×

Símbolo da alegria e humildade cativantes, Lafaiete (MG) perde a figura popular e carismática de “Deide”; leia homenagem do escritor Paulo Antunes; “um anjo, um menino”

Morreu na madrugada desta segunda-feira, 30/12, em Conselheiro Lafaiete, o ex-integrante da antiga Escola de Samba Os Infernais, Roberto Alves Ferreira. Segundo parentes, “Deivid” como era conhecido, tinha 62 anos e faleceu após realizar uma cirurgia. Deivid era muito conhecido em Conselheiro Lafaiete por acompanhar velórios realizados nas proximidades do Cemitério Nossa Senhora da Conceição. A família agradece a equipe de profissionais da UPA e do Hospital e Maternidade São José pelo atendimento prestado.

O corpo de Roberto Alves Ferreira, o “Deivid” está sendo velado nesta segunda-feira no Velório Sagrado Coração de Jesus. O sepultamento será às 14h, no Cemitério Nossa Senhora da Conceição.

A morte gerou comoção geral na cidade e nas redes sociais comovendo a população lafaietense. Deivid era uma figura amada, de um coração generoso, alegria contagiante e figura popular. o Céu está em festa. Vá com Deus.

Crônica

Deide, anjo que criou sua própria felicidade

Paulo Antunes

Deide, o Roberto, morador da alameda 2 de Novembro que dá acesso ao Cemitério Paroquial Nossa Senhora da Conceição, área central de Lafaiete-MG, não será mais visto nas praças e ruas da cidade, caminhando, participando das festas, catando latinhas, tecendo seu mundo muito próprio e pouco entendido por nós. Seu bater de palmas pouco sonoro e riso abafado não mais irá trazer alegria às horizontalidades e curvas de nosso espaço urbano.

Anjo em forma de humano, desde cedo rompeu com suas limitações físicas e foi à luta para viver sua vida de ser racional comum; existência inundada de um sem limite corajoso e exemplar. Herói, com letra maiúscula, desafiou a lei da gravidade, os olhos enviesados de alguns, a intolerância, a falta de empatia… E com o peito aberto ao desafio se impôs, até porque tinha uma legião de fãs que o admiravam e dele cuidavam à distância, com discreto afeto como convém aos especiais, aos de uma decência solar…

Misto de menino e homem, se aventurou a somente se ser, com plenitude, no meio de tantos outros seres, e teve como presente a admiração de muitos. Era perfeito na sua incompletude, na sua dignidade florida – e às vezes ferida –, na sua peculiar maneira de mostrar ao mundo quem era e por que fazia questão de estar aqui, cumprindo uma missão cheia de luz, tanta luz que nos cegou a todos e muitas vezes nos fez perder a compreensão de que compreender o outro é um dos atos mais dignos da humanidade.

Vá dançar sua valsa, moço quieto e observador, vá sambar nas esferas do que está fora de nossa órbita, vá persistir se sendo como a si próprio foi, construindo sua identidade inusitada, iluminada. Vá ser fogueira para aquecer outros mundos… E mantenha essa sua paz, paz que a nós todos nos falta; paz que só você e os de coração do tamanho do seu são capazes de guardar e distribuir – como a água distribui a vida, o ar afaga os pulmões, o fogo aquece as singularidades, a terra abriga o bem e o mal nosso.

E que muitos outros e tantos Deides continuem a vir ao mundo para serem felizes e nos mostrar o quanto somos quebrados e carentes de amor próprio.

Receba Notícias Em Seu Celular

Quero receber notícias no whatsapp