Por João Vicente
O tradicional e centenário Zé Pereira de Piranga, fundado em 1918, se despede da folia na noite desta sexta-feira (28), abrindo oficialmente o CarnaPiranga 2025. Manda a tradição que, na última sexta-feira que antecede o Carnaval, seja realizado o simbólico enterro do Zé Pereira, no qual foliões de todas as idades desfilam ao som da marcha fúnebre, carregando o caixão até a ponte. Lá, ele é jogado no rio Piranga. A partir desse momento, os foliões retornam à praça, pulando e cantando ao som das antigas marchinhas abrindo, oficialmente um dos festejos carnavalesco mais tradicionais do interior de Minas.
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No meu tempo, havia algumas diferenças no Zé Pereira em relação ao de hoje. Atualmente, três blocos de bairros da cidade desfilam na praça principal nas quartas, quintas e sextas-feiras. No passado, era um só bloco; depois, dividiu-se em Parte de Cima e Parte de Baixo. A partir de 1964, surgiu PEC x NEC, confronto que durou até 1993. Em 1994, houve uma união entre Rosário/Vila versus Praia/Copasa e Rua Nova. A partir de 2000, apenas a Vila desfilava. Mais recentemente, a Parte de Baixo uniu Praia e Rua Nova, enquanto, na Parte Alta, o Bloco Quebra se juntou ao Bloco da Vila/Rosário. Desde o dia 5/2, esses blocos desfilam nas quartas, quintas e sextas-feiras ao longo das quatro semanas que antecedem a abertura oficial do Carnaval, que será hoje, dia 28/2.
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Quem corria atrás da criançada naquela época eram dois capetas grandalhões, vestidos com seus garfos de madeira (sem ponta, é claro). Às vezes, eles davam leves cutucadas nos moleques, que adoravam puxar o rabo dos velozes rabudos, os guardiões do Zé Pereira. Hoje, no lugar deles, o Bumba Meu Boi faz a festa da criançada e dos adolescentes. Lembro que o caixão era feito de madeira, com as laterais cobertas por folhas de papel crepom vermelho, acompanhadas de lanternas, também de crepom vermelho, com velas acesas em cada uma. Eu só sei que era muito sinistro o cortejo naquela época, nas décadas de 60 e 70. Outra coisa que tenho percebido é que a marchinha mais famosa do Pereira que me marcou, ” Tô com o diabo” não é mais cantada.
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Letra da marchinha ” Hoje eu me acabo”
Tô,tô,tó,
tô com o diabo,
Eu hoje me acabo,
Lá no inferno é fogo,
Aqui sou mais feliz,
Tô vendo diabo de saia,
Botando fogo pelo nariz.
https://www.letras.mus.br/marchinhas-de-carnaval/1868176
Por fim, o Zé Pereira é uma tradição que recria um ambiente de festa e humor, onde todos se reúnem para celebrar a cultura local de forma democrática e criativa. Além de ser uma forma de entretenimento, essa festividade carrega significados históricos e sociais, refletindo as tradições populares e a história da região.
O Carnaval de Piranga, com seu famoso enterro do Zé Pereira, continua sendo um momento de confraternização, festa e celebração das raízes culturais do povo piranguense. Parabéns aos organizadores, aos foliões dos blocos Zé Pereira do Quebra, da Praia e da Vila do Carmo, e à Secult de Piranga pelo apoio a essa tradição, que completa 107 anos de alegria e história.
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O maravilhoso coreto secular de Piranga Ao fundo, o Casarão do Sr. Celso Peixoto, camarote privado onde com minha família presenciamos a riqueza do cultural do bloco Zé Pereira em 2025.
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Registro ainda, o privilégio e o prazer de assistir aos blocos do ZP de camarote, ao lado da minha família, no casarão do senhor Celso Peixoto, produtor rural da cachaça Vale do Piranga, ex-prefeito, figura fantástica de 91 anos e nosso amigo de coração e fé.
Um bom Carnaval a todas as tribos. Curtem com sabedoria alegria e paz. Agora, como diz os camaradas da Bahia, se for comer água é melhor não dirigir.