Zulmar Antônio produz obras de arte sacra na fazenda em que mora com a família em Patos de Minas. Das dobras da roupas à pintura das peças, ele executa cada passo da escultura com perfeição.
Se os olhos de Zulmar Antônio não conseguem mais enxergar as peças de madeira que esculpe, o mesmo não se pode dizer da ponta dos dedos. É apenas usando o tato que o artesão de Patos de Minas faz esculturas de imagens sacras na fazenda em que mora com a família.
Seu Zulmar tem retinose pigmentar, uma doença hereditária que causa perda gradativa da visão. Ele percebe apenas variações na luminosidade dos ambientes, mas não consegue distinguir formas.
“Eu não dou um passo sem uma bengala. E eu trabalho na serra, na prancha, e não tenho um risco ou arranhão na mão”, conta.
Zulmar Antônio foi personagem de um dos episódios do programa Tô Indo, da TV Integração. Assista aqui.
Quando aprendeu a esculpir, Zulmar ainda tinha parte da visão, mas aos poucos o sentido foi se perdendo. Ele começou a manipular madeira ainda criança, quando trabalhava com o tio dele em um antiquário e passou a produzir móveis.
“Andando peças roças e procurando coisas antigas, eu via os carpinteiros trabalhando e aprendi sozinho, só pela observação”, contou.
O artesanato não foi a única profissão que Zulmar já exerceu. Ao longo da vida, ele engraxou sapatos, vendeu picolés, jornal e garrafas e foi até servente de pedreiro para ajudar a família.
Com o passar do tempo, ele se especializou na arte das esculturas sacras. Mesmo sem poder enxergar as ferramentas afiadas que utiliza, o artesão impressiona pela riqueza de detalhes, desde as dobras das roupas dos santos até a pintura das peças, que ele também faz.
“Por eu já ter feito tantas artes sacras, eu conheço o santo pela roupa dele. É no detalhe, na paciência”, explica.
E não é apenas a perfeição das esculturas que pode surpreender. Dentro de algumas obras de arte, ele esconde mensagens que escreveu a próprio punho para serem encontradas pelos compradores das esculturas.
“Não sei se elas ficam 100 anos, 200 anos, lá dentro. Um dia alguém vai descobrir o que está escrito, tem algumas que nem eu me lembro o que escrevi”.
Com tranquilidade, fé e paixão pelo que faz, Zulmar conquista cada vez mais admiradores na região. E para quem se impressiona com a incrível habilidade do artesão, ele oferece a resposta na ponta da língua.
“Os olhos estão na mão e no coração.”
FONTE G1