Agressor foi preso preventivamente na quinta-feira (21); ele disse que o vídeo foi gravado com o consentimento da vítima, que é usuária de drogas. Cenas da agressão foram filmadas em frente a um bar em Itaúna, no Centro-Oeste de MG.
O homem de 44 anos que pagou R$ 10 a um homem negro para agredi-lo com um cinto é investigado pelos crimes de racismo e tortura, segundo a Polícia Civil. O vídeo acima mostra agressão, ocorrida por volta do dia 10 de novembro em Itaúna, no Centro-Oeste mineiro.
Após o vídeo circular na internet, o agressor, identificado como José Maria Vilaça, de 44 anos, foi preso preventivamente na quinta-feira (21) e foi encaminhado para o Presídio de Itaúna, onde está à disposição da Justiça. O homem que fez a gravação também foi identificado, mas não foi detido.
A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso e, durante coletiva de imprensa, informou que o agressor tem antecedentes criminais por furto e violência doméstica.
“A princípio, o autor é investigado pelos crimes de racismo e tortura, podendo inicialmente a pena ser superior a 15 anos, mas outros eventos também podem ser apurados diante da complexidade da investigação”, afirmou o delegado Leonardo Moreira Pio.
O delegado Flávio Tadeu Destro, chefe do 7º Departamento de Polícia Civil, disse que o caso foi extremamente marcante e gerou revolta.
“Essa gravação revela uma maldade muito grande por parte do autor. Houve ali uma violência física e psíquica gratuita contra uma pessoa em situação de extrema vulnerabilidade. Com a investigação, vamos buscar a responsabilização devida do agressor”.
Agressão filmada
Em entrevista à TV Globo, José disse que o vídeo foi gravado há cerca de 15 dias com o consentimento do homem agredido. Afirmou ainda que ambos são usuários de drogas e que, naquele dia, os dois haviam consumido entorpecentes.
“Eu tava numa resenha. Foi uma brincadeira. O problema foi o vídeo ter viralizado no dia de Zumbi de Palmares. Agora tá essa burocracia toda. Foi uma resenha. Eu vou provar que não passou de uma resenha. Peço desculpas a todos os brasileiros, paraminenses e itaunenses também”, completou.
Inicialmente, a vítima, Djalma Rosa da Costa, de 45 anos, foi identificada pela Polícia Militar (PM) como uma pessoa em situação de rua e, segundo o próprio agressor, dependente de drogas.
Porém, a Prefeitura de Itaúna informou que Djalma não é morador de rua. Ele tem casa e familiares e faz acompanhamento para dependência química no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) desde 1995.
Ainda segundo a Prefeitura, na quinta-feira, Djalma foi até o Caps e se mostrou bem, foi acolhido e recebeu assistência dos profissionais.
Segundo o advogado Maciel Lúcio, da Comissão de Igualdade e Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Divinópolis, o caso é grave.
“É inadmissível que ainda enfrentemos situações como essa em pleno século XXI. É um verdadeiro retrocesso. Não por acaso, tivemos o primeiro feriado em celebração ao Dia da Consciência Negra, pois ainda há quem precise ser educado sobre esse assunto”.
Ponto a ponto do vídeo
- O agressor se apresenta dizendo: “Pará de Minas e região, aqui é o ‘Deus é mais’, esse ano é ‘Deus me livre’”.
- Durante a gravação, ele faz comentários desconexos, enquanto a vítima aparece ao fundo, sem camisa.
- O agressor continua com falas confusas, misturando temas como as últimas eleições dos EUA, Lula e Bolsonaro.
- Em seguida, ele começa a tirar o cinto da calça, afirmando: “Vamos fazer diferente, ele quer usar droga, não quer trabalhar não?”.
- Na sequência, o agressor diz: “Dez reais e ele vai deixar eu dar duas lapadas e o patrocínio é o Bar do Sandoval”.
- Depois, já com o cinto nas mãos, com a justificativa de que daria R$ 10 para que a vítima comprasse drogas, ele agride Djalma com três golpes e ainda pede a confirmação de quem segura o celular: “Tá gravando?”.
- Enquanto a vítima é agredida, é possível escutar a risada de uma pessoa.
- Após açoitar o homem, o agressor finaliza o vídeo dizendo: “Deus é mais”.
FONTE G1