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NASCER É FATAL: Lafaiete (MG) lamenta a morte prematura de jovem

Vinte e um de setembro, abertura da Primavera e Dia da Árvore – o que pouco significa diante do descontrole imposto às Estações do ano. Eu voltava para casa nessa noite fria e pachorrenta, quando trombei com ele na virada da Duque de Caxias com a Luiz Barbosa Faria – ele subindo, eu descendo. Cumprimentou-me de longe como de hábito: “Sr. Wagner!!!”. Trocamos breves palavras, ele pediu um cigarro e agradeceu com um “Deus te abençoe” que me comoveu. Wanderson era desse jeito: grato ao gesto mais banal, respeitoso, andar gingado, boa prosa e triste; mas não de uma tristeza sem fim pois que sua melancolia e desencanto ante a trágica realidade tiveram ponto final ontem, domingo, no Pronto Socorro.

Só voltei a vê-lo hoje. Nada de cigarro, sem graça, sem palavras. Wanderson, para sempre na horizontal, estava na dele: pernas esticadas, mãos cruzadas, chamuscado de botões de rosas até à cintura, camisa azul-marinho com gola branca e a face adormecida sem demanda de respiração. No chão da capela mortuária, um pires branco com florzinhas pintadas e uma colher de sal. O caixão cor de terra, nas laterais quatro alças douradas, cada uma separando metades de flor de lis. Atrás e acima dele, um Cristo fininho chumbado numa cruz também fininha, cabeça deslocada para a esquerda e uma auréola em prata-ouro que em Minas chamamos de Resplendor. Mas luz mesmo vinha era de quatro círios simulando quatro corpos de cera chorando chamas aos pés do crucificado.

Conforme a estrelinha 13-08-1983 e a cruzinha 28-09-2024 impressas no cartão, Wanderson Ricardo Alves peregrinou por esta terra durante 41 anos. Desses, mais de 20 anos convivi com ele. Nunca me fez mal e não tenho notícias de que tenha feito mal a ninguém. Se fez, fez a si mesmo, mas isso é o imponderável. Quem não faz?

Wanderson Ricardo Alves (41 anos) faleceu neste domingo (29). Seu corpo foi velado no Cemitério Jardim do Éden e sepultado no Cemitério Vale do Ipê. Wanderson nasceu no bairro Rezende, em Conselheiro Lafaiete (MG) e deixa saudades. O Correio de Minas manifesta condolências aos amigos e familiares.

  • Wagner Vieira- poeta e escritor

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