com 58.389, o que representa 16,3%. Mesmo com carros liderando em volume, a gravidade muda o entendimento do risco.
Nas ocorrências com feridos, foram 47.897 casos. Os carros concentram 37,6% e as motos vêm logo atrás com 33%, sinalizando maior exposição dos motociclistas quando há vítimas.
Em acidentes com mortes, o total foi de 14.001 casos, com 28,5% em carros, 21,5% em motos e 19,5% em caminhões. A leitura prática é direta: a participação das motos cresce quando o foco é gravidade.
A combinação de alto fluxo, trechos sinuosos e conservação irregular segue como fator de risco relevante em rodovias federais. No fim, a diferença entre um trecho com muitas ocorrências e outro com casos mais graves muda prioridades e exige atenção redobrada de quem pega estrada.





