Uma notícia mais que alentadora e alvissareira, digna de aplausos, para a preservação do patrimônio histórico de Minas e do Brasil. A Gerdau, através de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em setembro de 2022, vai restaurar e revitalizar de forma integral as ruínas do Sítio da Varginha do Lourenço, situado na Estrada Real, no Caminho Novo, entre Lafaiete e Ouro Branco, abrangendo seus aspectos arqueológicos, estruturais, arquitetônicos, ambientais, paisagísticos e artístico. A previsão de conclusão das obras é 3 anos a partir da assinatura do acordo. Ação de restauro da Estalagem da Varginha foi proposta pelo Ministério Público, através do Promotor Glauco Peregrino, há mais de 8 anos na Justiça.
O TAC prevê a elaboração de um plano diretor e a definição de espaços e estruturas a serem implantados visando à visitação pública do local e às ações de interesse turístico e educacional, como também a implementação da virtualização do espaço revitalizado do Sítio da Varginha do Lourenço, por meios que permitam o livre acesso democrático ao patrimônio cultural.
Em outra cláusula do acordo, através de profissionais nas áreas de entomologia, fitopatologia, genética para a preservação da Gameleira (Ficus lagoensis), situada na área tombada do Sítio da Varginha do Lourenço, com a proposta de medidas para garantir a integridade física da árvore. Neste item, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) reproduziu de forma assexuada, com uso de tecnologia, ao menos 10 mudas da árvore centenária, que ainda sobrevive no local, segundo consta, com mais de 300 anos.
Toda a flora vai compor a paisagem natural como também a instalação de marcos georreferenciados da área delimitada de interesse arqueológico e ambiental como também uma de uma sinalização da existência e divulgação do bem cultural.
A Gerdau informou a nossa reportagem que as ações de revitalização do sítio arqueológico vêm sendo executadas conforme previsões do TAC. Quando finalizado, o projeto passará pelos crivos da Prefeitura Municipal, hoje detentora da área, e Ordem dos Cavaleiros da Inconfidência Mineira, ex- gestora do bem tombado a nível estadual em 21 de abril de 1989.
A Agencia de Desenvolvimento Econômico e Social dos Inconfidentes e Alto Paraopeba – ADESIAP, entidade de direito privado sem fins lucrativos, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), será a responsável pela contratação dos profissionais e de empresas especializadas para levar a cabo restauro e revitalização.
Um pouco da história
Cinco clones gameleira, reproduzidos pela UFV, serão plantados após o restauro do patrimônio mineiro e será acrescido com uma placa de identificação das mudas com a seguintes dizeres: “Este clone foi obtido através da reprodução assexuada da gameleira situada no Sítio da Varginha do Lourenço, árvore sob a qual repousou uma das pernas do Alferes Tiradentes após sua execução por ocasião da Inconfidência Mineira”;
O Sítio da Varginha situada no km 2 da rodovia MG-129, entre os municípios de Conselheiro Lafaiete e Ouro Branco. No local, por onde passava a Estrada Real, no Caminho Novo, foi inaugurado em 21 de abril de 1989, em reverência ao bicentenário da Inconfidência Mineira.
Há também uma árvore (Ficus lagoensis) conhecida popularmente como gameleira, com idade estimada em mais de 300 anos, localizada quase em frente às ruínas da estalagem da Varginha do Lourenço. O conjunto reúne as ruínas da antiga edificação denominada estalagem da Varginha. Em 1788, a Estalagem foi palco de encontros de alguns dos inconfidentes que planejavam a independência do Brasil.
Sob a frondosa sombra desta gameleira que o alferes Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes) fazia suas pregações e manifestava o sonho de fazer uma fábrica de ferro. Sonho que anos mais tarde foi realizado com a construção da Açominas.
Em 15 de maio de 1792, foi ali depositada parte do corpo do mártir Tiradentes, que teve seu corpo esquartejado e seu quarto direito inferior pendurado e exposto na gameleira, como forma de intimidar os inconfidentes que planejavam a independência do Brasil.
Antigo distrito de Ouro Preto, o município de Ouro Branco tornou-se autônomo em 1953 e ainda guarda bens históricos provenientes do século XVIII. Embora marcada por vários ciclos econômicos ao longo de sua história, atualmente a sua atividade preponderante é a industrial, a qual se iniciou com a instalação da então empresa estatal Aço Minas Gerais S.A. em 1976, atual Gerdau Açominas S.A, que inaugurou o denominado ciclo do aço.
Segundo estudos a construção da Estalagem da Varginha, centro da conspiração do Movimento Revolucionário de 1782, foi erguida por Lourenço Fernando Cariano, Português do Arquipélago de Açores, em 5 de fevereiro de 1759, que obteve a formação da Sesmaria na localidade de Varginha, situada pelos escritos antigos a meia légua de terra da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos Carijós, hoje Conselheiro Lafaiete, então pertencente a Vila Rica.
Ali ocorreram episódios da insurreição planejada em Minas entre 1788 a 1798 cuja motivação principal foi descontentamento de cobranças de impostos de Portugal, em especial a pretensão da derrama, imposto correspondente ao ouro não arrecadado pelas Câmaras Municipais para completar as 25 arrobas anuais devidas a Corroa.
Em 2009, a posse do local foi transferida da Gerdau para a Ordem do Cavaleiros da Inconfidência Mineira e há cerca de 3 anos foi repassada a prefeitura para o restauro.